“À medida em que você entra no ensino médio, as classes vão clareando; poucos são os que terminam o 9º ano e conseguem ir para o ensino médio, ou não finalizam ou, então, param aí, porque não são estimulados a continuar os estudos. Ou chega na universidade sozinho”, disse.
Segundo Paulino, esses alunos precisam ser acolhidos antes de ir para o ensino superior e querer entrar na universidade. “Para isso, precisamos conhecer esses meninos e meninas, temos que preparar sua autoestima e aquelas deficiências de formação que são cobradas nos vestibulares ou mesmo no Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]".
Para o professor, a política de cotas deve ser revista, no sentido de não excluir os jovens negros. “A forma com que esses processos seletivos são organizados nos excluem desde coisas simples, como a taxa de inscrição e os critérios para isenção ou não. Temos que discutir também que cota não tem que ser teto, mas ser piso. Hoje, os estudantes concorrem entre si nos programas e eles deveriam concorrer no geral, tirar as 80% das vagas para as melhores notas, e o restante da porcentagem tirar para estudantes que fizeram a opção pela cota. E aí teríamos um número maior de estudantes, inclusive”, disse.
Paulino participou hoje (5) da conferência “Diálogos e perspectivas sobre a questão racial no Brasil”, durante a 4ª Semana de Reflexões Sobre Negritude, Gênero e Raça (Sernegra), do Instituto Federal de Brasília, e o 2º Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros da Região Centro-Oeste (Copene CO). em Brasília.
A coordenadora de Educação em Diversidade da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Renata Parreira, afirmou que as ações afirmativas devem ser trabalhados no ensino médio, mas defende que iniciar o processo desde o ensino infantil é fundamental, “para já influenciar um outro pensar em relação a questões raciais, da educação anti racista, do respeito às diferenças que está presente na escola, e esse processo acontece desde desde pequeno”.
Privilégios dos brancos
Para o professor Paulino Cardoso, a sociedade precisa discutir os privilégios dos brancos, porque, segundo ele, “o racismo não é dado de consciência, mas é uma estrutura de poder criado para sustentar o domínio europeu em todo o mundo”.
“Nós precisamos desmontar isso. As pessoas brancas precisam ter clareza da responsabilidade de ser branco e que, se ele sabe que o racismo existe, a desigualdade existe, não deve permitir que aconteça com os outros. Tudo muda no momento em que uma pessoa branca diz que não gostou dessa piada [racista], ou que viu o que o outro fez e que é errado, ou que se coloca a disposição para testemunhar a seu favor [da pessoa negra], de ter de pensar em um Brasil em que a raça não seja um parâmetro definidor de tudo”, argumentou Paulino.
Os encontros vão até domingo (8) com oficinas, mesas-redondas, exposições e apresentações artísticas. No encerramento, os participantes visitarão o Quilombo Mesquita, na Cidade Ocidental (GO), no entorno do Distrito Federal, para uma roda de conversa. A programação completa está disponível no site do evento: http://sernegraifb.wix.com/sernegra.
Saiba mais
>Pesquisadores debatem em Brasília temas sobre a população negra
>Negros representam 28,9% dos alunos da pós-graduação
>Pesquisadores debatem em Brasília temas sobre a população negra
>Negros representam 28,9% dos alunos da pós-graduação
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são publicados somente depois de avaliados por moderador. Aguarde publicação. Agradecemos a sua opinião.