Foto: Sumaia Villela/Agência Brasil
A presidenta afastada não detalhou as negociações no Senado e limtou-se a dizer que "estamos dialogando". Questionada sobre a dificuldade de governabilidade caso volte ao cargo, Dilma respondeu: "Não é uma questão relativa ao meu mandato, nem relativa a voltar. Não é porque eu volto que as condições são complexas. Acho que há, cada vez mais, a consciência de que o pacto que governou o Brasil desde 1988, a partir da Constituição cidadã, foi rompido e dilacerado. Então, vamos ter que necessariamente reconstruir os processos democráticos no Brasil."
Dilma deu entrevista depois de participar de ato fechado no auditório da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A presidenta afastada foi convidada a participar pelo Comitê "Em defesa da democracia", formado por professores, alunos e técnicos da instituição e das universidades Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e de Pernambuco (UPE), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Dilma falou para 250 convidados do comitê e foi recebida com palavras como "Volta, querida". Em discurso, a presidenta afastada voltou a classificar o processo de impeachment como "golpe" e classificou o governo interino e os líderes do processo de “parasitas”.
“Eles adoram dizer isso: como eu estou tranquila no Palácio da Alvorada, cercada por todos os lados, não é golpe. Mas é sim. Eu chamo de parasita. Os parasitas atacam as instiuições, porque elas são fundamentais numa democracia. Qual é a nossa reação diante desse ataque? Não é negar a instiuição, é entrar, discutir em todas as instâncias, no Senado, nas ruas. O que mata o parasita? Mata o oxigênio da discussão, do debate”, afirmou.
Dilma Rousseff disse ainda que o processo de impeachment visa a impedir a continuação das investigações da Operação Lava Jato e para que o projeto político derrotado nas urnas pudesse ser aplicado no país. A presidenta afastada criticou dois projetos do governo interino: a mudança nas regras do pré-sal e a aplicação de um teto para os gastos públicos vinculado ao crescimento da inflação.
“Ninguém aprovou acabar com o pré-sal. Ninguém aprovou que os gastos com educação sejam reduzidos, o que na prática serão. Se você corrige pela inflação e, ao mesmo tempo, imagina que as pessoas no Brasil vão precisar de mais educação - não é constante o número de pessoas que querem ser educadas, ele [governo] aumenta esse número - então, só tiver uma constante somente da inflação que vai cair o gasto de educação por pessoa. Nunca vi alguém aprovar isso em urna nenhuma, em manifestação nenhuma. Por esses dois motivos, é fundamental que o governo eleito volte", disse.
A presidenta afastada ainda ressaltou o fato de a Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que trata do limite para as despesas públicas, estabelecer prazo de 20 anos para aplicação do teto. “Não é possível, para os próximos 20 anos, ter outra política de educação que não a deles. Isso é um desmonte da educação pública, um retrocesso”.
Dilma abraçou manifestantes concentrados do lado de fora do auditório.
Apoio
No ato da UFPE, um manifesto foi entregue pelo comitê organizador a Dilma Rousseff. A professora de Psicologia da universidade, Fátima Cruz, disse que a defesa é da democracia e do projeto político que venceu as eleições de 2014.
"Achamos que está havendo um retrocesso, principalmente em relação aos avanços sociais, com o extermínio do Ministério da Mulher, Ministério da cultura, o MCTI incorporado à Comunicação, o que é um atraso em termo do progresso da ciência. A gente gostaria que a presidenta voltasse exatamente porque tivemos uma série de avanços sociais nos direitos da população, e nós nos alinhamos com a defesa desses direitos", disse a professora.
O reitor da universidade, Anílso Brasileiro, destacou a expansão das universidades no país, com aumento de alunos, e interiorização do ensino universitário. "Defendemos a normalização da vida democrática do Brasil, o respeito à Constituição, e entendemos que ela [Dilma Rousseff] foi eleita pela expressão do sufrágio popular, e é importante que ela retome seu mandato".
Agência Brasil
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