Falta de experiência e desenvolvimento incompleto das crianças influenciam para que os acidentes sejam a principal causa de morte entre os pequenos (Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Acidentes de trânsito são a principal causa de morte de crianças entre 5 e 12 anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2014 foram registradas 782 vítimas nessa faixa etária. São muitos os fatores que contribuem para essa situação, mas o principal é a falta de educação nas ruas.
“As crianças têm uma tendência de imitar o comportamento do adulto, mas elas não têm experiência para circular no trânsito como nós. Às vezes, a gente vai e atravessa fora da faixa, elas vão lá e fazem o mesmo, ainda que tenham aprendido na escola que não pode”, explicou Gabriela Freitas, coordenadora nacional da ONG Criança Segura, que trabalha pela prevenção de acidentes com crianças e adolescentes de até 14 anos.
Muitos pais chegam a alertar o filho para permanecer sentado na cadeirinha para auto ou assento de elevação, mas, na hora de sentar no banco traseiro, o próprio adulto se esquece de colocar o cinto, por exemplo. Os pais e pessoas responsáveis pela educação precisam ser referência de um bom comportamento.
O momento de liberar a criança para andar sozinha na rua também vai aumentar ou diminuir os riscos para eventuais acidentes. Menores de dez anos ainda estão em fase de desenvolvimento psicomotor, segundo Gabriela, e a percepção do que acontece em sua volta ainda é baixa. “A visão periférica, por exemplo, do adulto é de 180 graus, já o da criança é de mais ou menos uns 45 graus”, afirmou a coordenadora.
Além disso, os menores ficam “invisíveis” aos motoristas dependendo de onde estão. “O tamanho pequeno deles faz com que fiquem no ponto cego do carro, então, às vezes, o motorista que está dando ré não enxerga a criança, ou se ela sai de trás de alguma caçamba, por exemplo”, explicou a coordenadora da ONG Criança.
A partir dos dez anos, caso o menor já tenha ido para as ruas com os pais, recebido as orientações sobre caminhos e segurança e saiba os sinais de trânsito, ele pode sair sozinho. Mas é preciso experiência, algo que os chamados “pais superprotetores”, sem querer, tiram dos filhos.
“Eles acabam nem andando com a criança na rua porque acham que vai ser muito perigoso e usam mais o carro. Isso também não é legal pra criança porque, para ela estar preparada, precisa ter circulado com um adulto responsável que dê os exemplos no trânsito”, completou Gabriela.
Ações educativas
Afim de capacitar agentes e educadores de trânsito, professores, líderes comunitários e pessoas interessadas na prevenção de acidentes de trânsito com crianças e adolescentes até 14 anos, a ONG Criança Segura, em parceria com o Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran SP), desenvolveu o curso online “Criança Segura no Trânsito”. Ele tem duração de três meses e uma carga horária de 60 horas, divididas em oito aulas.
Há também um curso voltado para familiares e responsáveis, que trata de outros acidentes além dos de trânsito, como quedas, afogamentos e intoxicação. Este está organizado em cinco aulas de quatro horas. A programação dos cursos pode ser conferida no site da ONG.
O Detran SP também tem o “Clube do Bem-te-vi”, que há mais de 25 anos realiza palestras e atividades lúdicas para crianças do ensino fundamental. Os alunos aprendem sobre a importância do cinto de segurança, cuidados com brincadeiras nas vias públicas, regras para condução de bicicleta e outras noções de segurança.
Porém, Gabriela alerta: não adianta os profissionais trabalharem com a criança em sala de aula sobre o trânsito, e os pais não falarem disso com o filho. “Ainda tem muita gente que não quer mudar o próprio comportamento, que tem a mentalidade ‘a gente sempre andou sem cadeirinha, sentava no meio dos dois bancos da frente e estamos todos vivos’. A gente sobreviveu porque eram outros tempos e havia uma frota muito menor de veículos. O trânsito não era essa loucura de hoje”.
Por Gabriela Brito/IG Vigilante
Fonte: iG Vigilante - iG http://ultimosegundo.ig.com.br/igvigilante/transito/2016-07-19/educacao-criancas-transito.html
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