A pesquisadora e doutoranda em Política Social na Universidade de Brasília (UnB), Marjorie Chaves, explica que as mulheres têm avançado na questão de tempo de estudo e conclusão do nível superior, mas ainda ocupam áreas específicas, como a de humanidades, saúde, educação e serviço social, por exemplo. “Ainda prevalecem alguns princípios sociais e culturais pelos quais as mulheres são associadas a profissões e ocupações que requerem atributos femininos como delicadeza e paciência”.
Segundo ela, muitas dessas áreas têm menor remuneração e é preciso fazer uma mudança desde a educação básica, além de políticas públicas, para que as mulheres possam ampliar suas escolhas e a participação em outras áreas.
A representante da ONU Mulheres aponta que o Brasil tem apresentado grandes avanços educacionais nos últimos 20 anos ao desenvolver programas e políticas e garantir o acesso de mulheres. Para ela, um dos desafios que o país ainda tem que enfrentar é o incentivo ao aumento de mulheres em áreas da ciência, engenharia e ciências básicas.
A astrofísica Thaisa Bergmann venceu dificuldades e ganhou espaço na profissão, uma área onde existem poucas mulheres. Com estudos sobre buracos negros, a pesquisadora foi uma das vencedoras da 17º edição prêmio internacional “Para Mulheres na Ciência”, promovido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e pela Fundação L'Oréal.
“O prêmio dá um reconhecimento nesse aspecto feminino de dificuldades, mas também frente aos pares, para a família e os amigos”. Ela acredita que, ao ter o trabalho de cientistas mulheres valorizado, as jovens podem ser incentivadas.
A coordenadora de educação da Unesco, Rebeca Otero, ressalta a diversificação. “Algumas profissões, como engenharia, por exemplo, são ainda muito masculinas. Tem toda uma questão cultural que, aos poucos, temos que ir desmistificando para que a mulher possa ter acesso a essas carreiras e possa fazer algo que goste, tendo uma remuneração equiparada com outra pessoa do sexo masculino”.
A diferença salarial é outro desafio apontado pela ONU Mulheres. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, no mercado formal o rendimento dos homens era R$ 2.146,00. Já o das mulheres, R$ 1.614, mesmo com aumento da escolaridade.
Márcio Guerra, gerente de Estudos e Prospectiva da Confederação Nacional da Indústria (CNI), explica que as mulheres vêm se preparando para a inserção profissional e muitas delas estão ocupando profissões consideradas tipicamente masculinas. Segundo uma análise elaborada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) com base em dados do Censo da Educação Básica de 2013, as mulheres são maioria em cursos técnicos e houve aumento na procura por cursos na área industrial. Outra análise mostra que, em 10 anos, o número de mulheres matriculadas nas escolas do SENAI aumentou em quatro vezes.
Raiane da Silva tem 25 anos e fez o curso técnico de segurança no trabalho. Entre as 20 pessoas formadas, apenas 5 eram homens. Hoje, ela trabalha em uma obra e diz que é tratada com igualdade pelos colegas, mas revela que teve dificuldade de encontrar emprego trabalho. “Eu sofri muito preconceito quando comecei a procurar. Eles [empregadores] temem que as mulheres não sejam respeitadas na obra como um homem é”.
Para Márcio Guerra, a esperança é que, com o tempo, a diferença salarial diminua. “A expectativa é que a médio e longo prazo o mercado vá se harmonizando mais e esses diferenciais diminuam. Isso vai depender da qualidade da qualificação, da produtividade e das transformações que a sociedade precisa passar”.
A educação e a capacitação podem auxiliar até mesmo no combate à violência contra as mulheres. Rebeca diz que ainda existe um contingente de mulheres com baixa escolaridade e é preciso investir no empreendedorismo e na geração de renda para que elas tenham liberdade financeira. “Porque apesar dos avanços que a sociedade brasileira teve de termos mulheres na escola, formadas, doutoras, ainda há casos de dependência e casos de violência. E muitas vezes a mulher tolera a violência porque ela não tem como se sustentar se ela se separar daquela relação”.
Agência Brasil
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