sexta-feira, novembro 04, 2016

Projeto de irrigação comunitária apoiado pela Codevasf produz frutas no semiárido do Piauí

Tendo na uva sua principal aposta, 256 famílias do Assentamento Marrecas já contabilizam 2,3 mil toneladas anuais de alimentos produzidas em 154 hectares (Foto: Divulgação/Codevasf)

Há quase 30 anos, dona Maria de Lourdes Pereira chegava com a família ao Assentamento Marrecas, a 31 quilômetros da sede do município de São João do Piauí e a 500 quilômetros da capital Teresina. Na época, como ela lembra, enfrentaram muitas dificuldades, mas hoje, graças ao plantio de frutas numa incipiente área irrigada, sobretudo a uva, a vida mudou para melhor.

“A gente morava debaixo de lona, vi meus três filhos passarem necessidade, e hoje me orgulho da nossa história. Uma das minhas filhas estuda Direito em universidade federal; a outra virou técnica agropecuária. Tenho três casas na cidade, além de um terreno, e comprei um carro à vista. Tudo fruto do nosso trabalho na região”, conta, emocionada.

Além de uva – nas variedades Benitaka, Brasil e Itália Melhorada –, cultivada numa área de 0,7 hectares dos 6 hectares totais dedicados à fruta no projeto, a agricultora produz também goiaba, melancia e feijão.

Como alternativa de renda para as famílias, sobretudo a partir da mão de obra das mulheres que residem no assentamento, dona Maria de Lourdes destaca a Agroindústria de Frutas do Assentamento Marrecas (APFrutas), sediada em São João do Piauí e criada em 2012 com o apoio da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) - que, além de construir a unidade, estruturou-a com máquinas, equipamentos, utensílios e móveis. Da pequena fábrica saem delícias feitas de frutas, como polpas, geleias, doces e bolos.

“Como mulher atuando na roça, sofri muita discriminação no início, mas consegui vencer com trabalho. A agroindústria surgiu a partir da iniciativa das mulheres e hoje reúne de 10 a 12 associadas. Transformamos a fruta e agregamos valor. Vendemos a produção no comércio local, em feiras livres, para a Conab e passaremos a comercializar para a prefeitura também. A nossa produção ainda é pequena, mas estamos, inclusive, fazendo um estudo de viabilidade econômica pra ampliar nosso mercado”, revela a produtora.

Fruticultura irrigada

O Projeto de Irrigação Comunitária de Marrecas conta, atualmente, com 256 famílias assentadas e cerca de 154 hectares irrigados. Parte deles é dedicada à fruticultura irrigada, tipo microaspersão, com manejo de culturas como goiaba, uva e mamão; outra parte tem irrigação por aspersão fixa, onde são cultivadas culturas de ciclo temporário, como feijão, milho, mandioca, melancia e abóbora.

A produção já ultrapassa as 2,3 mil toneladas anuais de alimento, com destaque para milho verde (390 toneladas ao ano), macaxeira (340 toneladas), melancia (328 toneladas) e goiaba (310 toneladas). Os dados são da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Piauí (Emater/PI), que acompanha os produtores.

Um terço da produção é comercializada por meio dos programas de compras públicas do Governo Federal, como os de merenda escolar e das centrais de abastecimento. O restante é vendido no mercado municipal de São João do Piauí, em hotéis, mercearias, e ainda em municípios vizinhos, como Canto do Buriti e Simplício Mendes.

Festival da Uva

A produção de uva, 230 toneladas anuais, é a principal aposta do projeto, como explica o gerente regional de empreendimentos de irrigação da Codevasf no Piauí, Maximiliano Saraiva. “As variedades cultivadas são Benitaka, Brasil e Itália Melhorada, com uma produtividade média de 27 toneladas, sendo possível obter até duas safras ano. A área é conduzida com manejo escalonado por um grupo de 12 famílias, de forma a ter uva durante a maior parte do ano, atendendo, assim, o seu mercado consumidor”, observa.

O impacto positivo da atividade frutícola – com destaque para a uva – no assentamento foi tão significativo que, desde o ano de 2010, é realizado, no município de São João do Piauí, o Festival da Uva, evento que reúne produtores, técnicos, autoridades e artistas em torno do tema, e promove oficinas de gastronomia, dias de campo e shows musicais. “Hoje, o Festival da Uva de São João do Piauí está no calendário de grandes eventos do estado e encontra-se em sua sexta edição. A Codevasf, além de ter sido a grande indutora desse encontro, participa na coordenação e realização da festa”, destaca Saraiva.

As famílias irrigantes se organizaram e formaram a Associação dos Produtores e Irrigantes de Marrecas (APIM), com sede constituída no próprio assentamento. A entidade foi capaz de implantar e gerir infraestruturas relacionadas à irrigação e fruticultura por meio de convênios firmados com a Codevasf. Também o Governo do Estado do Piauí participou na implantação da infraestrutura.

“É com o objetivo de dar continuidade à exploração racional da fruticultura naquela área, ampliando a geração de empregos e melhoria de renda dos assentados que se realiza a implantação de uma área adicional de 1.000 hectares de fruticultura irrigada, com 200 lotes irrigados de 5 hectares”, informa o gerente regional de irrigação.

Solo e clima favoráveis

O Projeto de Irrigação Comunitária de Marrecas é uma espécie de piloto do projeto de irrigação Marrecas-Jenipapo, no qual estão sendo investidos, por meio da Codevasf, recursos federais da ordem de R$ 51 milhões direcionados para a construção de infraestruturas de uso comum como estações de bombeamento, reservatórios, rede de distribuição de energia, canais e rede de distribuição de água para os lotes irrigados. A execução orçamentária está hoje em 77%.

“O projeto Marrecas-Jenipapo será o primeiro projeto de irrigação instalado pela Codevasf no Vale do Rio Parnaíba, uma região que apresenta grande potencial para o desenvolvimento da fruticultura irrigada em razão das condições de solo e clima que se apresentam no semiárido piauiense”, destaca Maximiliano Saraiva.

O projeto de irrigação levará água do rio Piauí, a partir da barragem Jenipapo, aos lotes familiares, com vazão de 1,23m³/s. Estudos de viabilidade indicam que a produção agrícola do município deverá subir de 5.684 toneladas por ano para 17.584 toneladas, e a renda média anual deverá subir de R$ 822 para R$ 5,5 mil.

Ao todo, o projeto deverá beneficiar a população de outros 12 municípios do entorno: Simplício Mendes, Dom Inocêncio, Campo Alegre do Fidalgo, Coronel José Dias, Socorro do Piauí, Ribeiro do Piauí, Nova Santa Rita, Paes Landim, Capitão Gervásio, Bela Vista, Pajeú do Piauí e João Costa.

Codevasf

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