Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
“Os presos foram usados como massa de manobra. Não tenho a menor dúvida. Falta identificarmos a origem disso”, declarou o juiz Luiz Rocha, da 1ª Vara de Execuções Penais, no Recife.
O juiz disse achar estranho que os protestos contra sua atuação no comando da 1ª Vara tenham ultrapassado os muros do Complexo do Curado – que está sob sua jurisdição – e chegado à Penitenciária Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá – sob a responsabilidade da 2ª Vara. Para o magistrado, isso é um sinal de que faltaram aos presos informações e conhecimento sobre o sistema jurídico. A prova, aponta o juiz, é que muitos detentos que aderiram aos violentos protestos ainda não foram julgados. Seus processos, portanto, tramitam em outras varas, de outras comarcas. Além disso, segundo o magistrado, apenas cerca de 200 dos mais de 6 mil presos do Curado tinham pedido a progressão do regime ou o livramento condicional.
“Por algum motivo, os presos passaram a acreditar que todos os processos eram da minha responsabilidade e que eles não eram chamados para audiências porque eu não permitia. E então, o que começou como uma revolta contra minha atuação, acabou chegando a uma unidade prisional que não está sob a minha jurisdição, como se fosse um movimento articulado”, disse o magistrado, defendendo que a hipótese de os tumultos terem sido coordenados por alguma organização criminosa também deve ser apurada.
“Se há algum vínculo com o crime organizado eu ainda não sei, mas acho que todas as questões devem ser avaliadas. Há, por exemplo, enorme insatisfação com nossas atividades, já que, como corregedor, tenho combatido a corrupção e a presença de drogas e armas no interior dos presídios”, acrescentou o magistrado.
O promotor Marcellus Ugiette, que visitou quarta-feira (21) a Penitenciária Barreto Campelo, diz ter notado que há comunicação entre os presos das duas unidades onde ocorreram problemas. Para o promotor, organizações criminosas que atuam dentro e fora dos presídios podem estar por trás dos tumultos dos últimos dias.
“Estou certo de que foi algo articulado por alguns presos ligados a determinadas facções criminosas, a grupos a quem interessa o caos do sistema prisional e que cooptaram os demais, que estavam acuados. Conversando com presos da Barreto Campelo, constatei que houve sim comunicação telefônica entre as unidades. Apesar do medo, vários reeducandos disseram ser obrigados a tomar parte desses atos que, nas palavras deles, 'só fazem atrasá-los'. Prova é que apenas parte dos presos de duas das oito alas do Barreto Campelo se envolveu de fato na confusão”, disse o promotor, lembrando que desde o fim do ano passado, presos pernambucanos têm promovidos motins e tumultos de menor proporção que esse último.
“Temos tido seguidas expressões de rebeliões e insurgência nas unidades prisionais do estado. Isso é uma evidência de que, na ausência do Estado, há grupos se organizando para comandar essas unidades. Faltam, por exemplo, agentes penitenciários. Na Barra do Campelo, no momento da rebelião, só havia três agentes para cuidar de cerca de 1,9 mil presos”, conclui o promotor, garantindo que os responsáveis pelos estragos e pelas mortes registradas esta semana serão identificados e punidos disciplinarmente e, dependendo do caso, por danos ao patrimônio público.
Agência Brasil
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