“Livre o Nordeste do maior de seus bandoleiros — ‘Lampeão’ morreu lutando, e sua cabeça, com a de 9 companheiros, foi conduzida para Maceió — A façanha do tenente Bezerra, traços biographicos do tenente facinora”, dizia a manchete.
Mas os editores queriam um diferencial na cobertura da morte do mais temido cangaceiro. E acionaram um correspondente em Maceió para ir além dos fatos e buscar os bastidores do legado deixado por Lampião. No dia 3 de agosto de 1938, O GLOBO relatou a disputa pela sucessão de Virgulino e arriscou quatro nomes de confiança de Lampião para comandar o grupo: “Quatro bandidos disputam o spectro de ‘Lampeão’! A successão do ‘Rei do Cangaço’ pende ainda entre ‘Corisco’, Roque, ‘Portuguez’ e ‘Sereno’”.
Durante a cobertura da morte de Lampião e Maria Bonita, O GLOBO fez um alerta: o banditismo não havia terminado, pelo contrário, tinha chegado à “phase mais aguda, porque o governo comprehende a necessidade de manter a ocupação do sertão por suas forças”, desafio semelhante ao enfrentado hoje, quase 80 anos depois, em áreas pacificadas do Estado do Rio.
Na mesma edição de 3 de agosto de 1938, Maria Bonita ganhou destaque. Em um texto exclusivo, o correspondente em Maceió trouxe a narração do soldado Bertholdo, que teve a missão, ou para parte da tropa, a honra de cortar a cabeça de Maria Bonita.
“Paciência, Maria Bonita!...”, disse o soldado, antes de decepar a cabeça da companheira de Lampião. Segundo o correspondente, a frase resumiu o sentimento do militar na hora. Ainda no relato, chamou a atenção a descrição que Bertholdo fez da cangaceira: “‘Maria Bonita’ estava gorda. No pescoço mais de dois dedos de banha foram notados pelo soldado.”
Lampião tinha como uma de suas paixões o rifle Winchester 44, chamado de Lampião, origem de seu apelido. Era afilhado e amigo de padre Cícero. Vaidoso, usava lenços de seda, perfumes franceses e óculos alemães, que disfarçavam o defeito no olho esquerdo. Gostava também de beber uísque importado. Em uma de suas fotos mais conhecidas, aparece lendo O GLOBO. O flagrante, sem crédito, acredita-se ser do libanês Benjamin Abrahão, secretário de Padre Cícero e único a filmar Lampião e seu bando. Benjamin foi retratado no filme “Baile perfumando.”
CIDADES SITIADAS PELO MEDO
Dos tempos do cangaço aos dias de hoje, o sertão de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe — onde o Rei do Cangaço agia — ainda é alvo da violência. Pesquisa do Instituto Igarapé aponta que seis dos dez estados com maiores taxas de homicídio estão no Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Das dez cidades mais violentas, seis são nordestinas: Maceió, Camaçari, Fortaleza, João Pessoa, Vitória da Conquista e Imperatriz. Para o pesquisador José Maria Nóbrega, da Universidade Federal de Campina Grande, a violência está ligada à fragilidade do Estado:
— À época de Lampião, o país vivia uma instabilidade política. Hoje, a violência está ligada ao aumento do poder aquisitivo, a drogas e a falhas da polícia.
Por Marcelo Remigio
O Globo
Lampião tinha como uma de suas paixões o rifle Winchester 44, chamado de Lampião, origem de seu apelido. Era afilhado e amigo de padre Cícero. Vaidoso, usava lenços de seda, perfumes franceses e óculos alemães, que disfarçavam o defeito no olho esquerdo. Gostava também de beber uísque importado. Em uma de suas fotos mais conhecidas, aparece lendo O GLOBO. O flagrante, sem crédito, acredita-se ser do libanês Benjamin Abrahão, secretário de Padre Cícero e único a filmar Lampião e seu bando. Benjamin foi retratado no filme “Baile perfumando.”
CIDADES SITIADAS PELO MEDO
Dos tempos do cangaço aos dias de hoje, o sertão de Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe — onde o Rei do Cangaço agia — ainda é alvo da violência. Pesquisa do Instituto Igarapé aponta que seis dos dez estados com maiores taxas de homicídio estão no Nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Sergipe. Das dez cidades mais violentas, seis são nordestinas: Maceió, Camaçari, Fortaleza, João Pessoa, Vitória da Conquista e Imperatriz. Para o pesquisador José Maria Nóbrega, da Universidade Federal de Campina Grande, a violência está ligada à fragilidade do Estado:
— À época de Lampião, o país vivia uma instabilidade política. Hoje, a violência está ligada ao aumento do poder aquisitivo, a drogas e a falhas da polícia.
Por Marcelo Remigio
O Globo
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