Na operações de buscas, ainda foi apreendido R$ 1 milhão em dinheiro vivo (euro, reais e dólar) e bens móveis e imóveis, além de diamantes e lingotes de ouro. Várias contas que eram utilizadas pelo grupo para a remessa de dinheiro ao exterior, principalmente a Hong Kong, foram bloqueadas.
A investigação no Brasil foi iniciada ainda em 2014, depois que as autoridades dos Estados Unidos identificaram transações suspeitas do grupo e descobriram que no esquema havia “uma célula” no Brasil, com um doleiro entre os seus operadores.
Nos últimos nove meses, a PF constatou que esse doleiro utilizava um sistema formal de contratos de câmbio para exportação e importação. A maior parte das operações era fictícia e, para funcionar, o esquema contava com a ajuda de funcionários cooptados pela quadrilha em bancos e corretoras de valores. Também foram utilizadas mais de 30 empresas de fachada que “trabalhavam por períodos de seis meses e eram substituídas por outras. Segundo a PF, uma dessas empresas movimentou cerca de RS 170 milhões.
De acordo com o delegado da PF Alberto Ferreira Neto, que coordena a Operação Porto Victoria (uma referência ao principal ponto turístico de Hong Kong), a ação foi deflagrada porque o doleiro, que tem cidadania estrangeira, estava com uma passagem comprada e embarcaria nesta quinta-feira ao exterior. Ele é um dos 11 que estão presos.
ARTIGOS SUPERFATURADOS EM ATÉ 5.000%
A PF informou ter identificado vários clientes venezuelanos que utilizavam o esquema para retirar dinheiro do país por conta da crise política e econômica que atinge o país vizinho. A próxima fase da operação, segundo Ferreira Neto, buscará mais pessoas que usaram a organização criminosa para enviar e receber dinheiro em contas no exterior. Vai também analisar as provas apreendidas durante a operação e intimar diretores e funcionários do Banif e de outros bancos para saber as razões dos mecanismos de controle interno dessas instituições terem falhado.
— Hoje foi o início da fase ostensiva da operação. Agora, vamos analisar as provas e ouvir os presos que operavam o esquema. Também vamos intimar diretores e funcionários das instituições financeiras para identificar as falhas no sistema que permitiram as operações fraudulentas — disse Ferreira Neto.
A PF identificou cinco corretoras e uma instituição financeira entre os envolvidos no esquema. O grupo atuava em países como Reino Unido, Venezuela, Estados Unidos, Brasil e Hong Kong. O grupo especializou-se na retirada ilegal de divisas da Venezuela, por meio de importações fictícias usadas para acobertar as movimentações financeiras. Os artigos eram superfaturados em até 5.000%. Depois, empréstimos e importações simuladas justificavam o envio do dinheiro para Hong Kong, que era encaminhado para outras contas ao redor do mundo.
Cerca de 130 policiais federais cumpriram os 11 mandados de prisão, dois mandados de condução coercitiva e 30 mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Araras, Indaiatuba, Santa Bárbara do Oeste, todas no interior paulista, e ainda em Curitiba (PR) e Resende (RJ).
Os investigados responderão pelos crimes de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta de instituição financeira e organização criminosa.
EXECUTIVO FOI EXONERADO DO BB
Em 27 de dezembro de 2011, Toledo foi demitido do BB em meio a uma crise política na instituição e a acusações de favorecimento. Segundo fontes, a cabeça do executivo foi pedida pelo então presidente do BB, Aldemir Bendine, hoje presidente da Petrobras.
Bendine e Toledo eram próximos, mas passaram a ter divergências pessoais, segundo fontes. O clima na cúpula teria azedado por volta de agosto daquele ano, quando Toledo recebeu convites de setores do atacado, foco de sua atuação no BB, além da área internacional.
Bendine aproveitou para fazer uma mudança maior na diretoria e, na ocasião, com o aval da Fazenda, trocou 11 pessoas.
Toledo ocupava a vice-presidência havia três anos e tinha 29 anos de banco. Na época, seu nome foi citado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) por movimentação atípica, o que teria levado à antecipação do seu desligamento do banco.
Em reação, Toledo anunciou que apresentaria notícia crime ao Ministério Público para apurar a responsabilidade pelo vazamento de seus dados. Também reuniu documentos que mostravam que a transação de R$ 953 mil considerada atípica pelo Coaf se referia à venda de um sobrado de sua madrinha, Liu Mara Fosca Zerey, de quem seria herdeiro. O imóvel teria sido comprado pelo empresário Wanderley Mantovani, sócio do frigorífico Marfrig numa usina de biodiesel. O irmão de Toledo era diretor na Marfrig.
Ao GLOBO, em março de 2012, ele negou acusações, que também surgiram à época, de ter favorecido a Marfrig quando estava no BB e rejeitou a tese de que seu desligamento estivesse relacionado a uma disputa interna pela presidência do banco.
Fontes na época disseram que Toledo estaria trabalhando nos bastidores do governo para assumir o comando do BB, propósito que teria chegado aos ouvidos do ministro da Fazenda, Guido Mantega, por meio de um empresário. Indignado com a pretensão do dirigente, Mantega teria decidido demiti-lo em dezembro.
Na mesma entrevista ao GLOBO em 2012, Toledo negou ter sido demitido do BB e disse ter aderido a um programa de demissão voluntária após receber propostas da iniciativa privada.
— Estava previsto para sair em meados de janeiro, mas pediram para adiantar o desligamento para 27 de dezembro. Achei que era uma questão de praticidade, tanto que logo depois nomearam o outro vice-presidente no meu lugar — afirmou o ex-executivo do BB, em entrevista publicada no dia 6 de março de 2012.
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O Banco do Brasil informou, por meio de nota à imprensa, que Allan Toledo foi desligado da instituição há três anos e meio, em dezembro de 2011. E acrescentou que não tem informação sobre os fatos investigados.
O advogado de Toledo, o criminalista Roberto Batochio, disse que está tentando retirar uma cópia do inquérito junto à PF. Segundo ele, Toledo está em prisão temporária por cinco dias na carceragem da PF em São Paulo. Ele considerou a prisão, “no mínimo, estranha", uma vez que seu cliente não é o presidente do Banif e sequer tem envolvimento com a área de câmbio da instituição. Procurado, o Banif informou que não vai se manifestar.
Por Lino Rodrigues
O Globo
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