— Se quisermos usar o termo epidemia, do ponto de vista técnico, ele é absolutamente correto. E acreditamos que sim, a doença vai se expandir — disse Maierovitch, durante reunião da Comissão de Seguridade Social e Família (CSSF) da Câmara dos Deputados.
O termo “epidemia” é usado, em nível nacional, quando vários estados apresentam súbito aumento na notificação de determinada doença. Já “surto” ocorre quando se comprova que o crescimento de casos da enfermidade atinge apenas uma área específica do país.
Até o momento, nenhum estado de fora do Nordeste relatou um número acima da média de casos de microcefalia. No entanto, ainda ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, endossou que, caso seja confirmado que o vírus zika contraído pela mulher durante a gravidez pode causar a doença no bebê, é clara a possibilidade de a epidemia se espalhar por outros estados. Castro classificou como “gravíssima” e “preocupante” a alta nos casos no Nordeste. Durante um evento da Organização Mundial da Saúde (OMS), em Brasília, ele recomendou às mulheres muita cautela na hora de decidir engravidar.
— Tomem os cuidados devidos quando forem engravidar. Sexo é para amador, gravidez é para profissional — disse Castro.
Atualmente, há registro de aumento do número de bebês com a malformação em Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Piauí e Bahia.
FALTA DE VERBA PREOCUPA
Deputado da bancada da Saúde, Darcísio Perondi (PMDB-RS) reclamou da falta de recursos para a área, o que poderá prejudicar o combate à doença. Segundo ele, por meio de várias manobras, o governo vai retirar mais de R$ 11 bilhões da Saúde em 2016. Vários deputados dessa bancada deverão se encontrar com o ministro na manhã de hoje.
— O governo está reagindo, mas vai precisar de recursos — afirmou o parlamentar — Deve tirar (recursos) até do Bolsa Família se for preciso (para repassar para a Saúde).
O principal suspeito para a epidemia dessa malformação congênita é o vírus zika, que começou a circular pelo país no início deste ano e é transmitido pelo Aedes aegypti, mesmo mosquito da dengue e do chicungunha. Essa hipótese se fortaleceu após a detecção do vírus no líquido amniótico de duas grávidas da Paraíba, conforme foi divulgado anteontem pelo Ministério da Saúde.
— Evidentemente, vamos reunir todos os cientistas envolvidos na questão para podermos dizer com segurança se o aumento dos casos de microcefalia, principalmente em Pernambuco, foi mesmo causado pelo zika — garantiu o ministro.
Esse vírus provoca sintomas parecidos com os da dengue — como manchas vermelhas, dores nas articulações e febre —, mas de forma muito mais branda. Diferentemente da dengue, o zika não tem uma versão hemorrágica e não leva à morte. Ainda não existe, porém, um teste específico para identificar o vírus, nem uma vacina para preveni-lo.
Uma mãe de Pernambuco que teve, há pouco mais de 40 dias, um bebê com microcefalia e prefere não se identificar acredita ter tido zika no terceiro mês da gestação. Na época, porém, ela foi tratada por médicos como se tivesse uma virose comum.
— Senti dores de cabeça, febre e tive manchinhas vermelhas na pele. O meu marido também teve manchas cerca de duas semanas depois de mim. Esses mesmos sintomas também apareceram em muitos vizinhos. Fiz sete consultas e, em nenhum momento, surgiu a suspeita de que poderia ser algo além de uma virose. Não podia imaginar que meu filho estava em risco — conta ela, que está passando, junto com o bebê, por uma série de exames no Hospital Oswaldo Cruz, no Recife.
De acordo com o ministro, ainda não há uma decisão tomada sobre como serão os investimentos para o combate ao Aedes aegypti. A OMS foi avisada formalmente sobre a epidemia.
— O Ministério da Saúde do Brasil está trabalhando muito de perto com a OMS e a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) para saber se há associação entre zika na gravidez e o surgimento de microcefalia. Mas eu devo enfatizar que essa ligação ainda não está determinada — diz a diretora-geral da OMS, Margaret Chan.
RJ NOTIFICA MANCHAS VERMELHAS
No Rio de Janeiro, a Secretaria estadual de Saúde informou que passa a ser obrigatória a notificação de manchas vermelhas no corpo de gestantes. A medida será publicada hoje no Diário Oficial.
Independentemente da idade gestacional da mulher, esses casos devem ser notificados em até 24 horas pelos médicos que a atenderem. A notificação deverá ser feita por telefone, e-mail ou formulário on-line, e a medida vale para os setores público e privado.
— As gestantes que notarem manchas vermelhas devem procurar seus médicos e passar por uma investigação para ver se têm alguma infecção, que possivelmente seria zika. Isso vai nos ajudar a traçar o mapa epidemiológico do estado — diz Alexandre Chieppe, subsecretário de Vigilância em Saúde da secretaria. — Estamos planejando uma campanha de prevenção ao Aedes, que deve começar em breve. Precisamos do apoio de toda a população.
Este ano, até o momento, houve nove registros de microcefalia no estado do Rio. Em 2014, esse índice foi de dez casos e, no ano anterior, de 19.
O Globo
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