segunda-feira, abril 18, 2016

Manifestantes criticam deputados que usaram Deus e família para justificar votos


Depois de mais de seis horas, a multidão que acompanhava ontem (17), de um telão, na Lapa, no centro do Rio de Janeiro, a sessão na Câmara dos Deputados que decidiu pela abertura do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, começou a deixar o local. Boa parte se disse decepcionada com o resultado da votação, mas principalmente, com os discursos dos deputados que citaram Deus e parentes para justificar os votos contra o mandato da petista.

Com seus três filhos pequenos já dormindo no final da votação, a família de Jucilene Nogueira, de 36 anos, declarou-se surpresa com a reação dos deputados. Porém, ela vê na decisão da Câmara uma chance de o país voltar a discutir política, com tranquilidade, em vários espaços.

“As pessoas estão justificando impeachment por questão da própria família, de religião e isso é um absurdo completo”, rechaçou. “As pessoas acham que o espaço de discussão política é no Congresso, o Palácio do Planalto, e esquecem que política é o dia a dia”.

O professor Fernando Mendes disse que a justificativa dos deputados, que em sua maioria mencionaram Deus ou a própria religião, além da família, em alguns casos, nominando parentes, como netos, é uma tentativa de “se abster de uma responsabilidade individual” e de eventual reação de eleitores contrários ao impeachment. “Eles [deputados] se escoram nessas instituições para não dar as verdadeiras razões de se votar contra a democracia”.



O vendedor João Arno, de 61 anos, responsabilizou também, pelo resultado, grupos de mídia que atuaram de maneira imparcial, segundo ele, para influenciar a opinião pública e pressionar os deputados. “Essa influência da mídia na política se resumiu nessa polarização que matou o verdadeiro debate sobre a democracia”, disse, antes de criticar o próprio governo por não ter aprovado leis para democratizar o setor. “Faltou a regulação dos meios”.

O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB), foi criticado e vaiado várias vezes. Réu na Operação Lava Jato, ele é acusado de ter recebido propina e de ter contas ilegais no exterior. “A liderança de Cunha torna a votação de hoje ilegítima”, disse a bailarina Nina Bolkay, de 29 anos. “É uma frustração. E ainda teve esses votos que citaram a família, minha mãe, meu pai”, criticou. Segundo ela, em discussão, estava o cometimento de crime de responsabilidade pela presidenta, que ficou em segundo plano.

Antes mesmo de os deputados chegarem aos 342 votos necessários para dar continuidade ao impeachment, o líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE), admitiu que o governo tinha perdido a votação. Ele disse que a derrota é “provisória”, e que ainda há chances de reverter a situação no Senado, por onde o processo vai tramitar.

Voltar às ruas é mesmo o plano da bibliotecária Denise Batista, de 48 anos. Apesar de decepcionada, ela disse que voltará a se mobilizar. “Espero que a gente continue lutando. Ainda tem o Senado. Temos que ter esperança em fazer valer a decisão do povo nas urnas”.

O professor Joaquim Nogueira, de 38 anos, pensa da mesma forma. “Viemos para cá com a família inteira para ver o governo ser defendido pelos representantes do povo e estamos vendo uma cambada de canalhas discursar. Isso é um golpe e a única forma de lutar na democracia contra isso é ficar mais forte”, disse. “Não vamos nos desesperar”.

Ao final da votação, apoiadores do ato nos Arcos da Lapa discursaram defendendo a manutenção da mobilização popular e cantaram músicas em referência à eventual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula em um novo processo eleitoral.

Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil

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