“A maioria dos que não tiveram bom desempenho vai trabalhar em prontos-socorros, por não ter sido aprovada nas provas de residência médica.”
Mais da metade (55%) dos recém-formados em medicina em São Paulo foram reprovados no exame do Conselho Regional de Medicina do estado (Cremesp). O percentual é maior entre os que fizeram o curso em escolas privadas , 65%. Entre os formados em escolas públicas, 33% foram reprovados.
Há três anos, a prova é obrigatória para quem pretende trabalhar com médico no estado, o que aumentou em sete vezes o número de participantes. O registro, no entanto, não depende do desempenho no exame. Nesta edição, 2.981 egressos foram testados.
De acordo com o presidente do Cremesp, Bráulio Luna, que coordena o exame, os piores resultados foram registrados em áreas básicas da prática médica. Apresentaram percentual de acerto abaixo de 60% (ponto de corte) áreas de conteúdo como clínica médica (52,1%), ciências básicas (54,9%), pediatria (55,9%), clínica cirúrgica (57,2%) e saúde pública (57,4%). Tiveram resultados entre 60% e 70% as áreas de ginecologia, saúde mental, bioética e obstetrícia.
“A maioria dos que não tiveram bom desempenho vai trabalhar em prontos-socorros, por não ter sido aprovada nas provas de residência médica”, disse Luna.
Para o conselho, a obtenção do registro deve estar condicionada a um bom desempenho no exame. “Se existe [exame] para advogado e contador, por que não para o profissional de saúde?”, questionou Luna.
De acordo com Renato Azevedo, diretor do Cremesp, o exame evidencia o problema da má formação dos médicos de São Paulo e também do Brasil. “Comprovamos isso. Agora, impedir que esses indivíduos exerçam a medicina e coloquem população em risco cabe à sociedade brasileira." Segundo Azevedo, as leis que existem hoje "cerceiam o conselho", que não tem como fazer isso.
Trinta escolas tiveram seus alunos egressos avaliados. Destas, 20 não conseguiram atingir 60% de aproveitamento. Entre as instituições com pior desempenho, 15 não atingiram 45% de acerto e nove não chegaram a 25%. As dez piores escolas são privadas e as cinco melhores, públicas. A instituição que teve melhor resultado apresentou 87,3% de aprovação. O nome das escolas, no entanto, não é divulgado.
Na opinião de Bráulio Luna, a prova não pode ser considerada difícil. De acordo com o índice da Fundação Carlos Chagas, responsável pelo exame, as questões são classificadas como de nível fácil (33%), muito fácil (4,6%), médio (32,4%) e difícil (29,6%).
Desde que se tornou obrigatório, o índice de reprovação não tem diminuído. Em 2012, foram mal avaliados 54,5% dos alunos e, no ano seguinte, 59,2%. O Cremesp avalia uma proposta de monitoramento da vida profissional dos reprovados. Outra medida que deve ser intensificada é a discussão com as escolas com desempenho ruim em uma câmara técnica do conselho. “Esse debate sensibiliza alguns diretores, que pressionam mantenedores desses faculdades para que façam melhorias”, afirmou Luna.
Agência Saúde
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