Deusa de Ébano, Beatriz Ramos, e Aparecida Ferraz, diretora da EREM
Músico Gildo Madeira e as professoras Gláucia Xavier, Jussara Araújo e Irleide Dias
Para eleger a Deusa de Ébano, da esquerda para a direita: Lúcia Xavier, Antony Dunes, Eliane Sá, Ébano Maia e Tailane Lisboa
Na sexta-feira passada, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a EREM Maria Cavalcanti Nunes, em Petrolândia, realizou o encerramento da Semana da Africanidade, iniciada na segunda-feira (16). Lúcia Xavier, co-editora do Blog de Assis Ramalho, realizou a cobertura fotográfica do evento e participou como jurada do concurso Deusa de Ébano, um dos momentos mais aguardados da programação.
O evento mostrou mais um passo do trabalho da EREM sobre Gênero e Etnia, sob a inspiração e condução da profª Jussara Araújo, maior responsável pelo construção da autoestima de jovens que passaram a aceitar e usar a seu favor traços característicos da cultura afro, como os cabelos em sua textura natural, sem alisamento nem vergonha de chamar a atenção. Hoje, em Petrolândia, é quase normal encontrar jovens com cortes de cabelo afro, daqueles que só antes eram vistos na TV, filmes ou revistas. Isso é empoderamento, principalmente para as mulheres.
Ainda no item cabelos, tivemos o prazer de conhecer a jovem professora Tailane Lisboa, uma das criadoras do grupo Crespas e Cacheadas de Petrolândia, página no Facebook para ajudar e incentivar as garotas que desejam abandonar a química e adotar usar os cabelos naturais. O processo é uma transformação de dentro para fora.
Já esperávamos um grande evento da EREM, mas o pessoal se supera. Os alunos participaram de oficina de percussão com ninguém menos que Gildo Madeira, de Paulo Afonso-BA. Só podia dar no que deu: um batuque maravilhoso e - detalhe importante - obtido de instrumentos improvisados com material descartado (latas de tinta, baldes de plástico, ralador de coco etc). O Teatro Experimental Negro, orientado pelo Grupo A.R.T.E. de Belém do São Francisco, também foi muito bem apresentado. A qualidade dos textos selecionados foi primorosa, de fazer chorar de emoção. E, no meu caso, a insustentável leveza das lágrimas, mal disfarçadas pelos óculos escuros, acompanharam apresentações contundentes sobre racismo, preconceito e as mais variadas formas de violência contra o negro, contra a mulher e contra a mulher negra, desde a escravização até os dias atuais.
Antes do Festival de Música, foi realizada a escolha da Deusa de Ébano 2015. As cinco alunas finalistas foram selecionadas por meio de "curtidas" no Facebook, entre as 18 inscritas no concurso. Chegaram à final as semideusas Paula (2º B), Karolayne (2º D), Wesllayne (3º A), Beatriz (3º B) e Kerolayne (3º B).
Na decisão, os jurados apreciaram a apresentação das candidatas pelos critérios originalidade, figurino, simpatia e desempenho na dança afro. A eleita foi Beatriz, do 3º ano B. O júri foi composto por Antony Dunes (Grupo A.R.T.E. de Belém de São Francisco), Eliane Sá (Coordenadora Municipal da Mulher, representante da Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Cidadania e Juventude), Ébano Maia (também do Grupo A.R.T.E.), Tailane Lisboa (Grupo Crespas e Cacheadas) e esta blogueira, Lúcia Xavier.
Parabéns a todos que fazem a EREM Mª Cavalcanti Nunes, em especial à Profª Jussara Araújo, mais que uma mestra, uma habilidosa Moira, e à Diretora Aparecida Ferraz, endossante do inspirador trabalho desenvolvido pelos professores da EREM Mª Cavalcanti Nunes.
Ver todas as fotos>Dandaras - As faces femininas da resistência
A professora Jussara Araújo assim descreveu o projeto e deu os créditos aos participantes. "Mais um projeto realizado com sucesso! Dandaras, as faces femininas da resistência é a continuidade do trabalho desenvolvido sobre Gênero e Etnia que culmina na Semana da Consciência Negra, apresentando o que foi discutido e vivenciado nas aulas de História, Direitos Humanos, Leitura e Letramento, Sociologia e Produção e Fruição das Artes e nas oficinas temáticas. O sucesso desse projeto é mérito de todos os estudantes envolvidos, que se apropriando do Teatro Experimental Negro, criaram os textos e produziram seus espetáculos. Um showww de ideias, danças, figurinos, música e harmonia. Harmonia que esteve presente no grupo de percussão organizado com materiais reciclados, com a ajuda dos nossos amigos e colaboradores Gildo Madeira e Lucas Silva e nos deixaram emocionados; harmonia, técnica, beleza e dramaturgia na abertura oficial do tema com o Grupo ERÊ com coreografia de Iverson Ferreira, estudante do 2º ano; "Elas, o espetáculo" foi criado pelos estudantes do 2° ano para abordar o tema, contar a resistência de Dandara do quilombo até os dias de hoje com o texto de Leiliane Lins.. e assim, sucederam os espetáculos com os terceiros anos até escolha da Deusa de Ébano 2015, Bia Ramos, que recebeu a faixa criada pela profª Izaira Silva. Ainda estreamos o Festival de Música Negra, com a participação de ex-alunos e convidados especiais Ana Luiza Oliveira e Pedro Lucas. Foram dias intensos, movimentados, mas que se traduziram nas produções. O projeto foi pensado e construído aos poucos, por isso preciso agradecer a quem ajudou nessa construção, a cada estudante envolvido, aos professores que diretamente ficaram ligados conosco Irleide Dias, Marcelo Igor, Gláucia Regina Xavier; agradecer aos professores colaboradores que facilitaram a vivência das atividades, à equipe gestora, que apesar dos barulhos na quadra durante as oficinas, nunca disseram 'não pode', 'não deve', 'não é permitido'. Obrigada, Aparecida Ferraz, por acreditar nos resultados. Agradecer as visitas ilustres, os pais que representaram a comunidade escolar, os estudantes da Erem Tercina Roriz, com o professor Geraldo, Antony Ivson Teixeira Dunes e o grupo de Teatro A.R.T.E de Belém do São Francisco, ao Grupo Cacheadas e Crespas de Petrolândia-PE, Eliane Sá, representando a Secretaria de Desenvolvimento Social, Cidadania e Juventude de Petrolândia e é claro a nossa e sempre companheira Lúcia [Xavier], do Blog de Assis Ramalho."
Apresentação do grupo de percussão da EREM na abertura do evento
Para reflexão, deixamos as palavras de Elke Maravilha, a branca mais negra do Brasil, em trecho de uma entrevista à Rádio Cultura, em 2010."Nós no Brasil temos muito pouco bom gosto. O negro tem (sentimento fino em educação, sensibilidade, inteligência). O branco brasileiro é kitsch e acha que é elegante. Tem a coisa da origem porque o branco que veio (inclusive eu) é gente que não deu certo lá. Agora o negro que veio pro Brasil não foi refugo não, foi alta nobreza. Então, a gente tem muito que aprender”.
Redação do Blog de Assis Ramalho
Fotos: Lúcia Xavier
Vídeos: Youtube/Assis Ramalho
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