Eis o artigo.
O futebol é o esporte mais apaixonante do planeta. Sua imprevisibilidade garante que qualquer lance fortuito possa ser traduzido em gol. Aí quando ele acontece, o que se vê é uma cena tão forte e rica que nem mesmo quem está lá consegue explicar a outro que nunca pisou num estádio. O orgasmo esportivo em sua essência.
As comemorações também sempre foram um capítulo à parte. Socos no ar, danças, rolada na grama e provocações ao rival. Até que chegaram ao Brasil, por conta da Copa do Mundo, as arenas. De longe, todas parecem iguais. De perto, muitas vezes perdeu-se um detalhe ou outro que caracterizava e construía a lenda sobre um estádio. Como o abarrotado Maracanã no último domingo, na partida entre Flamengo e Santos.
Mas há um legado bem interessante nesses novos espaços: a proximidade de alguns setores da arquibancada com o campo e, consequentemente, com os jogadores. E aos poucos, os goleadores perceberam que era possível encurtar ainda mais essa distância. Um subia a escada, outro pulava uma placa e lá estavam abraçado aos torcedores numa simbiose perfeita.
Eis que surge a CBF. Sempre ela. “As advertências com cartão amarelo em razão de comemoração de gols devem ser mantidas (…) a punição decorre da conduta antidesportiva adotada. Esses são alguns trechos que constam na circular de orientação técnicas, disciplinares e gerais que a confederação encaminhou aos árbitros de todo país. Com o documento em mãos, os juízes têm a desculpa perfeita para ignorar o bom senso. Correu para a torcida? Cartão amarelo. Já tem cartão? Rua! A estupidez institucionalizada.
Nos Estados Unidos, essa prática é bastante comum. Na NFL, por exemplo, há o “Lambeau-Leap”, que é como os jogadores do Green Bay Packers tradicionalmente comemoram os touchdowns nos jogos dentro de casa. Atletas de outras equipes também celebram de forma parecida.
No mesmo final de semana em que Emerson Sheik foi punido ao pular para ser abraçado pelos flamenguistas, uma linda cena rodou o mundo: Kaká sendo fagocitado pela já fanática torcida do Orlando City, clube que estreou esse ano na MLS e, diante do sucesso da franquia, já estuda a ampliação da capacidade no projeto do estádio que ainda nem foi construído.
Num momento em que tanto se discute e lamenta a falta de identificação do brasileiro com a seleção brasileira, a CBFimpõe mais uma regra para higienizar ainda mais essa relação. A possibilidade da comemoração sem etiquetas é o antídoto contra a pasteurização de um público que se tornou protagonista na Copa do Mundo justamente por… não saber torcer. Milhares se produziram à época como quem vai a uma festa em Ibiza e passavam boa parte do tempo tentando aparecer na imagem dos telões.
Aos poucos, o futebol brasileiro tenta deixar o luto e isso só se consegue através da paixão do torcedor pelo seu clube. São universos bem distintos. Mas a CBF não parece muito preocupada com isso. O importante é tornar tudo o que é autêntico em proibido. Um ato claro de censura, calhordamente justificado como infração esportiva.
Não existe nem ao menos a inteligência de perceber que a comemoração que coloca ídolo e torcedor no mesmo patamar torna o espetáculo absurdamente mais atraente. Mas a CBF não está lá para se atentar ao detalhe. Ela parece existir justamente para ceifar o pouco que restou de alegria nas arquibancadas. Pobre daquele que marcar o próximo gol. O torcedor quer reconhecer o herói, mas acaba abraçando o réu.
Fonte: IHU Online
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