O artigo com os resultados foi publicado ontem (5) na revista PLOS Neglected Tropical Disease. O sequenciamento genético foi realizado a partir de uma amostra coletada de um paciente infectado em 2015, no início da epidemia.
De acordo com o pesquisador da Fiocruz Rafael França, um dos responsáveis pela pesquisa, uma pequena parte da carga genética do Zika pode bloquear a ativação de um componente do sistema imune considerado importante para combater infecções virais: o interferon, que combate a replicação do vírus. “Se o Zika bloqueia a produção desses interferons ele vai conseguir replicar, então ele vai ter um processo infeccioso melhor, vai conseguir infectar muito mais a célula, vai ser mais agressivo”, disse França.
Essa caracterísitica é encontrada em outros vírus da mesma família, como o vírus da dengue, segundo o pesquisador. No caso do Zika, porém, a habilidade é ainda maior: “É um vírus que tem uma vantagem evolutiva em relação ao vírus da dengue”.
A descoberta deve ajudar outros pesquisadores a formular possíveis métodos terapêuticos, já que se identificou uma caracterísitica do vírus que pode ser combatida. “A gente pode interferir no [gene] que o vírus bloqueia no sistema imune, e tentar bloquear essa capacidade do vírus como uma forma de terapia”, exemplifica Rafael.
Vírus mutante
Com o mapeamento, os pesquisadores identificaram que o vírus Zika de Pernambuco tem semelhanças com o vírus encontrado na Ásia, como outras pesquisas já haviam mencionado. Eles também descobriram que a assinatura genética é a mesma de vírus Zika isolados em outras regiões do Brasil. “Ou seja, é o mesmo vírus que circula no país todo, provavelmente”, indica Rafael França.
Apesar de similar, o Zika analisado sofreu mutações em relação ao encontrado na Ásia. Questionado se essas mutações poderiam se relacionar ao maior número de casos de síndrome congênita de Zika identificados em Pernambuco e no nordeste, Rafael França afirma que nessa fase da pesquisa não é possível identificar se há vínculo.
“Ainda é cedo, porque a gente ainda não tem os genomas completos dos outros lugares. A partir do momento que outros pesquisadores forem sequenciando os vírus e fazendo a leitura do genoma, a gente vai poder comparar”, explica.
O próximo passo da pesquisa, que já está em curso, é estudar a evolução do vírus até agora, a partir de outros mapeamentos genéticos de amostras mais recentes. “A gente já sabe como fazer, já tem um quantitativo de amostras grande. O que a gente pretende fazer agora é um comparativo dos vírus que a gente tem desde o início de 2015 até o fim de 2016, para ver se ele está se adaptando ou se está havendo mutação e se a mutação poderia estar relacionada com uma adaptação na população”.
Recursos
O artigo publicado ontem é o primeiro da pesquisa da Fiocruz e da Universidade de Glasgow. Em maio, a Agência Brasil noticiou a dificuldade de liberação de recursos para o estudo. Na ocasião, Rafael França citou os problemas estruturais e de pessoal enfrentados para dar prosseguimento às análises. Segundo ele, os repasses já estão ocorrendo. Outras fontes de financiamento também foram usadas para garantir o andamento da pesquisa.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são publicados somente depois de avaliados por moderador. Aguarde publicação. Agradecemos a sua opinião.