"A população está bem conscientizada, mas sempre tem aquele que acha que nunca vai pegar e que a casa dele nunca vai ter foco. Hoje, em uma tampinha de garrafa, o mosquito coloca o ovo", diz secretário de Saúde de São Jorge do Ivaí, no PR.
Após superar um surto de dengue em 2007 e se tornar exemplo no combate ao Aedes aegypti, o pequeno município de São Jorge do Ivaí, no Paraná, voltou a ter problemas com o mosquito. Em cerca de três meses, a cidade de 5.600 habitantes identificou 20 casos da doença em moradores, contra dez notificados em todo o ano de 2015.
Em entrevista à Agência Brasil, o secretário de Saúde de São Jorge do Ivaí, João Casagrande, se mostrou preocupado. Ele explicou que os casos de dengue na cidade aumentaram depois que alguns moradores que saíram de férias retornaram de viagem e foram diagnosticados com a doença. Dos 20 casos confirmados, os cinco ou seis primeiros foram importados.
Uma das infecções recentes identificadas no município aconteceu no Rio de Janeiro. A pessoa ficou hospedada na casa de parentes que estavam com dengue. Outro caso similar, de acordo com o secretário, ocorreu em São Paulo, também durante visita à família. Há ainda um surto de dengue na cidade de Paranaguá, próxima ao litoral e muito visitada por moradores de São Jorge do Ivaí.
“As pessoas acham que nunca vão pegar uma doença como a dengue, mas pegam. Passamos o carro de som todos os fins de semana, fazemos a entrega de panfletos informativos. A população está bem conscientizada, mas sempre tem aquele que acha que nunca vai pegar e que a casa dele nunca vai ter foco. Hoje, em uma tampinha de garrafa, o mosquito coloca o ovo.”
Apesar do aumento de 100% dos casos apenas nos três primeiros meses deste ano, o secretário garante que a situação está sob controle. Segundo ele, a prefeitura reforçou a aplicação de veneno em bairros onde moram pessoas recentemente infectadas, além de manter as vistorias em todas as casas em busca de focos do mosquito.
“Sempre conseguimos entrar em todas as casas. Quando não dá certo, retornamos no dia seguinte. Tivemos um surto de dengue há alguns anos e foi quando começamos a fazer isso. Demos prioridade à eliminação de focos do mosquito e isso dá 100% de resultado porque, acabando com o foco, não há como o mosquito nascer.”
O infectologista do Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas (Unicamp) Rodrigo Angerami lembrou que as epidemias de dengue têm certa sazonalidade e que um novo surto é esperado a cada três ou cinco anos. Os motivos para o aumento de casos após uma baixa, segundo ele, vão desde uma infecção em massa por um mesmo subtipo, o que faz com que grande parte da população se torne imune, até a introdução de um novo subtipo de dengue.
“Estamos falando de um vetor que não transmite só dengue, mas uma série de diferentes arbovírus. A despeito de um resultado favorável e prolongado no combate ao mosquito, havendo perda da intensidade das ações de controle ou da adesão da população, por exemplo, a cidade volta a ter as mesmas vulnerabilidades de antes. É preciso ter o que chamamos de educação continuada e um programa ininterrupto de combate ao Aedes, que aconteça não só no período de maior incidência, mas ao longo de todo o ano”, alertou.
Agência Brasil
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