Mutirão foi realizado na AACD em Recife (Foto: Sumaia Villela/Agência Brasil)
Para acelerar a confirmação de casos suspeitos de microcefalia em Pernambuco, o governo do estado realizou hoje (1º) o primeiro de uma série de mutirões na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), no Recife. Mais de 200 bebês de 72 municípios foram trazidos para fazer exames e saber se a notificação no momento do nascimento indica a malformação.
O mutirão, realizado pela Secretaria Estadual de Saúde, é voltado prioritariamente para crianças que ainda não tiveram acesso a serviços de saúde específicos. O encaminhamento foi feito pelas prefeituras. Dez neurologistas de diferentes instituições que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS), como hospitais de referência e a própria AACD, foram reunidos para as consultas.
A primeira etapa é o exame neurológico, que investiga, por exemplo, a rigidez muscular e a resposta a estímulos do bebê. Também é verificado o perímetro encefálico da criança. Se tudo estiver normal, o caso é descartado. Foi o que ocorreu com Maria Gabriela. Segundo a mãe, Taciana Isabel da Silva, 33 anos, de São Lourenço da Mata, foi a primeira consulta desde o nascimento da menina, há 20 dias. "Eu só chorava. Agora estou muito feliz".
Com Erolainny Carvalho, 22 anos, moradora de Olinda, a sensação foi a mesma. A filha, Ágatha, de 4 meses, nasceu com 32 centímetros de perímetro encefálico. O hospital notificou a suspeita de microcefalia, mas um exame posterior descartou o problema. Mesmo assim, a mãe levou a menina no mutirão parar o diagnóstico definitivo. O resultado foi negativo para a malformação. "Achei bom vir aqui, porque, mesmo com o primeiro exame, ainda dá medo. Agora tenho certeza que ela não tem nada."
Caso exista algum sinal da malformação, é realizada uma ultrassonografia. Em alguns casos, é possível saber que existe o problema. Então, uma tomografia é agendada e o bebê é encaminhado para a rede especializada de tratamento, como fonoaudiologia e fisioterapia. Se o exame for inconclusivo, a criança é levada para uma tomografia no mesmo dia.
"Todos os bebês saem daqui com o laudo médico confirmando ou descartando a suspeita. Nos casos em que houver microcefalia e calcificação, é colhido material para exame, de modo a saber se ela é causada por outra doença que não seja Zika", informou a neurologista Vanessa Van der Linden.
Ana Vitória, que completa o primeiro mês de vida neste sábado (2), foi uma das crianças com microcefalia confirmada. Segundo a mãe, Laíze Maria Borba, 23 anos, a bebê já era atendida desde o nascimento por uma das instituições avaliadas como referência para esses casos, mas aguardava uma confirmação definitiva. "Faltava só o resultado da tomografia, que não tinha saído e pegaram hoje por telefone. Agora, ela pode se tratar direitinho."
Até o fim da manhã, pouco mais de 100 crianças foram atendidas. Desse total, 35 casos foram descartados pela equipe médica. De acordo com Vanessa Van der Linden, algumas razões contribuem para que existam tantos casos suspeitos, mas que não correspondem à microcefalia. "Às vezes, o tempo gestacional foi estimado incorretamente. Então, a criança pode ter uma cabeça pequena, porque é mais nova no momento do nascimento", esclareceu a neurologista.
Outra questão é a mudança no tamanho mínimo do perímetro encefálico a ser notificado. Atualmente, meninas que nascem com o perímetro menor que 31,5 centímetros e meninos com menos de 31,9 centímetros precisam ser registrados como casos suspeitos. Em etapas anteriores, o número limite era 32 cm e antes 33 cm. Os ajustes foram definidos pelo Ministério da Saúde, de acordo com o estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Isso porque a primeira notificação não determina com certeza se existe de fato a microcefalia. Exames precisam ser realizados até que seja constatado algum dano no cérebro da criança. Esse processo depende de encaminhamento para instituições que atendem pelo SUS.
Segundo boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, de 1º de agosto de 2015 até o dia 26 de março de 2016, 1.829 casos de microcefalia foram notificados em Pernambuco. Desse total, 728 (39,8%) casos atendem aos parâmetros para microcefalia. Ao todo, 273 foram confirmados como microcefalia e 349 descartados.
De acordo com a secretária executiva de Atenção à Saúde da Secretaria, Cristina Mota, um dos motivos para a diferença entre casos notificados e os confirmados e descartados é que, no início, como o atendimento de referência para a malformação era concentrada no Recife, muitas famílias tinham dificuldade de levar os filhos até a capital. Outro fator foi o próprio receio de sair de casa com o bebê.
A expectativa da Secretaria de Saúde é conseguir o resultado definitivo de todos os casos que aguardam investigação. Acelerar a conclusão dos casos suspeitos de microcefalia não ajuda somente às famílias e bebês. Conforme a neurologista Vanessa Van der Linden, uma vez que as reais dimensões da existência da malformação sejam estabelecidas, a rede de assistência pública necessária para atender essas crianças pode ser organizada com mais precisão.
Segundo ela, as pesquisas científicas que procuram entender a ligação dessas malformações com o vírus Zika também ganham com a exatidão dos números. “Para gente poder realmente entender essa epidemia, o que aconteceu nessa doença nova, precisamos ter uma totalidade dos casos e avaliar todos para entender todo o comprometimento que traz essa doença.”
Outros mutirões já estão marcados para o Recife e interior. A AACD receberá mais um evento no dia 8 de abril. Nos dias 15 e 29, o mutirão será na cidade de Caruaru e, no início de maio, ainda sem data definida, em Petrolina. Depois desses atendimentos, o estado pretende fazer uma busca ativa para alcançar casos ainda sem confirmação de microcefalia.
Agência Brasil
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