segunda-feira, setembro 21, 2015

EPE descarta risco de falta de energia no Nordeste, apesar da seca terrível


Caatinga: vegetação está reduzida a garranchos, na margem da represa de Itaparica, no Sertão de Pernambuco (Foto: Lúcia Xavier)

Mesmo com a seca “terrível” que ocorre no Nordeste, não há o menor risco de faltar energia na região, afirmou hoje (21) o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.

Ao participar de uma conferência Internacional de energia, promovida pela Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (Amcham), Tolmasquim destacou que o aumento da oferta de energia eólica e térmica na região tem sido fundamental para que o Nordeste ultrapasse o período de seca sem temer a falta de energia.

"Estamos passando por uma seca terrível em decorrência do [fenômeno] El Niño, mas o risco de faltar energia é zero, justamente por causa das térmicas que estão entrando em operação no Nordeste e também por conta das [usinas] eólica. Teve dia em que a eólica (energia proveniente dos ventos] chegou a gerar mais que a hídrica e a térmica, que juntas estão gerando quase dois terços da energia consumida na região”, disse o presidente da EPE.

Segundo Tolmasquim, mesmo estando enfrentando uma seca severa há cerca de três anos, o Nordeste continua imune aos riscos de desabastecimento, em parte por causa da entrada das térmicas e das eólicas no Sistema Interligado Nacional (SIN) e também em decorrência da grande flexibilidade desse sistema, que permite o deslocamento de energia entre os diversos subsistemas do país.

“Juntas, as eólicas e as térmicas vêm garantindo a oferta de energia na região, mas também é preciso destacar a flexibilidade do sistema que nos permite esse intercâmbio [de energia]. Há possibilidade de que El Niñoestenda esta seca até o próximo ano, mas nesse período vai entrar uma grande quantidade de usinas eólicas. No ano que vem, deveremos gerar 11 mil megawatts (MW), o que será fundamental para dar mais segurança ao Nordeste”, ressaltou.

O presidente da EPE negou que o governo tenha determina muito cedo o desligamento de algumas das térmicas que abasteciam a regão. “São térmicas muito caras e, com o sistema interligado e mais chuva no Sudeste, temos podido mandar mais energia para a região. E com o Sistema Interliga, o Sudeste, onde houve muita chuva agora, está mandando energia para lá.”

Ainda sobre o fenômeno El Niño, Tomasquim ressaltou que, ao mesmo tempo em que causa seca na Região Nordeste, ele vem provocando muita chuva no Sul do país. “E, no caso do agravamento da seca na Região Nordeste, ainda terá o [subsistema} Sul, que, com a chuva excedente, poderá através do SIN mandar energia para lá”. O fenômeno é causado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico e pela redução dos ventos alísios na região equatorial, o que acaba afetando o clima em nível mundial, por causa da mudança nas correntes atmosféricas.

Produção Industrial/Demanda

Tolmasquim negou que a queda da demanda por energia, principalmente por parte da indústria, o maior consumidor do país, tenha sido fundamental para que o Brasil ultrapassasse o período crítico da falta de chuva e queda do nível dos principais reservatórios do país.

“Mais importante e fundamental para que o país ultrapassasse esse período de crise climática foi a flexibilidade dos setores de geração e transmissão decorrente do Sistema Interligado Nacional, aliado à diversificação da matriz energética”, ressaltou.

O presidente da EPE lembrou que o governo colocou, somente em 2013, mais 10 mil quilômetros (km) de linhas de transmissão em operação e mais outros cerca de mais 9 km no ano passado.

“São 19 mil km de linhas [de transmissão] em apenas 2 anos, e isso aumentou muito a capacidade de intercâmbio entre as regiões. O mesmo aconteceu com o setor de geração. No ano passado, a capacidade instalada foi recorde em entrada de oferta, em toda a história do país, com a agregação à capacidade instalada de mais 7,5 mil MW. E essa forte expansão aconteceu em grande parte com as hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio."

Tolmasquim destacou ainda que, com o aumento da oferta, o país teria ultrapassado o período crítico vivido no ano passado, mesmo com a indústria produzindo a plena carga. Ele disse, porém, que a queda da demanda, principalmente na indústria, levou a um excedente, a uma reserva de energia maior, o que permitiu antecipar o desligamento de algumas térmicas. “Se não tivesse havido queda da demanda, teríamos que gerar mais a partir das térmicas, o que tornaria a energia mais cara. Então, não é um problema de segurança, mas de custo, pois, com a queda da demanda, pode-se desligar mais térmica e oferecer energia mais barata.”

Nordeste exportador

De acordo com Tolmasquim, a preocupação do governo agora é aumentar o número de linhas de transmissão na Região Nordeste para que se possa jogar no Sistema Interligado Nacional o grande volume de energia que virá nos próximos anos dos empreendimento eólicos que estão surgindo e que surgirão na região nos próximos anos.

“Já estaremos fazendo leilão de grande quantidade de linhas [de transmissão] para aumentar a capacidade de o Nordeste mandar energia para o Sudeste. Os relatórios estão prontos e já foram encaminhados para a Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica] para que seja licitada uma grande quantidade de linhas de transmissão. Como estamos aumentando bastante as eólicas, quando melhorar a hidrologia, o Nordeste vai virar um grande exportador de energia, principalmente para o Sudeste e para o Sul, da mesma forma que já faz hoje o Norte.”

Ele ressaltou, porém, que a região não enfrenta hoje problemas no escoamento de energia, assim como também não há problemas no intercâmbio no sentido contrário (do Sudeste para o Nordeste). “O problema é para o período 2018-2019. Essa é uma questão que, com a realização dos leilões, não acontecerá lá na frente também.”

Agência Brasil

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