sexta-feira, novembro 13, 2015

Reservatórios no Nordeste caem a nível crítico

Lagoa secou há quatro meses na cidade de Pavussu, no Piauí - (Agência Globo/Pedro Kirilos)

A forte seca que castiga o Nordeste deixou os reservatórios das hidrelétricas da região em nível crítico, o menor de sua história. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o volume de água armazenado nas usinas chegou a 6,6% no último dia 11, uma queda de 43,3% em relação há um mês, quando o nível estava a 12%. Comparado com janeiro, quando estava em 18,3%, o volume despencou 62,8%.

Para se ter uma ideia, o menor nível já registrado nos reservatórios da região até então era o de novembro de 2001, ano do racionamento de energia, quando ficou, em média, em 7,84%. Para especialistas, o risco é que, com a escassez de água nas hidrelétricas, as usinas térmicas mais caras (como as movidas a diesel) sejam religadas, encarecendo a conta de luz.

A medida pode ser necessária mesmo com o alto volume de chuvas na Região Sul, onde os reservatórios estão acima de 97%. Isso porque o sistema interligado nacional tem um limite de capacidade de transmissão de energia de uma região para outra do país. A Região Nordeste responde por cerca de 12% da energia gerada no país.

João Carlos Mello, presidente da consultoria Thymos, destaca que a situação é mais grave nas usinas do Rio São Francisco. Cita a hidrelétrica de Sobradinho (que responde por 58,2% da energia da região), cujo nível chegou a 2,88%, o menor da história.

— O motivo para um nível tão baixo está relacionado a fatores climáticos como o El Niño. Com isso, você tem a região Sul cheia de água, e o Sudeste com chuvas dentro da média — disse Mello.

GERAÇÃO EÓLICA

Rafael Kelman, da PSR Consultoria, acredita que as térmicas mais caras terão de ser acionadas caso a situação da região não melhore, principalmente a partir de dezembro, quando começa o período das chuvas. Segundo Kelman, apesar do nível baixo, a usina de Sobradinho é obrigada a liberar 900 metros cúbicos de água por segundo, e estão chegando ao seu reservatório só 300 metros cúbicos por segundo. Ou seja, ele está se esvaziando lentamente.

— A produção de energia eólica está superior à hídrica no Nordeste. Se não chover, não tem outra saída senão ligar mais térmicas de custo mais caro — disse Kelman.

No Nordeste, as hidrelétricas estão produzindo 2.725 megawatts (MW) médios, enquanto os parques de energia eólica estão gerando 3.275 MW. A geração de térmicas está em 3.400 MW.

Segundo o ONS, o nível dos reservatórios de Centro-Oeste e Sudeste — que respondem por 70% da energia gerada no país — está em 27,4%, acima dos 23,04% de novembro de 2001, mas também no menor patamar desde março deste ano. Na Região Sul, o nível está em 97,2% da capacidade e acima dos 86,9% de 2001. No Norte, em 22,1%, acima dos 17,9% do ano do racionamento, mas o menor nível de 2015.

Assim, diz Mello, o governo pode ser forçado a religar as térmicas mais caras (com custo variável unitário acima de R$ 600/MWh) já em 2016. Em setembro, essas unidades foram desligadas, o que, segundo estimativas do governo, permitiu uma economia de R$ 5,5 bilhões neste ano e a redução do valor da bandeira vermelha (tarifa extra cobrada na conta de luz dos brasileiros) de R$ 5,50 para R$ 4,50 a cada 100 kW consumidos.

— O que está ajudando hoje é que a atividade econômica do país está fraca. É isso que está segurando o risco de racionamento — destacou.

Já o Ministério de Minas e Energia (MME) disse, em nota, que “os órgãos e entidades que compõem o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) acompanham continuamente as condições de suprimento energético no país”. O MME lembrou que o “CMSE avaliou, em sua mais recente reunião, que o risco de qualquer déficit de energia no Nordeste é zero neste ano, da mesma forma que nas demais regiões”. Por isso, “neste momento não há evidências de que seja necessário religar essas usinas térmicas”, diz a nota. O MME destacou ainda que foram adicionados, ao longo do ano, 4.436 MW ao sistema, com novos projetos de geração.

SITUAÇÃO CONTORNÁVEL

Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) do Instituto de Economia da UFRJ, destacou que, apesar do nível crítico dos reservatórios do Nordeste, é preciso aguardar o início do período das chuvas:

— Esses níveis tão baixos mostram que vivemos um problema muito grave de abastecimento de água. Mas, em termos de energia, a situação é contornável pelo fato de o sistema elétrico ser interligado. Além disso, temos as eólicas que estão produzindo energia na região.

O Globo

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