Nos 16 exames realizados, 69% dos bebês apresentaram alteração da retina, sequelas do vírus Zika
Diversos estudos já demonstraram a relação entre a infecção pelo vírus Zika e distúrbios graves nos olhos do bebê, que podem ser observados com um exame de fundo de olho, por exemplo. A diferença agora, com o uso desse equipamento, é que ele ajuda o oftalmologista a detectar, com maior precisão, qual o tipo de reabilitação mais adequada para essa criança que tem distúrbios na retina.
O exame de imagem não é invasivo e costuma ser rápido. A dificuldade, no entanto, é posicionar os bebês de forma que eles não se mexam muito, explicou o oftalmologista Maurício Maia, professor do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Segundo ele, é preciso fazer o laser chegar até a retina e o movimento da cabeça do recém-nascido dificulta o exame. "Conseguimos isso por meio de uma técnica especial”, disse ele, ressaltando que esse é o melhor equipamento para detectar lesões na retina.
A técnica especial, explicou o médico, consiste em envolver as crianças em lençóis. “Nós desenvolvemos uma solução bem simples e barata, envolvendo essas crianças em roupas, em um lençol mais apertado, sem precisar fazer qualquer sedação. A braçadeira do equipamento também faz com que as crianças fiquem em uma posição específica, quieta, em que o laser é capaz de entrar no olho e dar essa imagem para a gente”, acrescentou.
“Essas crianças vão precisar de reabilitação para o resto da vida. O tipo de reabilitação que vamos fazer é diretamente proporcional ao tipo de lesão que a gente encontra com o OCT. Esse é um estudo extremamente importante porque vai dar a diretriz para o oftalmologista de como planejar a reabilitação visual da criança e que tipo de equipamento usar tal - óculos normal, lupa de aumento ou um óculos prismático”, afirmou Maia.
Esta é, de acordo com ele, a primeira vez que o equipamento é utilizado para esse tipo de estudo. “O estudo consegue definir melhor para nós o quanto essas crianças terão de potencial visual e o quanto elas vão enxergar. Não sabíamos, até então, quanto essas crianças enxergam de verdade”,
O estudo foi publicado recentemente na revista Jama Ophthalmology e demonstrou que tanto as camadas externas quanto as internas da retina são as primeiras a serem afetadas pelo vírus, trazendo prejuízos para a visão central dos bebês.
“Quando a lesão é inicial, começa o acometimento das estruturas da retina interna. Quando a lesão é mais grave, mais relacionada aos sintomas da mãe no primeiro trimestre [de gravidez] e mais relacionada à gravidade da microcefalia, aí as lesões atingem a porção externa da retina, sendo que, nos casos mais graves, até a coroide, que é uma estrutura abaixo da retina”, disse.
O trabalho avaliou oito crianças com idades entre três e cinco meses. Sete delas foram submetidas a uma análise para o vírus Zika e apresentaram resultados positivos para os anticorpos IgM, que são produzidos na fase aguda da infecção pelo vírus. Dos 16 olhos analisados, 11 (ou 69% do total) apresentaram alteração da retina.
Agência Brasil
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