Subiu para cinco o número de mortos em rebelião deflagrada na madrugada deste domingo na Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, em Manaus. A informação foi confirmada pelo presidente da comissão dos Diretores Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-AM), Epitácio Almeida. Anteriormente, havia sido divulgado a morte de quatro detentos. Em recontagem dos presos após o motim, já controlado, os policiais ainda constataram que cinco criminosos estão desaparecidos.
- Houve um conflito e, infelizmente, tivemos uma noite difícil onde tivemos a morte de mais cinco detentos. Três deles foram decapitados, um havia morrido por asfixia por estar preso dentro da cela que eles atearam fogo e dois foram encaminhados para o hospital, dos quais um veio a óbito - declarou Almeida.
Segundo ele, não se tem notícias se os desaparecidos escaparam da prisão ou foram mortos.
- Não temos informações se eles fugiram ou se estão mortos e eles esconderam os corpos em algum lugar dentro da cadeia - destacou.
Com a atualização dos números, subiu para 65 o número de presos mortos no massacre do sistema prisional do Amazonas somente neste ano.
Três corpos, já em estado de decomposição, também foram encontrados neste domingo em mata localizada atrás do Complexo Penitenciário Anisio Jobim (Compaj), em Manaus (AM), onde pelo menos 56 presos foram mortos em rebelião. Ainda não há informações se os corpos são de internos que tenham sido mortos no massacre.
Os prisioneiros da Cadeia Pública Raimundo Vidal Pessoa, no Centro de Manaus, foram para lá transferidos após a chacina.
O secretário de Administração Penitenciária do Amazonas (Seap), Pedro Florêncio, confirmou os números e disse que, do total de mortes desta madrugada na Cadeia Pública, três foram por decapitação.
- O Instituto Médico-Legal fez a remoção dos corpos de dentro da cadeia. Três deles foram decapitados - disse Florêncio.
Questionado sobre o motivo da rebelião, Pedro Florêncio disse desconhecer o motivo e descartou a possibilidade de uma nova briga entre facções.
- Não há motivos aparentes para o que ocasionou isso. Eles são todos iguais. Tem alguns que se dizem do PCC, mas são todos iguais. Na sexta, eles fizeram um motim querendo mais espaço. Demos o espaço para eles, ficaram com mais um pavilhão. Então não sei por quê eles fizeram isso. Não foi briga de facção - enfatizou.
Na sexta-feira, houve tumulto no local. Os internos reclamaram da estrutura, que abriga mais de 200 presos.
Florêncio disse ainda que, por volta das 6h, logo após o Instituto Médico-Legal fazer a remoção dos corpos, a situação estava sob controle:
- Por volta de 2h30 o batalhão chegou ao local, pois tínhamos a informação de que havia mortos dentro do presídio. Às 6h, tudo já estava normalizado e sob controle.
Familiares dos internos relatam que a rebelião começou por volta de 2h e que às 5h duas viaturas do IML chegaram à cadeia para fazer a remoção dos corpos.
- O secretário esteve aqui no local e o IML também. Não passaram nenhuma informação pra gente - disse um dos parentes que preferiu não se identificar.
TUMULTO EM FRENTE A PRESÍDIO
Tão logo o Comando de Policiamento Especializado (CPE), do Batalhão de Choque da Polícia Militar, entrou na cadeia, os parentes dos detentos iniciaram um tumulto, gritando e batendo nas grades. Os policiais revidaram a ação jogando spray de pimenta nos manifestantes. Exaltados, os familiares mais revoltados começaram a queimar colchões e pedaços de madeiras.
Após a polícia apagar o fogo, familiares bloquearam a via da frente do presídio pedindo a saída do governador José Melo. "Fora Melo" e "Melo safado" foram alguns dos gritos.
CADEIA ESTAVA DESATIVADA
A cadeia, que tem mais de 100 anos, estava desativada desde outubro do ano passado por recomendação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por falta de condições para receber os presos. Foi reaberta na segunda-feira para a acomodação de detentos ameaçados de morte pela facção Família do Norte (FDN). A medida foi adotada de modo emergencial.
As condições precárias do prédio foram apontadas em relatório CNJ e entregue ao Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) e órgãos estaduais em julho de 2014. A recomendação para não receber novos presos não foi atendida e a unidade, que fica na Avenida Sete de Setembro, seguiu em funcionamento até 11 de outubro de 2016.
POR ALÍRIO LUCAS, ESPECIAL PARA O GLOBO
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