Anvisa. Para oncologista Márcio Almeida, decisão abre precedente perigoso, por aprovar medicamentos em estágio experimental
Não se conhece os efeitos colaterais ou a eficácia, e nenhum estudo em humanos foi realizado. Mas a pílula do câncer pode começar a ser comercializada por R$ 6 pela PDT Pharma, laboratório que foi autorizado a produzir a fosfoetalonamina apenas para testes.
O preço foi calculado pela PDT Pharma quando questionada pela Justiça sobre a possibilidade de fornecer a droga mediante ações judiciais. Até agora, 12 liminares obrigam o laboratório a distribuir a cápsula. Outros 275 processos tramitam nos tribunais. As informações são do portal G1.
A substância ganhou fama de milagrosa entre pacientes, por curar diversos tipos de câncer. Tribunais de Justiça de todo o Brasil recebem ordens para obrigar laboratórios a fornecerem a pílula, que ainda não passou por todos os estudos exigidos pela legislação brasileira. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — que regulamenta o setor de medicamentos — e diversas as entidades médicas já se posicionaram contra a venda da “fosfo”.
A PDT Pharma se vê em um beco sem saída. De um lado, a Justiça obriga o fornecimento da pílula do câncer. De outro, a Anvisa proíbe a venda enquanto os estudos clínicos não forem concluídos. Não se sabe ainda, por exemplo, a dosagem correta para ingestão da droga.
Para Márcio Almeida, médico da Aliança Oncologia, a decisão de liberar a fosfoetalonamina abre um precedente perigoso: “Não se sabe nada da efetividade da pílula. Essa aprovação faz que outros remédios experimentais também possam ser aprovados sem os testes exigidos”, analisou.
Márcio conta que é comum nos consultórios pacientes perguntarem se podem tomar doses da pílula do câncer. "Eu não vou proibir, mas também não vou prescrever uma substância que não tem o aval da Anvisa", pontuou.
Mesmo com os relatos de pacientes que conseguiram regredir os tumores e até mesmo se curar do câncer, Almeida se mantém cético. “Pela complexidade do câncer, com mais de 100 tipos e mecanismos moleculares diferentes, é difícil acreditar que uma substância vai resolver tudo”, opinou.
Ele reforça que não é contra a pílula, mas se opõe ao que chamou de “aprovação sem critérios” da droga: “Os médicos trabalham em prol do paciente. Seria ótimo ter controlada uma doença grave como essa. Mas a liberação tem que ser realizada de maneira responsável”, completou o oncologista.
Augusto Berto/Aliança Instituto de Oncologia
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