Investigadores foram até a casa de Jardel fazer buscas (Foto: Divulgação/MP)
Na manhã desta segunda-feira (30), investigadores do MP e agentes da Polícia Civil cumpriram mandados de busca e apreensão no apartamento de Jardel e no gabinete dele na Assembleia, além de outros seis endereços. A operação, nomeada de Gol Contra, tem o objetivo de encontrar mais provas das irregularidades.
Durante mais de dois meses, o informante passou detalhes das fraudes aos promotores do MP. A autorização da Justiça para acesso a escutas telefônicas e vídeos ajudou a comprovar o esquema.
A partir de toda a apuração, o procurador ressalta que, no mínimo, será possível denunciar o deputado pelos crimes de concussão, peculato, lavagem de dinheiro e, talvez, por tráfico de drogas.
Em uma das gravações, o delator tenta entregar a Jardel R$ 3 mil, que corresponde à metade de seu salário. Mas o deputado, que recebe os servidores em seu gabinete, diz que o repasse teria de ser feito a outro assessor, encarregado de recolher o dinheiro.
Para disfarçar, Jardel usa um código. Ele diz que o valor é para o pagamento de camisas. Abaixo, confira a transcrição:
Jardel: Esse dinheiro aí é do [nome preservado], entrega pro [nome preservado] esse dinheiro aí.
Assessor 1 [delator]: Tá. Tranquilo.
Jardel: É das camisa, pra ele… [pra ele] pagar. Entendeu?
Assessor 1 [delator]: Ah, entendi. Entendi. Tá bom.
Jardel: É os três mil da camisa, né?
Assessor 1 [delator]: É.
Jardel: Entrega pra ele, que ele foi… ele saiu ali com… com o [nome preservado].
Mais tarde, o delator encontra o colega que receberia o dinheiro, com outro funcionário do gabinete, e faz a entrega.
Assessor 1 [delator]: Eu fui dar o dinheiro pra ele, ele mandou eu dar pra ti.
Assessor 2 [Roger, que recebe o dinheiro]: Não, [ele mandou dar] pro [funcionário], que é pra dar pra ele.
Assessor 2 [Roger, que recebe o dinheiro]: Ele mandou o [funcionário] pegar de todos nós. Então tu dá pra mim, eu dou pra ele.
Assessor 1 [delator]: Então tá.
Assessor 1 [delator]: Oito, nove, dez, onze, doze… quinze, dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte e um… três, quatro, vinte e cinco.
De acordo com a investigação, o dinheiro extorquido dos assessores bancava despesas pessoais de Jardel e servia até para pagar o aluguel do apartamento onde mora um irmão e a mãe dele.
Uma das escutas telefônicas autorizada pela Justiça mostra que Jardel liga para um de seus assessores e diz que o pagamento do aluguel não foi realizado.
Jardel: Amanhã é dia dez, né, [assessor]? Esqueceu de... de fazer o negócio da minha mãe, [do] apartamento, e eu quero o negócio amanhã, o negócio do... o negócio do... da...
Assessor 3 [Ricardo]: Não, eu não, Jardel!
Jardel: [fala sobreposta] o dinheiro pro... O que é que vocês fazem, cara? Eu dou o dinheiro, dou a nota pra vocês pagarem, vocês esquecem de pagar as coisas?
Assessor 3 [Ricardo]: Não, eu vou... vou fazer o seguinte, ó: eu vou ver amanhã.
Jardel: [...] minha mãe, não, né, cara! O cara ligando pra minha mãe, minha mãe já é doente...
Notas frias eram usadas em viagens do deputado
(Foto: Reprodução)
Quando Jardel fala que entregou notas para o assessor, seriam notas frias de hotel para receber diárias por viagens não realizadas. Em outra ligação, um dos assessores ligou para o colega e pediu o número da imobiliária para avisar que faria o pagamento com dinheiro das diárias.
Assessor 3 [Ricardo]: Tem o número dessa p$*&% dessa imobiliária?
Assessor 3 [Ricardo]: Eu vou dar um cheque pré-datado até eu fazer essas diária aí e entrar as diária pra mim. Mesmo que eu pague o juro, aí o dinheiro fica pra mim.
Segundo a investigação, até a fatura do cartão de crédito da mulher de Jardel era paga com dinheiro desviado do gabinete.
Além disso, a investigação também descobriu a ligação de Jardel com um traficante de drogas. E a compra das drogas também seria feita com dinheiro desviado.
O relatório do Ministério Público diz ainda que a droga entregue pelo traficante era consumida por Jardel durante programas com uma prostituta, também contratada como funcionária fantasma do gabinete.
Comissão de Ética da Assembleia
analisa denúncias
Logo após o início da operação Gol Contra, do Ministério Público, agentes cumpriram mandado de busca e apreensão no gabinete do deputado na Assembleia Legislativa. Segundo a presidência da Casa, os documentos do MP já foram enviados para análise da Comissão de Ética.
O deputado Edson Brum (PMDB) disse que o caso será tratado "com transparência", a exemplo da firma como foi conduzido o processo que envolveu as investigações contra o deputado Diógenes Basegio (PDT), que teve o mandato cassado recentemente.
"O MP chegou cedo aqui. O Marcelo Dornelles [procurador-geral] imediatamente protocolou quatro ofícios, que a procuradoria está analisando. Já mandei isso para a corregedoria e a Comissão de Ética, a decisão sai de lá", disse Edson Brum.
Edson Brum, inclusive, afirma que o processo será tratado dentro das prioridades, como foi o caso de Basegio. "O processo do Basegio durou cinco meses. Se comparado com processos judiciais, poderia levar cinco, seis anos. Nós vamos fazer nossa parte", salienta.
No momento das buscas em seu apartamento, Jardel negou as fraudes. Assim como um dos assessores também investigados por participar do esquema, que negou envolvimento.
Da RBS TV
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