Nutricionista alerta: restrições alimentares indiscriminadas podem colocar a saúde em risco
Nas últimas semanas, um estudo realizado pelo Departamento de Nutrição da Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard repercutiu na mídia mundial com dados que mostram uma associação positiva entre dieta gluten-free e o desenvolvimento de diabetes tipo 2. Mas qual a relação existente entre o nutriente e a doença?
Inicialmente, é preciso entender o que é o glúten e se há alguma contraindicação para o seu consumo. Trata-se de uma proteína encontrada nos grãos de trigo, cevada e centeio, e consequentemente em seus derivados, como pães, massas, biscoitos, bolos e até mesmo na cerveja. Cerca de 1% da população mundial é portadora de Doença Celíaca, uma reação imunológica à sua ingestão, e em hipótese alguma pode consumir produtos que o contenham; cientificamente não há nenhuma comprovação dos benefícios da exclusão para indivíduos saudáveis.
“Muitas pessoas aderiram ao modismo de banir o glúten da dieta sem prescrição médica, devido a esta forte tendência de medicalização dos alimentos. Mas esta restrição pode trazer graves riscos à saúde”, alerta Beatriz Botéquio, consultora em nutrição da Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (ABIMAPI).
A análise feita em Harvard, que compilou informações declaradas por cerca de duzentas mil pessoas durante 30 anos, mostrou que 15.942 participantes que adotaram uma dieta gluten-free desenvolveram diabetes tipo 2. A conclusão dos pesquisadores é que está mais predisposto a ter a doença quem consume menos do que 4g da proteína por dia.
Para facilitar a interpretação, Beatriz esclarece que não existe uma tabela oficial sobre quantidade de glúten nos alimentos, mas é possível ter uma noção desta quantificação com a farinha de trigo: “Estima-se que 80% das proteínas do trigo formam glúten [gliadina e glutenina]. Então, 100g de farinha tem, em média, 7g do nutriente”.
A nutricionista explica que ao excluir o glúten da dieta, normalmente há uma substituição dos grãos/cereais integrais por polvilho ou farinhas de tapioca e de arroz, aumentando a quantidade de carboidratos de alto índice glicêmico (elevação rápida do açúcar no sangue) e pobres em fibras. “É provável que não seja necessariamente a quantidade de glúten, mas sim a ausência das fibras [que é amplamente conhecida por controlar a absorção do açúcar no sangue] que propicia o desenvolvimento do diabetes”, diz.
Os alimentos integrais, inclusive, são amplamente estudados pela ciência e têm seus benefícios confirmados para a prevenção e tratamento de doenças crônicas. “Um estudo de 2016, publicado na Revista British Medical Association, mostrou que o consumo regular de grãos integrais está associado a um menor risco de desenvolvimento de câncer, diabetes e doença cardiovascular. Daí a importância de manter o consumo de pães, biscoitos, bolos e massas nas versões integrais com maior frequência” pontua a especialista.
Beatriz Botéquio ressalta que estas pesquisas levantam pontos importantes e comprovam que restrições sem indicação médica, além de desnecessárias, podem trazer prejuízos sérios à saúde. “Ninguém precisa abrir mão dos carboidratos e/ou do glúten para ser saudável. O importante é manter uma alimentação equilibrada com todos os grupos alimentares, em quantidade adequada e de preferência na versão integral”, finaliza.
TREE COMUNICAÇÃO
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