— Eu me encontro numa situação muito difícil. Não posso, em respeito ao Senado, tratar da formação de um eventual governo, mas tenho que estar preparado para, conforme o rito, assumir o governo no dia seguinte, caso a decisão seja pelo afastamento temporário da senhora presidente da República. Diante dessa realidade, claro que sou obrigado a realizar sondagens. Mas não tenho assumido compromissos com ninguém. O máximo que tenho feito é dizer para a pessoa: "posso, se for necessário, te procurar brevemente para uma conversa mais objetiva” — disse o vice.
Sobre o suposto convite que teria feito ao senador José Serra (PSDB-SP), Temer, na mesma linha, usou a expressão "sondagem" para confirmar que teve algumas conversas com o senador tucano, mas que tudo está nas mãos do PSDB.
— O senador José Serra é um homem que cabe em qualquer cargo de governo. Evidentemente que eu, no caso de ter que assumir a Presidência da República, gostaria de ter o concurso do senador José Serra. Mas tudo vai depender da decisão do PSDB. A coisa que menos quero é ter qualquer tipo de desentendimento com o PSDB, partido que considero fundamental, diante da perspectiva de eu ter que assumir o governo.
O vice-presidente, contudo, deu a entender que Serra não ocuparia nenhum ministério da área econômica, mas da área social, insinuando que ele poderia ser ministro da Educação de seu governo.
#PRONTOFALEI
Especificamente sobre a área econômica, Temer informou que ele escolheria o ministro do Planejamento, mas delegaria "ao Meirelles" o direito de indicar o presidente do Banco Central e outros integrantes da equipe. Flagrado na gafe, tentou corrigir:
— Falei Meirelles porque, hoje, estou com esse nome na cabeça. Repito: fiquei muito bem impressionado com a conversa que tive com ele. Então, confesso que se eu tivesse que assumir hoje, o ministro da Fazenda seria ele. Mas, nenhum de nós sabe o que vai acontecer amanhã.
Quanto a Armínio Fraga, Temer negou que o tivesse sondado para o ministério da Fazenda:
Henrique Meirelles - FazendaFoi o mais longevo presidente do Banco Central (2003-2010), no governo de Lula. Em 2010 foi cotado para ser o vice na chapa de Dilma Rousseff. Foi ainda presidente do Conselho Público Olímpico (CPO). Antes da política, Meirelles seguiu carreira no setor financeiro, no Bank of Boston. Hoje preside o conselho de administração da J&F.
— A notícia de que ele recusou o convite não procede. E eu nem poderia sequer sondá-lo, pois, ao marcar a conversa por intermédio do senador Aécio Neves, este foi logo me dizendo: "Temer, não adianta convidar o Armínio porque ele está focado em outros projetos". Sabendo disso por antecipação, a conversa, que foi muito boa, por sinal, versou mais sobre sugestões e indicações que ele poderia me fazer, no caso de eu assumir a Presidência.
NOME FORTE PARA JUSTIÇA
Em relação ao delicado Ministério da Justiça, o vice reconheceu ter uma forte tendência a indicar o advogado Mariz de Oliveira, homem de sua estreita confiança:
— Esse ministério, como todos os outros, precisa de alguém que tenha pulso forte, mas ele especificamente. E precisa ser alguém da confiança absoluta do presidente da República.
Sobre o fato de vir a ser criticado por indicar um subscritor de um manifesto contra a Lava-Jato, Temer defendeu o amigo, afirmando que aquela manifestação não foi contra a operação em si, mas expressou uma opinião de advogados que acompanham o processo.
— Qualquer pessoa que venha a ocupar o Ministério da Justiça estará consciente e orientado sobre a posição do governo, no sentido de preservar a independência dos investigadores da Lava-Jato.
MENOS PASTAS
Temer conversou com O GLOBO numa das salas reservadas do Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-Presidência, enquanto na varanda o esperavam para jantar o ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva, Geddel Vieira Lima e mais três ex-ministros de Dilma: Moreira Franco, Eliseu Padilha e Henrique Alves, todos do PMDB e todos cotados a integrar seu eventual Ministério.
O repórter brincou, apontando para o local:
— Ali está a metade do seu ministério.
Temer, de pronto:
— Metade, não. Se eu tiver que assumir, pretendo ter no máximo 25 ministros. Se puder, terei até um pouco menos. Mas esses amigos que estão ali fora me acompanham de longa data. São amigos leais e capazes, tanto que todos já foram ministros e eu não estaria, portanto, inovando.
O vice-presidente não quis adiantar os possíveis cargos de seus comensais, mas falou sobre a capacidade gerencial e política de cada um. Devido à insistência, acabou admitindo que, pelo seu estilo trabalhador, Eliseu Padilha poderia ocupar a Casa Civil e exemplificou:
— O Padilha trabalha muito e é bem organizado. O governo precisa de um perfil desses para a Casa Civil. Os ministros José Dirceu e Palocci, para citar apenas dois exemplos, não deram certo porque tentaram politizar o cargo. O estilo do Padilha é parecido ao de Pedro Parente, no governo Fernando Henrique.
E quem ficaria na articulação política?
— Ainda não decidi quem seria, caso eu assuma mesmo a Presidência. Mas o Geddel, que se dá bem com todo mundo no Congresso, poderia exercer esse papel. Mas é algo que não está decidido ainda.
Quanto aos outros ministérios que serão indicados pelos partidos aliados, Temer tem algumas exigências:
— Que tenham familiaridade com a área, com competência demonstrada no setor e de nomes reconhecidos e respeitados.
O Globo
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