Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), especialista em recursos hídricos, Vicente de Paula avalia que a ANA não tem uma decisão fácil a ser tomada e que a única certeza é a diminuição da vazão para preservar o máximo a água do reservatório. “Quando falamos de água a primeira função garantida deve ser o abastecimento humano e animal. No entanto, estamos em um momento delicado tanto do ponto de vista da energia, quanto da economia, e mexer com a produção de frutas, é mexer com cidades inteiras. De fato, temos um dilema difícil”, afirmou.
No primeiro semestre, a vazão de Sobradinho era de 1,3 mil m³/s. Devido ao regime irregular de chuvas, em junho, a ANA autorizou a redução da descarga para 900m³/s, prorrogando a decisão até sábado, dia 31. De acordo com o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) especialista no setor elétrico, Heitor Scalambrini, o impacto na geração de energia com a diminuição do fluxo d’água foi de 30%. “A vazão está diretamente ligada à produção de energia, no entanto, ao contrário de 2001, hoje nós contamos com um sistema de redes maior, que é possível realizar a transferência de energia de outros sistemas e, ainda, temos as térmicas”, explicou.
Segundo o boletim do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), até ontem, 59 termoelétricas estavam ligadas. O número representa quase 70% do número total desse tipo de usina. “Em relação a produção do polo de fruticultura é preciso repensar o modelo de irrigação, algo que seja menos ineficiente. Atualmente, entre 10% e 15% da água utilizada, de fato, chega as raízes das plantas. Diante de um desperdício tão grande de água e energia, só reforça o princípio básico de priorizar o abastecimento humano e animal”, opinou Scalambrini.
A previsão dos produtores de frutas do Vale do São Francisco é de que até o início de dezembro, o Reservatório de Sobradinho atinja o chamado “volume morto”. Para garantir que mesmo abaixo do nível ideal Sobradinho garanta a irrigação da Região, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), órgão ligado ao Ministério da Integração Nacional, está implantando moto-bombas em estruturas flutuantes. Procurada, a Codevasf não quis se pronunciar sobre a conclusão do sistema.
“Vai ser muito difícil se a opção for pelo agronegócio e não pelo abastecimento. Isso tudo é reflexo de uma má gestão dos recursos hídricos”, analisou o professor Scalambrini.
Ramal do Agreste
Prevista para ser aberta hoje, a licitação para a escolha da empresa responsável pelos Serviços de Consultoria Especializada de Engenharia para Implantação do Ramal do Agreste foi suspensa. Em publicação ontem, no Diário Oficial da União, o Ministério da Integração Nacional avisa do cancelamento, mas não informa uma nova data para o certame. Procurado pela reportagem, o órgão informou, por meio da assessoria de Imprensa, que só se pronunciaria nesta terça-feira.
O aviso de suspensão foi publicado depois que a JM Engenheiros Construtores e Consultores LTDA entrou com um pedido de impugnação ao edital. A empresa cearense questionou o item 9 do subitem 9.6.3 do edital que exigia que o engenheiro tivesse, além da Certidão de Acervo Técnico (CAT) expedida pelo conselho da categoria, a experiência de cargo de chefia em projetos com contratos acima de R$ 6 milhões. Segundo a JM, a exigência fere a lei 8666/1993.
O Ramal do Agreste será um canal de 75 quilômetros que levará água do Eixo Leste da Transposição do Rio São Francisco à Adutora do Agreste. A licitação está sendo feita pelo modelo integrado do Regime Diferenciado de Contratações (RDC), que inclui o projeto de engenharia e a obra física. A estimativa é que o empreendimento custe cerca de R$ 1,2 bilhão e fique pronto em 30 meses. O anúncio da empresa ou consórcio deve ser feito em janeiro do ano que vem.
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