A associação dos dois métodos já está sendo adotada, na prática, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), segundo o coordenador do estudo, José Roberto Piato: “Quando se associa os dois (exames), consegue-se preservar o mamilo com uma segurança enorme. Só tiramos o mamilo, hoje em dia, quando ele está tomado pela doença e não indiscriminadamente, mutilando as mulheres, como se fazia sempre”.
A ideia é estender isso para toda a prática clínica, no país, inclusive no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), diz o coordenador do estudo José Roberto Piato. O grande problema, explica, é a reconstrução do mamilo, que aparece como principal causa de insatisfação em uma cirurgia plástica de reconstrução mamária.
O primeiro estudo envolveu 170 pacientes de câncer de mama residentes em São Paulo. As mulheres, submetidas à mastectomia clássica, de retirada completa de glândulas mamárias, pele, auréola e mamilos, fizeram ressonância magnética, que é um exame de imagem, para verificar se havia invasão tumoral do mamilo.
Membro da SBM, José Roberto Piato explica que, tradicionalmente, a mastectomia inclui a remoção da auréola e do mamilo: “De uns tempos para cá, temos tentado fazer cirurgias mais conservadoras, no sentido de preservar o mamilo, porque o resultado estético é muito melhor. Isso é importante para a cabeça da paciente. A mama compõe a imagem corporal da mulher e a preservação do mamilo interfere com a questão da sexualidade e com a feminilidade”.
O esforço, conforme Piato, é no sentido de preservar o mamilo mas, quando existe um tumor na mama, muitas vezes ele se estende até o mamilo, de forma até microscópica, que não é visível a olho nu. Nessas situações, é importante que o mamilo seja removido.
Finalidade estética
Os métodos desenvolvidos objetivam mostrar em que situações o câncer se estende ou não até o mamilo. Na ressonância magnética, é injetado um contraste no sangue que costuma ser captado pelo tumor de mama como uma espécie de brilho, chamado realce.
“Essas pacientes, antes de terem as mamas removidas, foram submetidas a esse exame”, relata Piato. Os pesquisadores tentaram, então, determinar se as variantes analisadas tinham relação ou não com o comprometimento do mamilo. As mamas removidas foram encaminhadas ao patologista, enquanto o radiologista revia os exames de ressonância efetuados.
José Roberto Piato informa que quando o exame de ressonância mostra um realce que se estende de forma contínua desde o tumor até a papila (mamilo), a chance de comprometimento do mamilo é alta. Quando não existe esse realce contínuo, “em 90% das vezes, o mamilo está livre (do câncer)”.
Outro achado importante apontado pela ressonância magnética é que quando o mamilo está retraído ou repuxado, a chance de comprometimento é grande. “Agora, quando não existe nenhum dos dois, se não tiver nem o realce se estendendo do tumor até a papila, nem a retração da papila, a chance de ela estar livre é mais que 90%”, assegura Piato.
Esse estudo é complementado por outro, com a mesma finalidade de descobrir se o tumor chegou ou não ao mamilo, também coordenado pelo mastologista e publicado na revista internacional European Journal of Surgical Oncology no final do ano passado. A diferença é que ele é feito na hora da cirurgia por um exame de congelação, segundo o médico: “Removemos um tecido atrás do mamilo e entregamos para o patologista. Ele faz uns cortes de congelação e olha no microscópio. Se estiver livre, não tiramos o mamilo”. Enquanto o exame de ressonância dá 90% de segurança para os cirurgiões, o exame de congelação permite 99% de segurança, revela Piato.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), ligado ao Ministério da Saúde, o Brasil terá este ano 57.960 novos casos de câncer de mama. A incidência da doença tem aumentado entre 1% a 2 % ao ano.
Agência Brasil
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