sexta-feira, janeiro 08, 2016

Bebidas e eletrônicos já estão mais caros: reajustes foram de 10 a 30%


O consumidor começa a sentir no bolso o aumento da tributação sobre bebidas alcoólicas e produtos de informática provocado pela Medida Provisória 690, sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 1º de janeiro.

O vinho nacional, por exemplo, que pagava R$ 0,73 por garrafa de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), agora, será cobrado 10% sobre o valor do produto na saída da indústria – com isso, uma garrafa de R$ 50 deixa de pagar R$ 0,73 de imposto e passa a pagar R$ 5.



Algumas lojas já estão praticando os preços novos sobre os produtos afetados pela MP (somente as chamadas bebidas quentes, como vinho, cachaça e uísque). É o caso da importadora e distribuidora Lacomex, cujos produtos já estão entre 10% e 30% mais caros. “Infelizmente, o varejo e o consumidor acabam pagando a conta do governo”, afirma o diretor da empresa, Luis Figueiredo. Muitos dos produtos que foram incluídos na medida provisória já vinham passando por reajustes por causa da alta do dólar e do euro em relação ao real. “Mas nesse caso, você ainda consegue montar um estoque e se prevenir da variação cambial. Já o imposto é implacável, é cobrado na hora”, conta Figueiredo.


Além do aumento, houve uma mudança na cobrança do imposto, que passou a ser calculada com uma alíquota sobre o valor do produto e não mais, como ocorria antes, por um valor fixo em relação a determinada quantidade produzida. Ou seja, produtos que já eram mais caros, passarão a custar mais ainda.

O diretor comercial da Casa dos Frios, Licínio Dias, também confirma que os preços ao consumidor final sofrerão aumentos de 10% a 30% com a proximidade do Carnaval. “Muitos varejistas ainda têm os produtos em estoque, comprados ao preço antigo. Mas na medida em que esses itens forem vendidos, os comprados com o novo valor de imposto chegarão às prateleiras”, explica. A avaliação é a mesma do presidente do Conselho da Associação Brasileira dos Importadores e Exportadores de Bebidas e Alimentos (ABBA), Adilson Carvalhal. “O aumento para o consumidor é automático e deve chegar ainda este mês, no máximo no início de fevereiro. Nas festas de final de ano, as pessoas se organizaram com antecedência e não sentiram tanto a alta”, pondera. “Principalmente com a chegada do Carnaval, acredito que possa haver substituição de produtos e aumente a procura por bebidas que subiram menos de preço”, completa Carvalhal.

O aposentado Sérgio Barreto conta que escolhe seus vinhos pelo tipo da uva, e afirma que tem optado pelos rótulos nacionais ou latino-americanos. “Felizmente, temos aqui uvas quase tão boas quanto as produzidas em Portugal, França ou Itália. Mesmo com a alta, encontro vinhos muito bons feitos aqui mesmo no Vale do São Francisco”, avalia.

TECNOLOGIA - Em relação aos produtos de informática, a medida acaba com a isenção de PIS/Pasep e do Cofins sobre determinados itens. Essa isenção fazia parte do programa de inclusão digital do governo federal. “Assim que a nova medida começar a impactar o preço final dos produtos tecnológicos, teremos de repassar o aumento para o consumidor”, afirma o diretor da R4 Tecnologia, Rildo Cezar. “Acredito, inclusive, que algumas empresas podem segurar seus estoques para obter uma margem maior de lucro e ajudar a cobrir os novos gastos”, completa.

Conhecida como Lei do Bem, a Lei 11.196/05, criada em 2005, é um incentivo fiscal à inovação tecnológica que previa a isenção de PIS e Cofins para computadores, tablets, smartphones, modems e roteadores. “Sempre repassamos aos clientes quaisquer benefícios decorrentes dos incentivos fiscais concedidos pelo governo, e este foi o caso da Lei do Bem”, conta o diretor de compras da Nagem, Ricardo Monteiro. “Com a perda dos benefícios – que representam 9,25% do custo final – nós, assim como todo o mercado, teremos que nos adequar à nova realidade de valores, que consequentemente será repassada ao consumidor. As margens praticadas não nos permitem absorver esses valores”, explica o diretor.


O engenheiro agrônomo Guilherme Soares só comprou um notebook agora, pois seu antigo modelo quebrou. “Acabei gastando mais do que queria. Meu plano era comprar um aparelho de até R$ 1.600, mas estou levando um de R$ 1.800 que já está na promoção”, conta. Já o advogado André Jales preferiu comprar o smartphone que queria dar de presente na internet, onde encontrou lojas que possuíam o produto ainda com o preço antigo. “O mesmo modelo que na loja física está por R$ 900, no e-commerce eu encontrei por R$ 700, com frete grátis. Vou comprar agora mesmo, antes que aumente”, completa.


O setor, inclusive, teme que o aumento nos preços não resulte em aumento na arrecadação, mas pelo contrário, impacte negativamente o consumo, que já vem caindo. O faturamento da indústria eletroeletrônica deve atingir R$ 148,3 bilhões em 2015, uma queda real (descontada a inflação) de 10% em relação ao ano passado (R$ 153,8 bilhões), de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee).

Em nota, o presidente da entidade, Humberto Barbato, lamenta o veto à retomada escalonada dos benefícios do programa de inclusão digital, proposta pelo setor, pois “desta maneira além de prejudicar o consumidor aumentando preços dos produtos fabricados no Brasil, trará como consequência a volta da informalidade na economia, com a diminuição de empregos formais e da arrecadação de outros impostos na cadeia, além de estimular o contrabando e o descaminho de tais produtos”. Para 2016, a Abinee afirma que as empresas projetam queda real de 6% no faturamento. O emprego também deverá cair 2%, com 252 mil trabalhadores no fim de 2015, contra 293,6 mil em 2014.

JC Online / Economia

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