quinta-feira, abril 06, 2017

Bestas humanas tentam linchar casal após boato de sequestro em WhatsApp e polícia investiga origem da mensagem

A viatura da Guarda Municipal também teve o vidro quebrado e um policial ficou ferido ao resgatar o casal ameaçado por cerca de 200 pessoas. Veículo de vítima foi incendiado (Reprodução/Inter TV)

A Polícia Civil busca os responsáveis por iniciar o boato no WhatsApp que levou à tentativa de linchamento de um homem e de uma mulher nesta quarta-feira (5) em Araruama, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. Segundo Luiz Henrique Marques, titular da 118ª Delegacia, áudios, fotos e vídeos serão usados para tentar identificar quem começou a espalhar a informação falsa.

O caso aconteceu depois que boatos de que uma criança teria sido sequestrada circularam no aplicativo de mensagens. As vítimas foram hostilizadas e agredidas dentro de um carro por uma multidão, que cercou o veículo. O homem e a mulher só foram retirados após a intervenção da Guarda Civil. Uma mulher ainda ateou fogo no veículo vazio. Ela foi presa em flagrante por dano qualificado, segundo a Polícia Civil. O motorista, Luiz Aurélio de Paula, que sofreu ferimentos no rosto, disse que pensou que fosse morrer.

O delegado cogita a possibilidade de acionamento da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática. Segundo Luiz Henrique Marques, os vídeos que mostram a tentativa de linchamento serão usados para tentar identificar quem começou a agressão física. De acordo com a Polícia Militar, cerca de 200 pessoas participaram do ato no bairro Mutirão; a agressão durou 40 minutos, e o homem e a mulher tiveram escoriações no rosto.As fotos do carro branco e áudios foram compartilhados pela população local. Em um dos relatos, um homem afirma ser pai de uma criança vítima do casal. Na mensagem ele diz que é para as pessoas tomarem cuidado porque o homem e a mulher estavam abordando crianças e tentando levá-las para dentro do carro.

O motorista do veículo cuja foto circulou pelo aplicativo, Luiz Aurélio de Paula, disse que tentou se explicar para a população revoltada, antes que as agressões começassem. Ele relatou que um grupo invadiu o carro. Para tentar se defender, ele dirigiu até uma padaria para tentar provar aos moradores que estava trabalhando como vendedor. Apesar das explicações, as agressões tiveram início e o número de agressores foi crescendo. De acordo com a Guarda Civil e a PM, cerca de 200 pessoas se aglomeraram em volta do carro e atuaram no crime.

O caso aconteceu no bairro Mutirão. Os moradores quebraram partes do carro e tentaram virá-lo. O tumulto só terminou com a chegada das viaturas. Depois que o homem e a mulher foram resgatados, uma mulher que estava no meio da confusão ateou fogo no carro vazio. Ele foi detida e levada para a 118ª Delegacia de Polícia.

"Um monte de homem me abordaram, eu pensei que fosse um assalto. Aí eu tentei justificar pra eles que eu estava vendendo iogurte, queijo e linguiça aqui em Araruama. Não me deram atenção [...] Me empurraram pra dentro do carro, eu não deixei eles dirigirem o carro, eles mandaram entrar pra uma rua e eu entrei. Falei 'vamo lá na padaria que vocês vão ver que eu tô trabalhando'. O pessoal da padaria me identificou e disse que trabalhava comigo".

Luiz conta que ainda tentou defender a mulher que estava no carro, mas não conseguiu.

"Me empurraram pra fora da padaria me agredindo, pegaram a pessoa que tava dentro do carro e bateram nela. Eu tentei defender a pessoa, eles montaram em cima de mim... jogaram uma pedra em mim. Aí eu tentei me defender de todas as formas. Quando e vi que soltaram a pessoa que tava no carro, eu corri pra dentro da padaria pedindo socorro. Aí o pessoal da padaria ligou pra polícia pedindo socorro", disse.

A viatura da Guarda Municipal também teve o vidro quebrado e um policial ficou ferido. Um dos guardas contou como tudo aconteceu.

"A gente defendeu o senhor, até porque, era só suspeita, não tinha nenhuma acusação. O clima lá tava de ódio. Tavam querendo pegar o casal para fazer um linchamento. Provavelmente ia acontecer um homicídio lá, eles iam matar o casal. Era um clima muito de ódio", explica Alex Silvestre, subcomandante da Guarda Municipal em Araruama.

A vítima, emocionada, falou sobre a atitude tomada pela população por conta de um boato.

"Tinha umas mil pessoas do lado de fora falando que iam me matar por causa desse WhatsApp, que tá incriminando as pessoas e matando as pessoas sem ter culpa. Eu tô morto de vergonha da minha esposa, da minha família, por estar passando uma situação dessa. Tentaram matar um homem trabalhador. O pessoal queria me linchar a troco de quê? Eu não fiz nada de errado. Eu simplesmente tô trabalhando... trabalhando honestamente e ser abordado por homens desconhecidos e ser detonado na sociedade, nas redes sociais a troco de quê? Eu pensei que ia morrer porque tinha muita gente invadindo, querendo invadir a padaria", desabafou.

O caso foi registrado na 118ª Delegacia de Polícia e a Polícia Civil ainda não disse ao G1 quais serão as medidas tomadas quanto aos autores do boato.

G1 Região dos Lagos RJ

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