A Polícia Federal (PF) confirmou, na manhã desta sexta-feira (11), que quatro diretores das empresas OAS, Coesa, Barbosa Mello e Galvão Engenharia foram presos durante a Operação Vidas Secas - Sinha Vitória, que investiga desvios de R$ 200 milhões em obras da transposição do Rio São Francisco. As prisões foram realizadas no Rio de Janeiro, São Paulo,Distrito Federal e no Ceará. Algumas empresas ligadas à organização estariam em nome do doleiro Alberto Youssef e do lobista Adir Assad, investigados na Operação Lava Jato.
As investigações tiveram início em 2010. Os empresários teriam usado empresas fantasmas para desviar cerca de R$ 200 milhões das verbas públicas destinadas às obras, no trecho que vai de Custódia, no Sertão de Pernambuco, a Monteiro, na Paraíba. O consórcio cuidava dos lotes 11 e 12, dos 14 lotes envolvidos na transposição do rio. Os contratos investigados até o momento são de R$ 680 milhões.
"Um grande projeto como a transposição do Rio São Francisco, que poderia amenizar o sofrimento de muitas famílias nordestinas, acaba motivando indivíduos de má índole a se aproveitarem da boa fé dessas pessoas. Isso tudo sempre acontece de forma ilegal", pondera o o superintendente da PF em Pernambuco, Marcello Diniz Cordeiro.
Nesta fase está sendo apurado o núcleo econômico, que são as empreiteiras e o financeiro de nível operacional. Porém, a PF ainda investigará os núcleos administrativo, operacional e político. "Tudo indica, pelo contexto do grupo de Youssef, que essa verba foi destinada para políticos", adianta o coordenador da operação, Felipe Leal.
A Polícia também acredita que toda a obra da transposição foi superfaturada. "Vai ver nem precisava desses mais de R$ 500 milhões. Vai ver com R$ 300 milhões já poderia ser feito isso. Se houve esse superfaturamento, que há fortes indícios, se houve desvio de verba pública federal e mesmo assim a obra continuou, qual seria realmente o valor dessas obras que deveriam ser exigidos para a construção?", questiona o superintendente.
A conclusão da obra também pode ter demorado mais ficar pronta para que os envolvidos no esquema continuassem a lucrar com as irregulariedades. "A princípio, deve ter tido esse atraso, mas a dimensão e quanto tempo foi só quando tivermos o laudo pericional do assunto. O valor alto tem uma grande influência para o interesse de que essa obra continue por mais tempo", comenta Diniz Cordeiro.
De acordo com o superintendente, ainda há indícios de que as fraudes eram cometidas a depender da necesidade de arrecadar valores ilícitos. "Havia fraudes que dependendiam da necessidade. Aumentavam o volume de terra mexida, pelo menos, no papel, na medição, mas, na realidade, não havia esse aumento de fato. Isso também vai objeto da perícia", completa dizendo que não só o superfaturamento pode ter acontecido neste dois lotes.
Ao todo, foram cumpridos 32 mandados judiciais nos estados de Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Bahia e Brasília, sendo quatro mandados de prisão no Rio de Janeiro, Distrito Federal, São Paulo e Ceará, quatro mandados de condução coercitiva no Rio Grande do Sul, em São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro. Ainda houve 24 mandados de busca e apreensão, sendo sete em Pernambuco.
No Recife, a Polícia cumpriu mandados nos bairros de Boa Viagem, Coelhos e Graças. Equipes da PF ainda atuaram nos municípios de Sertânia e Salgueiro, no Sertão do Estado. Os investigados devem responder pelos crimes de associação criminosa, fraude na execução de contratos e lavagem de dinheiro.
Empresas não comentam
A reportagem do G1 entrou em contato com cinco empresas listadas pela PF em endereços pernambucanos. A Concremat Engenharia e Tecnologia S/A e a Galvão Engenharia, ambas com sede em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, atenderam às chamadas, mas não indicaram porta-vozes para comentar o assunto.
A OAS Engenharia, também em Boa Viagem, ainda não se posicionou sobre a operação da PF. A Arcadis Logos S/A, no bairro dos Coelhos, área central da cidade, não atendeu às ligações. A Ecoplan Engenharia Ltda., sediada no bairro das Graças, na Zona Norte, não quis falar com a reportagem.
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