sexta-feira, junho 05, 2015

Planeta precisa que mudemos nosso padrão de consumo, artigo de Achim Steiner, diretor executivo do PNUMA

O nosso consumo global já é 1,5 maior que a capacidade da Terra de aguentar. Se a população e as tendências de consumo continuarem a crescer, a humanidade precisará do equivalente a dois planetas Terra para sustentar-se em 2030. Em artigo publicado no Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado neste 5 de junho, o diretor executivo do PNUMA, Achim Steiner, chama a atenção para o desperdício e suas consequências para o planeta.

Enquanto nos sentamos para almoçar ou jantar neste Dia Mundial do Meio Ambiente, é importante considerar o seguinte: um terço de todos os alimentos produzidos no mundo a cada ano, ou cerca de 300 milhões de toneladas, é jogado no lixo. Este desperdício custa à economia mundial a quantia impressionante de um trilhão de dólares anualmente.

Regiões industrializadas são responsáveis por quase metade desse total. A comida que jogamos fora ainda serve para o consumo humano e poderia alimentar mais de 800 milhões de pessoas no mundo.

Esta é apenas a ponta do iceberg do desperdício e serve como um indicador para a “pegada ecológica” de toda a economia do mundo. Nosso sistema global de alimentos é responsável por 80% do desmatamento e é a principal causa da perda de espécies e de biodiversidade.

O sistema também é responsável por mais de 70% do consumo de água doce. Um hambúrguer de carne no seu prato almoço poderia exigir uma incrível quantidade de 2.400 litros de água nessa produção. Você gostaria de batatas fritas com que? Adicione mais 100 litros, isso sem mencionar o impacto dos pesticidas e das embalagens não degradáveis. Bon appétit.

Segue uma verdade surpreendente: O nosso consumo global já é 1,5 maior que a capacidade da Terra de aguentar. Se a população e as tendências de consumo continuarem a crescer, a humanidade precisará do equivalente a dois planetas Terra para sustentar-se em 2030.

Pressão de nove bilhões de pessoas

Com a população mundial prevista para chegar a 9 bilhões de pessoas até meados do século, as demandas sobre estes recursos que se esgotam se intensificarão e serão agravadas pelo aumento da poluição, conflitos e as consequências de uma atmosfera que se aquece rapidamente pelas emissões de gases com efeito de estufa por parte do ser humano. Todos estes fatores poderiam baixar significativamente o PIB mundial. Secas recordes, inundações, poluição sufocante do ar e espécies ameaçadas de extinção tornaram-se notícias diárias.

Enquanto alguns podem sonhar em colonizar outros planetas, não podemos deixar de concluir que nesta Terra, o “agir como sempre” não permitirá a manutenção do nosso estilo de vida do século 21, muito menos tirar um bilhão de pessoas da pobreza absoluta e incluir um adicional de 1 a 3 bilhões de consumidores da classe média.

A nossa única escolha para crescer nossas economias é aumentar radicalmente o que os economistas chamam de “produtividade” ao fazer mais com menos. Precisamos mudar os padrões de produção e consumo do nosso sistema econômico atual de extração, produção, consumo e desperdício para uma economia verde inclusiva, que imite os processos naturais onde não existe o conceito de “sobra”, apenas comida para outro organismo ou processo.

A economia verde pode melhorar o bem-estar humano e a igualdade social, enquanto reduz significativamente os riscos ambientais, custos e escassez ecológica. Em sua expressão mais simples, uma economia verde é de baixo carbono, eficiente em termos de recursos e socialmente inclusiva. Em termos de produtividade, uma economia verde ‘separa’ o crescimento econômico do índice de consumo de recursos naturais e, assim, da degradação ambiental.

A boa notícia é que isso já está acontecendo em partes da economia, embora não tão rápido como necessário. Hoje, 65 países deram início a economia verde e estratégias relacionadas. Isso inclui muitos países envolvidos com a Parceria para a Ação pela Economia Verde (PAGE) para aplicar investimentos e políticas em tecnologias limpas, infraestrutura eficiente de recursos, ecossistemas em bom funcionamento, trabalhos verdes de qualidade e boa governança.

Contribuindo para praticamente todos os produtos ou processos humanos, a energia é um indicador dos impactos e progresso. Em apenas algumas décadas, o setor das energias renováveis tem crescido quase exponencialmente e foi responsável por quase metade de toda a capacidade de geração elétrica em 2014, excluindo as grandes centrais hidroelétricas. A Agência Internacional de Energia (AIE) estima que incentivar a eficiência energética poderia, não só proporcionar uma redução de 10% dessa demanda até 2030, mas também economizar 560 bilhões de dólares.

No geral, aproveitar tecnologias existentes e políticas apropriadas para aumentar a produtividade dos recursos poderia liberar 3,7 trilhões de dólares por ano, em todo o mundo, que hoje é desperdiçado de outro modo. Estes fundos atualmente desperdiçados poderiam ser investidos em saúde, educação e desenvolvimento.

Uma das chaves para a produtividade e para a dissociação entre danos ambientais e o PIB mundial é fazer com que os preços contem a verdade sobre o meio ambiente. Mais uma vez, o setor de energia mostra o quão importante isso pode ser. O Fundo Monetário Internacional estima que o custo total da subvenção pública a combustíveis fósseis ascende a mais de 5 trilhões de dólares por ano quando contamos subsídios diretos e indiretos.

Indicar os preços corretos, educar os consumidores e tornar as políticas que promovam uma economia verde não são apenas desejáveis, mas essenciais. O tamanho do nosso sucesso vai determinar se o ‘Antropoceno’ é a era em que mais de 9 bilhões de pessoas têm acesso a alimentos, energia e segurança, sem comprometer os sistemas de vida vitais do nosso planeta.

Artigo escrito por Achim Steiner, subsecretário-geral da ONU e diretor executivo do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA).

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