Victora participou da equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) que criou a curva de crescimento infantil, usada em pelo menos 140 países para estabelecer os padrões das medidas das crianças conforme a idade.
Ter o ponto de corte para microcefalia estipulado em 32 centímetros significa que as secretarias de saúde devem notificar como casos suspeitos da malformação todos os recém-nascidos com o perímetro da cabeça igual ou menor que 32 centímetros. Enquanto o Ministério da Saúde promete mudar esse ponto de corte para 31,9 centímetros para meninos e 31,5 centímetros para meninas ainda nesta semana, o estudo publicado na The Lancet indica 30,7 cm e 30,3 cm, respectivamente, para meninos e para meninas.
“Muita criança normal tem cabeça pequena, há uma variabilidade natural do tamanho da cabeça, assim como existem crianças mais altas e mais baixas, mais gordas e mais magras. Quando se usam o ponto de corte para o perímetro cefálico de tamanho muito elevado, se classificam muitas crianças normais como se fossem casos suspeitos e essas crianças passam por uma série de exames desnecessários”, defendeu o especialista, durante audiência pública na Câmara dos Deputados sobre o vírus Zika e a microcefalia.
Para o especialista, um ponto de corte alto pode submeter os recém-nascidos desnecessariamente a uma alta carga de radiação, e sobrecarrega o sistema de saúde, “que já está tendo dificuldades de lidar com a situação”, e ainda aflige as famílias gratuitamente. Ele acredita que entre os casos já confirmados de microcefalia, cerca de 40% dos notificados, alguns casos ainda serão descartados com o tempo.
O epidemiologista sugere que os recém-nascidos com medidas entre o ponto de corte por preconizado no artigo e 32 centímetros devem ser acompanhadas por especialistas, mas sem a necessidades de exames com radiação.
Além de adotar novos critérios, o especialista também sugere que o Ministério da Saúde reforce o treinamento para os profissionais que fazem a medida do perímetro cefálico. “A nossa rede de saúde mede muito mal a cabeça das crianças. Muitos profissionais arredondam a medida e isso é totalmente inadequado”, disse Victora.
No dia 22 de fevereiro, o Ministério da Saúde disponibilizou a todos os profissionais envolvidos no diagnóstico e tratamento de pessoas com zika e com microcefalia um curso online de 45 horas para capacitá-los.
Boletim divulgado terça-feira (1º) pelo Ministério da Saúde confirmou 641 casos de microcefalia e outras alterações do sistema nervoso, sugestivos de infecção congênita. Outros 4.222 casos suspeitos estão sendo investigados em todo o país.
Agência Brasil
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