Tendo na uva sua principal aposta, 256 famílias do Assentamento Marrecas já contabilizam 2,3 mil toneladas anuais de alimentos produzidas em 154 hectares (Foto: Divulgação/Codevasf)
Há quase 30 anos, dona Maria de Lourdes Pereira chegava com a família ao Assentamento Marrecas, a 31 quilômetros da sede do município de São João do Piauí e a 500 quilômetros da capital Teresina. Na época, como ela lembra, enfrentaram muitas dificuldades, mas hoje, graças ao plantio de frutas numa incipiente área irrigada, sobretudo a uva, a vida mudou para melhor.
“A gente morava debaixo de lona, vi meus três filhos passarem necessidade, e hoje me orgulho da nossa história. Uma das minhas filhas estuda Direito em universidade federal; a outra virou técnica agropecuária. Tenho três casas na cidade, além de um terreno, e comprei um carro à vista. Tudo fruto do nosso trabalho na região”, conta, emocionada.
Além de uva – nas variedades Benitaka, Brasil e Itália Melhorada –, cultivada numa área de 0,7 hectares dos 6 hectares totais dedicados à fruta no projeto, a agricultora produz também goiaba, melancia e feijão.
Como alternativa de renda para as famílias, sobretudo a partir da mão de obra das mulheres que residem no assentamento, dona Maria de Lourdes destaca a Agroindústria de Frutas do Assentamento Marrecas (APFrutas), sediada em São João do Piauí e criada em 2012 com o apoio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) - que, além de construir a unidade, estruturou-a com máquinas, equipamentos, utensílios e móveis. Da pequena fábrica saem delícias feitas de frutas, como polpas, geleias, doces e bolos.
“Como mulher atuando na roça, sofri muita discriminação no início, mas consegui vencer com trabalho. A agroindústria surgiu a partir da iniciativa das mulheres e hoje reúne de 10 a 12 associadas. Transformamos a fruta e agregamos valor. Vendemos a produção no comércio local, em feiras livres, para a Conab e passaremos a comercializar para a prefeitura também. A nossa produção ainda é pequena, mas estamos, inclusive, fazendo um estudo de viabilidade econômica pra ampliar nosso mercado”, revela a produtora.
Fruticultura irrigada
O Projeto de Irrigação Comunitária de Marrecas conta, atualmente, com 256 famílias assentadas e cerca de 154 hectares irrigados. Parte deles é dedicada à fruticultura irrigada, tipo microaspersão, com manejo de culturas como goiaba, uva e mamão; outra parte tem irrigação por aspersão fixa, onde são cultivadas culturas de ciclo temporário, como feijão, milho, mandioca, melancia e abóbora.
A produção já ultrapassa as 2,3 mil toneladas anuais de alimento, com destaque para milho verde (390 toneladas ao ano), macaxeira (340 toneladas), melancia (328 toneladas) e goiaba (310 toneladas). Os dados são da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Piauí (Emater/PI), que acompanha os produtores.
Um terço da produção é comercializada por meio dos programas de compras públicas do Governo Federal, como os de merenda escolar e das centrais de abastecimento. O restante é vendido no mercado municipal de São João do Piauí, em hotéis, mercearias, e ainda em municípios vizinhos, como Canto do Buriti e Simplício Mendes.
Festival da Uva
A produção de uva, 230 toneladas anuais, é a principal aposta do projeto, como explica o gerente regional de empreendimentos de irrigação da Codevasf no Piauí, Maximiliano Saraiva. “As variedades cultivadas são Benitaka, Brasil e Itália Melhorada, com uma produtividade média de 27 toneladas, sendo possível obter até duas safras ano. A área é conduzida com manejo escalonado por um grupo de 12 famílias, de forma a ter uva durante a maior parte do ano, atendendo, assim, o seu mercado consumidor”, observa.
O impacto positivo da atividade frutícola – com destaque para a uva – no assentamento foi tão significativo que, desde o ano de 2010, é realizado, no município de São João do Piauí, o Festival da Uva, evento que reúne produtores, técnicos, autoridades e artistas em torno do tema, e promove oficinas de gastronomia, dias de campo e shows musicais. “Hoje, o Festival da Uva de São João do Piauí está no calendário de grandes eventos do estado e encontra-se em sua sexta edição. A Codevasf, além de ter sido a grande indutora desse encontro, participa na coordenação e realização da festa”, destaca Saraiva.
As famílias irrigantes se organizaram e formaram a Associação dos Produtores e Irrigantes de Marrecas (APIM), com sede constituída no próprio assentamento. A entidade foi capaz de implantar e gerir infraestruturas relacionadas à irrigação e fruticultura por meio de convênios firmados com a Codevasf. Também o Governo do Estado do Piauí participou na implantação da infraestrutura.
“É com o objetivo de dar continuidade à exploração racional da fruticultura naquela área, ampliando a geração de empregos e melhoria de renda dos assentados que se realiza a implantação de uma área adicional de 1.000 hectares de fruticultura irrigada, com 200 lotes irrigados de 5 hectares”, informa o gerente regional de irrigação.
Solo e clima favoráveis
O Projeto de Irrigação Comunitária de Marrecas é uma espécie de piloto do projeto de irrigação Marrecas-Jenipapo, no qual estão sendo investidos, por meio da Codevasf, recursos federais da ordem de R$ 51 milhões direcionados para a construção de infraestruturas de uso comum como estações de bombeamento, reservatórios, rede de distribuição de energia, canais e rede de distribuição de água para os lotes irrigados. A execução orçamentária está hoje em 77%.
“O projeto Marrecas-Jenipapo será o primeiro projeto de irrigação instalado pela Codevasf no Vale do Rio Parnaíba, uma região que apresenta grande potencial para o desenvolvimento da fruticultura irrigada em razão das condições de solo e clima que se apresentam no semiárido piauiense”, destaca Maximiliano Saraiva.
O projeto de irrigação levará água do rio Piauí, a partir da barragem Jenipapo, aos lotes familiares, com vazão de 1,23m³/s. Estudos de viabilidade indicam que a produção agrícola do município deverá subir de 5.684 toneladas por ano para 17.584 toneladas, e a renda média anual deverá subir de R$ 822 para R$ 5,5 mil.
Ao todo, o projeto deverá beneficiar a população de outros 12 municípios do entorno: Simplício Mendes, Dom Inocêncio, Campo Alegre do Fidalgo, Coronel José Dias, Socorro do Piauí, Ribeiro do Piauí, Nova Santa Rita, Paes Landim, Capitão Gervásio, Bela Vista, Pajeú do Piauí e João Costa.
Codevasf
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são publicados somente depois de avaliados por moderador. Aguarde publicação. Agradecemos a sua opinião.