domingo, maio 15, 2016

O mundo pode estar rindo às nossas custas - Artigo de Luce Pereira

Pesquisas elegem personalidades mais admiradas do país e Sílvio Santos ganha até de Jesus. Joaquim Barbosa é segundo colocado.

Por Luce Pereira

A imagem do Brasil lá fora deve divertir muito a opinião pública de países desenvolvidos, que geralmente se surpreende com o resultado do baixo nível de educação e politização dos habitantes do lado de baixo do Equador. O portal inglês YouGov acaba de divulgar pesquisa com os 60 nomes mais admirados pelos brasileiros e a primeira personalidade da lista é o apresentador Sílvio Santos, que noutra pesquisa, de 2011, feita para a revista Forbes, havia ganho até de Jesus Cristo. O Filho de Deus amargou um modesto 5º lugar, perdendo, também, para Bill Gates (segundo do ranking), um político e uma atriz de cinema norte-americana que hoje faz menos sucesso pelos lábios carnudos do que pelas causas humatárias que abraça. É a única mulher entre os dez eleitos, como se o Brasil fosse de uma pobreza franciscana quando se trata de eminências femininas.

Na sondagem do site inglês, cujo objetivo era descobrir quais são as pessoas mais admiradas do planeta, o juiz Sérgio Moro – apesar dos holofotes da Operação Lava-Jato – está três posições abaixo do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa (segundo da lista) e cinco acima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que na pesquisa da Forbes ocupava um confortável terceiro lugar. Naturalmente, onde faltam cultura e conhecimento sobram despropósitos: Jair Bolsonaro (PP-RJ), considerado o político mais abominável do mundo pelo site australiano News, no último dia 6, aparece desfilando em uma honrosa 14ª posição. O texto anunciava: “Senhoras e senhores, conheçam o Donald Trump do Brasil. Pensando bem, isso não é justo com Trump. Ao lado de comentários do congressista brasileiro Jair Bolsonaro, a observação infame de Donald Trump sobre ‘construir um muro para manter os mexicanos fora’ é suave como uma cantiga para crianças”. E ali, mais uma vez, o mundo gargalhou às nossas custas, com uma risada extra para o fato de o ultraconservadorismo de Silas Malafaia estar 20 degraus acima do talento e dignidade da atriz Fernanda Montenegro. Em tempo: o magnata que defende as maiores bandeiras do conservadorismo e virou o pesadelo do Partido Republicano, na escolha da candidatura à Casa Branca, não poderia ficar de fora, claro: foi o 34º nome mais admirado.

Naturalmente, também, a lista está repleta de astros daquela música que vende feito banana, de estrelas do futebol (nacional e mundial), de atores de Hollywood e das mulheres que arrancam gritos histéricos quando desfilam suas performances em cima de palcos do mundo, como Shakira (40ª), Beyonce (41ª) e Madonna (49). Numa época em que bobagens ganham revestimento de glamour e o que é extremamente banal assume status de “celebridade”, não causa estranheza o desprestígio do papa Francisco na lista: foi parar na vigésima posição, perdendo para Bolsonaro, Malafaia e quase meio time de astros do futebol europeu. Por falar no continente, claro que as duas mais conhecidas representantes da realeza britânica surgiriam entre as personalidades que não saem da cabeça dos brasileiros: a mulher do príncipe William, Kate Middleton (52º), e a rainha Elizabeth II (53º).

Nenhum intelectual. Nenhum pesquisador. Nenhum professor de renome. Afinal, o que estariam mesmo fazendo em uma lista de “mais admirados”, se o que realizam em seus campos de atuação é o que, de fato, mandaria o mundo parar de rir do Brasil? O país segue dando mostras generosas de que não se importa em assumir a imagem daquele que anima a corte – e isto, nem Freud explica. Chacrinha, talvez, que nos ensinou a apreciar “troféu abacaxi”, ou o próprio Sílvio Santos, que gargalha quando pergunta à plateia – “vocês querem dinheiro?”

Diario de Pernambuco

Mais admirados do Brasil
Pope Francis = Papa Francisco

 Mais admirados do mundo:

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