“Professores e alunos ficaram sem se comunicar por meio do WhatsApp; empresas deixaram de comprar e vender por meio dele. A proibição não foi a um determinado tipo de mensagem ou interlocutor, mas a todos os interlocutores, independentemente do uso que fazem da rede social”, disse o professor Gilberto Lacerda, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), especialista em redes sociais.
Por determinação da 1ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo (SP), o aplicativo estava bloqueado desde a 0h de hoje (17). A medida foi revertida, em caráter liminar, por volta do meio-dia, pelo desembargador Xavier de Souza, da 11ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo. Apesar da pouca duração, o bloqueio recebeu críticas de especialistas.
“Vários estudos mostram a relevância do WhatsApp para a educação. Esse bloqueio representou uma quebra na comunicação entre professores e alunos, entre alunos e alunos e em grupos de estudos. Distribuidores se comunicam por meio do WhatsApp; governadores usam esse aplicativo para dar transparência às suas ações e para gerir o Estado. O próprio Judiciário, e digo isso por ter trabalhado neste poder, tem canais de comunicação, educação e de trabalho que fazem uso desse canal”, disse Lacerda.
Ajuda para estudantes
Prestando vestibular para cursos na área de Tecnologia da Informação, o estudante Eliel Alves, de 18 anos, passa pelo menos quatro horas diárias no celular. Boa parte desse tempo é dedicada a tirar dúvidas com professores ou colegas. “Eu uso isso [WhatsApp] para ampliar meus conhecimentos. Não há justificativa para me privarem disso”, disse o estudante.
Também estudante, Diane Melissa, de 17 anos, diz que o WhatsApp a ajuda a tomar conhecimento das tarefas escolares. “A gente costuma fotografar o quadro com a matéria para estudar melhor ou para enviar a imagem aos colegas que faltaram à aula”, conta a estudante. “Apesar desse bloqueio ter durado apenas algumas horas, confesso que me senti ilhada e com medo da próxima conta de telefone, já que o aplicativo me faz economizar uns R$ 100 por mês com ligações.”
A exemplo do professor da UnB e dos estudantes, a especialista em internet e marketing – e autora do livro Facebook Marketing – Camila Porto não identifica qualquer razão para que o Judiciário tenha bloqueado o aplicativo. “Não acredito que o WhatsApp fira qualquer direito, a ponto de ser banido, por maior que seja o crime. Vejo-o como uma tecnologia que reduz o custo das empresas e como uma ferramenta de atração, com impacto direto nos negócios e nas comunicações interna e externa dos empreendimentos”, disse Camila.
“Além de gastar mais dinheiro com serviços como o de telefonia [em função do bloqueio deste aplicativo], as empresas deixam de ganhar porque deixam de gerar vendas”, acrescentou. Segundo Camila, o Facebook gera quase US$ 10 bilhões em vendas só no Brasil. Nos Estados Unidos, país líder do ranking de vendas a partir do Facebook, o volume chega a US$ 70 bilhões. “Isso mostra que as redes sociais vão muito além do entretenimento. Dos cerca de 2 bilhões de usuários da internet no mundo, 900 milhões usam o WhatsApp para os mais diversos fins. É praticamente a metade dos internautas do planeta”, acrescentou.
O taxista Jerônimo Manoel, de 63 anos, foi prejudicado pelo bloqueio do WhatsApp. “Tenho um grupo que me informa onde tem corrida, e outro pelo qual os clientes me chamam. Atrapalhou bastante o meu trabalho, porque não uso nenhum outro aplicativo. O que restou foi esperar as ligações.”
Antenado com as tecnologias de comunicação, o servidor público Samuel Portela, de 26 anos, conseguiu se esquivar dos problemas com o WhatsApp usando outras mídias sociais. “Consegui me comunicar por meio do Facebook e do Telegram. Apesar de eles não darem acesso a toda a minha rede, não cheguei a ter problemas.”
Para o professor Lacerda, a experiência de ficar sem a plataforma por algumas horas pode representar, também, uma oportunidade para as pessoas fazerem reflexões sobre a dependência causada por essa tecnologia. “Não deixa de ser uma sacudida interessante, para nos olharmos como indivíduos e vermos a dependência que criamos. Essa dependência tecnológica representa vantagens e perigos que já vêm sendo objeto de estudo de muitas pesquisas. Portanto, o vácuo desse bloqueio pode nos levar a um momento de reflexão sobre isso.”
Agência Brasil
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