Segundo Sturani, italiano radicado no Brasil, os cientistas passaram a enxergar objetos do universo que não emitem luz nem radiação eletromagnética e “que não poderiam ser vistos de outra forma”. O valor da descoberta permitirá que astrofísicos conheçam mais sobre a composição das galáxias, os buracos negros e saibam mais sobre a dinâmica da gravidade teorizada por Albert Eistein há 100 anos.
De acordo com o pesquisador, observações de ondas gravitacionais serão rotineiras. “Quem sabe, teremos uma observação por mês”, prevê. Assim, cenas de ficções científicas sobre o espaço podem se tornar comuns no trabalho dos laboratórios, onde a medição de menos de um segundo de ruído pode fazer diferença para sempre.
Leia os principais trechos da entrevista com Riccardo Sturani:
Portal EBC: Como foi a contribuição do Brasil na pesquisa?
Riccardo Sturani: Eu cheguei ao Brasil, na Unesp, faz exatamente três anos. Já colaborava com o Ligo (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory) desde 2008 fazendo análise dos dados com modelos. Trabalhei com modelos porque temos que saber o que procurar mais ou menos para ter como enxergar a onda, que é fraquinha. Somos apenas dois grupos no Brasil. O país já estava participando da pesquisa com o hardware. O pessoal do Ligo está baseado na América do Norte, nos EUA, com equipe também na Europa, Japão, Índia.
E sobre parte do equipamento que detectou a onda?
Eu não fiz nada de hardware. O hardware ficou com o pessoal do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que conta com seis pesquisadores, o Odyllo Aguiar é o pesquisador principal. O experimento é como uma régua, só que mais apurada do que qualquer uma que exista na humanidade, pois ela pode medir diferenças de distâncias inferiores a um núcleo de um átomo.
É a primeira vez que se detecta uma onda gravitacional na história da astrofísica?
Já sabíamos das ondas gravitacionais ao observar os sistemas binários na nossa galáxia. Mas foi a primeira vez que uma onda gravitacional que chegou à Terra foi detectada e medida.
Podemos dizer que a pesquisa científica avançou com essa técnica?
Temos agora um novo jeito de explorar o universo. É como se até hoje você não pudesse ouvir nada e, depois de um tempo, passasse a ouvir mesmo que sejam sons muito fracos. Esses sons acontecem o tempo todo no universo, e não são suficientemente fortes para serem ouvidos. Então, passamos a conseguir “ver” objetos que não emitem luz, nem radiação eletromagnética, e que não poderiam ter sido vistos de outro jeito.
Agora, podemos saber mais sobre a composição da galáxia, sobre as estrelas que originaram os buracos negros, sobre como os buracos negros se juntam em duplas, etc.
O filme Interestelar (de Christopher Nolan, 2014) ficou popular por abordar vários conceitos reais do tempo-espaço em uma obra de ficção. As ondas gravitacionais têm relação com essa abordagem?
Gostei do filme. A maioria dos meus amigos não gostou. Nele, fala-se sobre a mudança da passagem do tempo para o ser humano na presença dos buracos negros. A obra tem mais a ver com o movimento dos buracos negros. Para estudar as ondas gravitacionais, temos que levar em conta esse movimento, mas vai além. Isso é só um dos aspectos do estudo das ondas gravitacionais.
Qual é o próximo passo científico?
O Ligo vai fazer a retomada dos dados em oito meses. A partir de agora, temos que melhorar a medição. Na minha opinião, temos que fazer modelos ainda melhores. Temos mais para desenvolver a precisão parâmetros físicos.
O projeto já está tentando medir outras ondas gravitacionais?
Imagine o seguinte: esse evento ocorreu cinco dias depois do começo tomada de dados. Nos próximos seis meses, teremos uma observação com sensibilidade acrescentada. A observação deve virar rotina a partir do ano que vem, quem sabe até uma por mês. Vamos aprender mais sobre os buracos negros e a dinâmica da gravidade. São observações que podem ser feitas apenas em laboratório.
A partir de agora, o senhor continuará na pesquisa?
Sim, agora começa a parte mais divertida. Todo mundo esperava por isso. Temos muito trabalho para termos modelos melhores capazes de gerar mais conhecimento astrofísico.
Leyberson Pedrosa e Luiz Cláudio Ferreira no Portal EBC/Agência Brasil
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