sexta-feira, abril 14, 2017

Complexo penitenciário em PE tem celas com paredes de gesso, afirmam delatores da Odebrecht

Depoimentos apontam que paredes de drywall estavam entre problemas do complexo em Itaquitinga. Obra não tinha participação da Odebrecht, mas teria recebido dinheiro da empreiteira (Foto: Bancada de Oposição Alepe/Divulgação)

As obras do Centro Integrado de Ressocialização, em Itaquitinga, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, são citadas em depoimentos prestados por delatores durante as investigações da Operação Lava-Jato e enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF) para o ministro Edson Fachin. A petição número 6.706 traz relatos sobre problemas nas obras, incluindo a existência de paredes de celas com drywall, material menos rígido que a parede convencional.

Os delatores Marcelo Bahia Odebrecht, Fernando Luiz Ayres da Cunha Santos Reis e Benedicto Barbosa da Silva Júnior apontam que o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto num acidente de avião em 2014, solicitou apoio financeiro para concluir as obras do presídio, por meio da DAG Construtora Ltda. Houve, ainda, solicitação de pagamento para a campanha do ex-governador à presidência.

Em depoimento, Fernando Reis disse que as empresas Advance Construções e Participações Ltda. e a Socializa Empreendimentos e Serviços de manutenção Ltda. ganharam a licitação para construir o presídio em 2009. Ele ainda afirmou que as empresas construíram celas com paredes de drywall.

Em 2012, o ex-governador teria pedido para que Marcelo Odebrecht resolvesse o problema da unidade prisional, que estava demorando a ser entregue. Eduardo Campos teria dito que o presídio era importante para a imagem dele no governo.

Entretanto, sem especificar o motivo, o delator informou que a Odebrecht não podia entrar na obra. Como solução, a empresa começou a mandar dinheiro para uma construtora baiana, a DAG, para terminar o presídio. O dinheiro era repassado via uma conta no exterior. De acordo com Marcelo Odebrecht, a DAG, que assumiu a construção do presídio, era uma espécie de empresa laranja da Odebrecht.

Em 2013, já com a DAG à frente da obra, Marcelo Odebrecht teria pedido para Fernando Reis descobrir porque a construção ainda não tinha sido entregue. A previsão inicial da empresa era gastar R$ 10 milhões. Contudo, a Odebrecht já tinha repassado R$ 50 milhões para a DAG.

Segundo Marcelo Odebrecht, o que se imaginava ser um problema só na obra era bem pior. Ele chega a dizer que encontraram questões “cabulosas”, ao exemplificar que a concessão pegou um empréstimo com o Banco do Nordeste e, um mês depois, distribuiu o valor como dividendos.

Em meio a todo esse imbróglio, Fernando relata um jantar ocorrido três semanas antes do acidente que vitimou o ex-governador. Na ocasião, Marcelo Odebrecht teria dito que não doaria dinheiro para a campanha de Eduardo Campos por considerar que o gasto no presídio já tinha sido uma contribuição.

O G1 entrou em contato com o gabinete de Projetos Estratégicos do Estado (Gape), responsável por monitorar as obras de Itaquitinga, e aguarda resposta. Na quarta (12), o Governo de Pernambuco havia informado que só se pronunciaria quando fosse notificado oficialmente. O G1 tentou, sem sucesso, contato com a DAG, Advance e Socializa.

G1 PE

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