A intenção é reduzir de 1.100 para 900 metros cúbicos por segundo a vazão no afluente da Barragem de Sobradinho, que influencia diretamente na região do Baixo São Francisco.
O assunto será discutido em uma reunião na próxima terça-feira (28) com representantes da Agência Nacional de Águas (ANA) e diversas instituições técnicas ambientais em uma tentativa de avaliar a solicitação feita pela ONS e Chesf, que já receberam autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para fazer testes de redução da vazão.
Preocupado com a possibilidade da diminuição do fluxo de água no leito da parte baixa do Rio da Integração Nacional, o presidente da Companhia de Saneamento de Alagoas (Casal), Francisco Beltrão, disse que o procedimento pode uma provocar calamidade pública no estado.
Segundo a Casal, o abastecimento de água para consumo humano de 40% dos municípios alagoanos dependem do Velho Chico. “O sinal de alerta está aceso. Se essa nova redução da vazão do rio for autorizada e concretizada, como já vem sendo testada, a captação de água da Casal estará seriamente comprometida", diz Beltrão.
O presidente da Casal destaca ainda que os equipamentos de que a companhia dispõe atualmente não serão suficientes para captar água do rio.
"Uma estruturação para atender a essa nova realidade levará tempo para ser projetada, já que não há no mercado equipamentos à disposição em tempo hábil para montagem de novas plataformas. Com isso, uma população de aproximadamente 1 milhão de pessoas ficará sem acesso a água”, expõe Beltrão.
Segundo ele, o custo de mais uma baixa na vazão do São Francisco terá consequências econômicas, sociais e ambientais. “O custo é inestimado. Devido à redução da vazão de 1.300 m³/s para 1.100 m³/s, realizada em 2013, só a Casal acumulou prejuízos na ordem de R$ 1,3 milhão".
Beltrão lembra que os danos ambientais e sociais aumentam ainda mais os prejuízos. "Quando não há água tratada nas torneiras, a população acaba recorrendo a outras fontes para consumo, muitas delas inadequadas. Realidade que implica em questões de saúde e meio ambiente”.
Municípios
De acordo com a Casal os municipios dque podem ser afetados pela medida da Chesf são, na unidade Agreste: Arapiraca, Campo Alegre, Campo Grande, Coité do Nóia, Coruripe, Craíbas, Feira Grande, Girau do Ponciano, Igaci, Igreja Nova, Junqueiro, Lagoa da Canoa, Olho D’água Grande, Piaçabuçu, São Brás, São Sebastião, Taquarana e Traipu.
Na Bacia Leiteira recebem água do Velho Chico os municípios de Batalha, Belo Monte, Cacimbinhas, Carneiros, Dois Riachos, Jacaré dos Homens, Jaramataia, Major Isidoro, Maravilha, Monteirópolis, Olho D’Água das Flores, Olivença, Ouro Branco, Palestina, Pão de Açúcar, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, São José da Tapera e Senador Rui Palmeira.
Já na unidade Sertão são beneficiados os municípios de Delmiro Gouveia, Água Branca, Canapi, Pariconha, Inhapi, Mata Grande, Olho D’Água do Casado e Piranhas.
Crise hídrica
Potencializada pela baixa quantidade de chuvas nos últimos anos no país, a crise hídrica na Bacia do Rio São Francisco já provocou diversos problemas ambientais, econômicos e sociais para a região Nordeste.
Um dos casos mais evidentes de dano ambiental foi o surgimento de micro-algas no leito do rio, que procvocou uma mancha de 30 km nas águas do rio, preocupando ribeirinhos, especialistas e ambientais.
No entanto, além deste problema, o que mais assusta os especialistas em recursos hídricos é a possibilidade de o rio 'secar'. Para isso, operações especiais – redução de vazão com fechamento de comportas das hidrelétricas – estão sendo feitas nas barragens para evitar que o rio alcance o volume morto.
Esta é a justificativa da engenheira de Recursos Hídricos da ONS, Luana Gomes, ao defender a redução da vazão. Segundo a apresentação da especialista durante a reunião do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), realizada na quinta (23), em Maceió, caso não fosse autorizada a diminuição do fluxo do rio nos últimos anos, a situação hídrica seria drástica, e o rio chegaria ao volume morto.
“O ano 2014 foi o pior da história da vazão do reservatório de Sobradinho desde 1939. Assim, temos estudos técnicos que mostram que se o cenário não mudar e não for reduzida a vazão, ainda este ano chegaremos ao volume morto. Algo precisa ser feito para que a crise não aumente mais”, destacou Luana.
Na ocasião a representante da ONS e a gerente de Recursos Hídricos e de Estudo Energéticos da Chesf, Patrícia Maia, enfatizaram, ao defender a diminuição do fluxo de água dos reservatórios, que a prioridade das duas instituições é atender ao abastecimento humano de água, mesmo que isso implique na produção energética.
Waldson Costa/G1 AL
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