Seca coloca em evidências ruínas da antiga cidade de Casa Nova (Foto: Silvana Leite / Arquivo Pessoal)
Em entrevista ao G1, o diretor de operação da Chesf, José Ailton de Lima, explicou que o reservatório de Sobradinho tem 34 bilhões de metros cúbicos de água. Deste total, 28 bilhões integram o volume útil, que é usado na produção de energia e no abastecimento das famílias. Os demais seis bilhões fazem parte do chamado "volume morto", que é uma reserva técnica programada para ser usada apenas em momentos de emergência.
"Em princípio, o projeto é para que [volume morto] não seja usado. Diante da necessidade, ele não será utilizado para gerar energia elétrica, mas para resolver o problema de abastecimento", conta o diretor de operação. Conforme José Ailton, a liberação da reserva técnica irá garantir a captação de água das populações locais, como também a manutenção dos animais e da produção agropecuária.
Com a chegada ao "volume morto", a produção de energia no reservatório de Sobradinho será inviabilizada. Entretanto, José Ailton detalha que não existe risco de crise energética. Ele detalha que o nordeste tem abastecimento de energia elétrica assegurado por meio de geração térmica, eólica e outras hidrelétricas. Além disso, explica que se, necessário, há possibilidade de importação de energia de outras regiões.
"O problema nosso não é energia elétrica. Não existe crise, nem risco de crise. O sistema interligado sustenta [a produção]", atesta. José Ailton esclarece que não existe consumo de água durante produção de energia. Entretanto, o líquido é necessário para garantir o funcionamento das turbinas da hidrelétrica. São seis no total. Com baixo nível da água, entretanto, apenas duas estão funcionando.
Redução da vazão
Diretor de operação da Chesf, José Ailton de Lima explica que o reservatório de Sobradinho, o maior do nordeste, foi criado em 1979 para funcionar com vazão de 2.060 metros cúbicos por segundo (m³/s). Entretanto, devido à seca que atinge a região, vem sendo reduzida desde 2013. Hoje, a vazão é 900 m³/s. Com a chegada ao volume morto, a perspectiva é de que o escoamento chegue a 800 m³/s.
“A nossa solicitação [da Chesf] ao Ibama é para que se comece a reduzir [a vazão para 800 m³/s] agora em dezembro, logo após chegar ao volume morto. O Ibama deliberou que isso só irá ocorrer a partir do dia 20 de dezembro”, atesta.
Conforme José Ailton, a redução da vazão não irá comprometer a captação das comunidades. “Os 900 m³/s, que é praticado desde agosto, nunca trouxe problemas. Quando eu reduzir para 800 m³/s, haverá uma queda no nível do rio em 15cm ou 20cm. Se a bomba de captação já estiver no limite [nas comunidades], será preciso colocá-la mais perto água”, alerta.
O cenário pode mudar e a vazão ser restabelecida com chegada das chuvas. Novembro é conhecido como período úmido, entretanto, a região ainda sofre com a seca. “Não sabemos se irá chover muito em dezembro ou janeiro. Estamos na expectativa de que chova”, afirma.
Reservatório estratégico
Alimentado pelo Rio São Francisco, o reservatório de Sobradinho integra um cascata de hidrelétricas, sendo a maior e mais importantes delas.
Localizada abaixo da hidrelétrica de Três Marias (MG), é responsável por alimentar as usinas de Itaparica, Moxotó (perto de Paulo Afonso), Complexo de Paulo Afonso (I, II, II e IV) e Xingó (entre Alagoas e Sergipe).
“Toda essa cascata é alimentada a partir de Sobradinho. No momento em que zerar [o volume útil], deixo de gerar energia em Sobradinho, mas não deixa de gerar no resto da cascata”, diz José Ailton sobre a continuidade de produção na cadeia, por meio da utilização do volume morto. Além da Bahia, o reservatório de Sobradinho atende a municípios de Pernambuco, Sergipe e Alagoas.
Tô aqui há 26 anos e não tinha presenciado seca desse jeito.
Silvana Leite Nunes,
secretária do Comitê de Bacia do Lago de Sobradinho
Falta de chuva
Conforme Silvana Leite Nunes, secretária do Comitê de Bacia do Lago de Sobradinho, a seca que atinge a região coloca em evidência ruínas da antiga cidade de Casa Nova. Localizada em um dos ponto mais profundas do lago de Sobradinho, a região estava inundada há 38 anos. "Até o cemitério reapareceu", revela.
Na cidade de Sobradinho, onde fica o reservatório que está prestes a zerar o volume de água, ela conta que ainda não foi registrado racionamento de água na sede do município. Na zona rural, entretanto, diz que residências que contavam com abastecimento três vezes por semana já têm ficado mais de 20 dias sem água.
"Esse é caso pelo menos da minha Comunidade, Canaã, que é abastecida por adutora. Lá chegou a ficar 22 dias sem água", conta. As zonas rurais que não contam com adutoras, ela explica que os moradores ficam dependentes de carros-pipa.
Silvana Leite ressalta que o calor é grande e que a chuva, prevista para começar ainda esse mês, não deu sinal de que chegará à região. "Tô aqui há 26 anos e não tinha presenciado seca desse jeito", atesta.
Do G1 BA
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são publicados somente depois de avaliados por moderador. Aguarde publicação. Agradecemos a sua opinião.