Em votação secreta, a Câmara dos Deputados elegeu nesta terça-feira (8), por 272 votos a 199, a chapa alternativa integrada por deputados de oposição e dissidentes da base governista para a comissão especial do processo de impeachment da presidenteDilma Rousseff. A sessão que definiu os nomes dos deputados responsáveis por analisar o pedido de afastamento da chefe do Executivo foi marcada por tumultos no plenário.
Deputados governistas inconformados com o fato de Cunha ter determinado votação secreta e ter autorizado a candidatura de uma chapa avulsa tentaram impedir a eleição. Eles chegaram a quebrar parte das urnas eletrônicas instaladas no plenário para a votação.
A chapa vencedora, batizada de "Unindo o Brasil", foi protocolada por parlamentares oposicionistas e dissidentes da base governista na tarde desta terça com a adesão de 39 deputados de PSDB, SD, DEM, PPS, PSC, PMDB, PHS, PP, PTB, PEN, PMB, PSB e PSD (veja a lista com os deputados ao final desta reportagem).
Ao final da votação, os deputados oposicionistas que derrotaram o governo comemoraram intensamente no plenário. Depois, cantaram o Hino Nacional erguendo uma bandeira do Brasil.
Ao todo, a comissão especial será formada por 65 parlamentares titulares e o mesmo número de suplentes. Os partidos que não tiveram indicações na chapa vencedora serão convocados a apresentar as indicações para completar as vagas.
Cunha informou no plenário que os partidos tem até as 14h desta quarta-feira (9) para indicar os nomes que faltam para a chapa da oposição.
Confusão
Assim que Eduardo Cunha autorizou o início da votação, deputados governistas solicitaram a palavra nos microfones do plenário para questionar a decisão de fazer uma votação secreta. O peemedebista, contudo, ignorou as manifestações e cortou o microfone de alguns parlamentares.
Para tentar evitar que os deputados registrassem o voto, parlamentares aliados quebraram urnas eletrônicas instaladas no plenário para a escolha dos integrantes do colegiado.
Policiais legislativos tentaram conter os deputados mais exaltados, mas não conseguiram impedir a depredação de alguns equipamentos. Em meio à confusão, houve empurrões entre parlamentares e seguranças. Deputados que estavam próximos às urnas reclamaram de agressões.
O G1 flagrou o deputado Afonso Florence (PT-BA), ex-ministro do Desenvolvimento Agrário do governo Dilma, quebrando duas urnas eletrônicas.
Questionado pelo G1 sobre a depredação da urna, o petista disse que “isso não é notícia”.
“Eduardo Cunha rasgou o regimento. Isso não é notícia, a notícia é o resultado. Tenho que correr porque vão proclamar o resultado. Estou preocupado com o resultado”, justificou, desligando o telefone em seguida.
Apesar da confusão, o presidente da Câmara decidiu manter a eleição. Líderes governistas subiram à Mesa Diretora (veja acima)para cobrar que Eduardo Cunha encerrasse o processo de escolha dos integrantes da comissão especial.
O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), chegou a apontar o dedo para o rosto do presidente da Casa, que estava cercado por parlamentares governistas.
Bastante exaltados, a líder do PC do B, Jandira Fegalli (RJ), e o deputado Sílvio Costa (PTdoB-PE) gritavam no plenário, criticando a decisão de Cunha. A eleição, porém, continuou e foi proclamada a vitória da chapa da oposição, com 272 votos contra 199.
'Maioria artificial'
O líder do governo na Câmara classificou o resultado da votação de “maioria artificial”. José Guimarães disse ter esperanças de que a análise do mandado de segurança no STF reverta a situação.
“O resultado de uma maioria artificial que foi feita desobedecendo totalmente as regras, as mais elementares regras do regimento. Portanto, estamos seguros que o Supremo reverterá essa decisão”, enfatizou.
Para o líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), a chapa pró-impeachment venceu porque representa a sociedade.
"Foi uma chapa vencedora porque expressou o sentimento da nação. A Dilma e o PT queriam uma chapa que representasse o interesse da presidente Dilma e do ex-presidente Lula", discursou o tucano na tribuna do plenário.
O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), considerou que o processo de escolha dos integrantes da comissão especial foi "viciado". A exemplo do líder do governo, Sibá também acredita que o Supremo irá "barrar a situação".
Na opinião do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), a votação acendeu um sinal amarelo para o governo, que precisará agora de um trabalho para tentar reverter votos. "Dilma terá dificuldade porque ela não tem nenhuma relação política com o parlamento", ironizou.
O líder do PMDB também condenou a votação e disse que "esse tipo de procedimento é que está equivocado e leva a distorções".
"A questão está a cargo do Supremo. E é lamentável que num tema como esse aqueles que defendiam a posição A ou posição B ficaram escondidos atrás do voto secreto. O próprio parlamento já acolheu há tempos atrás uma conquista da sociedade. Então, num tema grave como esse não tem por que o parlamentar se esconder", avaliou Leonardo Picciani.
Um dos articulares jurídicos do PT, o deputado Wadih Damous (PT-RJ) também criticou a votação e demonstrou confiança no Supremo.
"É um golpe parlamentar em marcha. Houve uma votação aqui abertamente inconstitucional, tanto no que diz respeito ao voto secreto quanto às chapas avulsas e nós temos a certeza de que o Supremo, o mais rápido possível, reestabeleça a ordem jurídica", declarou.
Apesar da derrota para o governo, o deputado Luiz Sérgio (RJ) disse que o resultado pode ser analisado sob outra ótica. "Para ocorrer o impeachment, precisa ter 171 votos. Essa foi uma votação secreta, onde o sentimento de traição ainda é muito maior, e a chapa 1 obteve 191 votos, suficiente para barrar o processo de impeachment", enfatizou.
Do G1, em Brasília
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