Ex-policial diz ter obtido laudo favorável à volta, mesmo estando com problemas (Bobby Fabisak/JC Imagem)
Nos últimos três anos, 74 policiais foram afastados da corporação por problemas psicológicos, que vão de depressão, ansiedade e abuso de drogas, como o álcool. O soldado Flávio chegou a ser atendido, entre os anos de 2012 e 2013, no Núcleo de Apoio a Dependentes Químicos (Nadeq) da PM por causa de problemas com bebida. Era, nas palavras de colegas, explosivo e imprevisível. “Uma vez, só para mostrar que a arma dele estava travada, colocou na própria cabeça e ficou apertando o gatilho. Isso é contra qualquer procedimento, é muito perigoso”, conta um policial do 19º Batalhão, em Boa Viagem, onde o soldado serviu por quase quatro anos, entre 2011 e 2015. “Ele é torcedor doente do Sport. Qualquer discussão sobre futebol com colegas que torciam para outros clubes era motivo para brigas sérias, o pessoal ficava assustado”, revela um outro praça do mesmo batalhão.
Na única entrevista que concedeu antes de ser recolhido ao Centro de Reeducação da PM, em Paulista, no Grande Recife, à TV Jorna, Flávio Oliveira alegou ter sofrido um surto psicótico. “Não lembro do que fiz. Só lembro que ele (Adriano) gritou para eu calar a boca. Ele disse que negros não deveriam entrar na universidade se não fosse fazendo provas. Estou arrependido, ele deixou um filho. Mas agora não tem mais jeito”.
Os problemas psicológicos dos policiais são potencializados por uma rotina onde o risco é constante e as condições de trabalho nem sempre são as ideais. Longe dos olhos da sociedade, o resultado desse coquetel explosivo às vezes nem chega aos divãs da corporação. “A Polícia se preocupa em cuidar dos outros, enquanto ela está doente. Temos policiais que abusam de álcool, maconha e até crack. O que os serviço de acompanhamento estão fazendo a respeito?”, questiona um policial que trabalhou no Centro de Assistência Social (CAS) da polícia. A reportagem visitou as sedes do CAS e do Nadeq, ambas no bairro do Derby, área central da cidade, mas foi informada de que só poderia conversar com a assessoria de Comunicação da corporação.
“Falta acompanhamento psicológico”, explica o presidente da Associação dos Praças de Pernambuco (Aspra), José Roberto Vieira. O presidente da Associação de Cabos e Soldados, Alberisson Carlos faz coro. “As pessoas que deram o laudo permitindo que o soldado voltasse às ruas erraram feio, e o erro custou uma vida”. O comandante da Polícia Militar, coronel Antônio Pereira Neto, afirma que Flávio foi liberado por uma junta médica. “Não cabe a nós duvidar do que eles disseram”.
Jornal do Commercio
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