A reportagem foi publicada por EcoDebate, 23-06-2016.
O alto custo de compra e instalação de painéis fotovoltaicos, no entanto, tem sido um dos maiores entraves para a disseminação do uso da energia solar no Brasil. Segundo especialistas do setor, o valor pode chegar a R$ 50 mil em uma residência média, ou seja, de até quatro moradores. A carga tributária elevada torna a fonte uma das mais caras do mercado. Além do custo, a dificuldade de expandir o uso também está ligada à dependência da importação de painéis fotovoltaicos. Hoje, o País não tem tecnologia ou insumos necessários para desenvolvê-los.
A avaliação é do estudo “Energia Solar no Brasil: Situação Atual, Perspectivas e Recomendações”, elaborado pelo Comitê de Energia da Academia Nacional de Engenharia (ANE). Segundo o pesquisador e coautor do estudo,Eduardo Serra, o Brasil possui uma infraestrutura “quase nula” de fabricação de energia solar fotovoltaica. No País, fábricas de módulos fotovoltaicos ainda estão sendo instaladas nas regiões Nordeste e Sudeste, com capacidade de produção estimada entre 20 e 400 megawatts por ano (MWp/ano).
“Durante muito tempo vamos depender de importação de painéis fotovoltaicos. Uma das razões é porque para produzi-los é preciso ter silício de grau solar. Apesar de o Brasil ser um dos maiores detentores, nós só fabricamos aqui em grau metalúrgico. É uma tecnologia cara e poucos países a fabricam”, informou Serra.
O pesquisador ressaltou a necessidade de considerar a inexistência de unidades de produção de silício grau solar no País, pois a produção de módulos fotovoltaicos precisa ter um volume compatível com o que está sendo contratado nos leilões. Com a ausência de políticas de desenvolvimento tecnológico, ele não visualiza uma independência brasileira nesse campo. “Todos os módulos instalados nas futuras usinas, projetados para os próximos anos, certamente usarão painéis importados e inversores importados”, apontou.
Para o Brasil conseguir uma autonomia de produção da cadeia solar fotovoltaica, Serra defende a capacitação de mais profissionais de nível superior, com conhecimentos necessários das tecnologias da energia solar. Dessa forma, eles atuariam em pesquisas básica e aplicada, criando projetos de engenharia e transferência de tecnologia de materiais e equipamentos utilizados.
“Isso demora, mas em hipótese nenhuma significa que não se deva fazer, porque não podemos desmoralizar a tecnologia nacional. Para isso, tem que ter gente sendo formada, pesquisando, para criar toda a infraestrutura que permita que a tecnologia entre e permaneça”, avaliou.
No exterior
Um país que tem desenvolvido a tecnologia em larga escala é a China. Ela possui os insumos e o conhecimento necessário para estabelecer sua cadeia produtiva. O país produz 60% dos módulos fotovoltaicos no mundo, com uma capacidade acumulada instalada de 137,7 GW. Segundo Eduardo Serra, o preço de painéis fotovoltaicos na China e demais países asiáticos, abastecidos pelo mercado chinês, pode ser três vezes menor que o encontrado no Brasil.
Outras formas
O estudo avalia também o cenário de outras formas de geração de energia solar, como a por aquecimento d’água e a termossolar. A primeira opção, atualmente, tem seu uso mais intensivo nas regiões Sul e Sudeste do País, de forma residencial, para substituir o consumo do chuveiro elétrico. O estudo aponta que os custos iniciais mais elevados de instalação, em relação ao chuveiro, “representam uma barreira a ser vencida pela possibilidade de retorno a ser obtido em prazo mais longo.”
Já a termossolar não possui sistemas instalados no Brasil. Mesmo com uma grande vantagem em relação à fotovoltaica, por possibilitar uma geração firme de energia por períodos longos de baixa insolação por radiação direta, a tecnologia não está disponível no País. O estudo destaca que, potencialmente, “o custo da energia elétrica gerada pode ser menor com o desenvolvimento da tecnologia.”
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos
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