“Devemos preparar um eventual racionamento, porque em uma situação como esta passa a ser desejável a criação de condições para restabelecer o nível dos reservatórios o mais rapidamente possível. E o que temos de chuva, combinado com a demanda, não é suficiente. Só cortando o consumo para fazer isso mais rapidamente”. Para Sales, o racionamento deve ser feito juntamente com incentivos e normas que levem ao corte do consumo, com a redução dos contratos de energia, para que as geradoras não sejam prejudicadas.
Nesta semana, o nível dos reservatórios do Sistema Sudeste/Centro-Oeste, responsável pela geração da maior parte da energia consumida no país, chegou a 16,9% de sua capacidade máxima de armazenamento, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico. Na mesma época do ano passado, o nível dos reservatórios desse sistema estava em 41%. Para o especialista, a queda do nível em plena época de chuva é um indicativo de que o país pode ficar com reservatórios abaixo do necessário para enfrentar o resto do ano.
O racionamento de energia deve ser precedido de debate com os agentes do setor elétrico e de informações à sociedade sobre a atual situação do setor, na avaliação de Sales. “É fundamental que, no estabelecimento dos critérios de um eventual racionamento, essa questão seja tratada com transparência, possibilitando a contribuição dos agentes do setor, além dos consumidores, principalmente os de grande porte, que seriam fortemente atingidos por uma medida como essa”, disse.
O especialista acredita que problemas no fornecimento de energia, como o registrado na semana passada, devem voltar a acontecer até o fim deste verão. Segundo ele, o problema ocorreu porque o país não tinha capacidade de geração de energia para atender à demanda registrada naquela tarde. “Não foi um acidente, ao contrário, estamos sujeitos a que ele aconteça novamente ao longo deste verão, porque não há mais capacidade de geração para adicionar ao sistema e o verão ainda está no meio”. Para Sales, as medidas anunciadas pelo governo para aumentar a geração de energia não são suficientes, e o país deveria ter uma reserva de pelo menos 4 mil megawatts.
Recentemente, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, sinalizou que um racionamento não está descartado se o nível dos reservatórios ficar abaixo de 10% da capacidade total de armazenamento. No entanto, ele disse que o governo ainda não pensa em fazer uma campanha para conscientizar a população sobre a importância de economizar energia, pois o consumidor brasileiro tem capacidade de administrar o seu consumo. “Esperamos que, de forma inteligente, o povo brasileiro, que sempre soube cuidar da sua economia, possa definir que consumo quer, porque tem um preço a pagar por esse consumo e está sendo informado sobre isso”, afirmou.
Agência Brasil
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