1) Introdução
Este trabalho mostra o quadro real da Transposição, como tudo ocorreu desde o início e as razões subterrâneas que levam à execução desta mega-obra que, em nada, resolverá os problemas hídrico do Semi-Árido brasileiro. Esta região já possui um grande manancial de água construído pela tenacidade do homem do Nordeste. É um grande cubo de 37 quilômetros cúbicos de água armazenados nos milhares de reservatórios espalhados por todos os quadrantes do Semi-Árido. Falta apenas uma grande e potente rede de adutoras para levar esta água a todos os recantos desta grande região. Esta rede já começou, faltando tão somente dotações e recursos para o aceleramento das obras. Estas adutoras independem do canal da Transposição porque as águas já estão acumuladas nos seus reservatórios.
Foi no ano de 1820 que D. João VI, recebendo informações históricas das secas arrasadoras do século XVIII, mais precisamente da grande seca de 1777/1779, imaginou soluções para amenizar o sofrimento das populações do Nordeste brasileiro. Rios e riachos intermitentes, Jaguaribe, Piranhas, Açu, Potí, Pirangí Acaraú, Curu, Vasa Barris, Navio, tantos e tantos outros se assoberbavam com as chuvas hibernais, indômitos e avassaladores, despejando, totalmente, suas águas no Atlântico e não acumulando nenhuma reserva para os meses subsequentes. Para mitigar a sede das populações que aumentavam a cada ano, fazia-se necessário que estes rios fossem perenizados. Foi fácil para D. João VI imaginar, com os poucos dados de que dispunha, perenizá-los com as águas do fabuloso São Francisco, um rio imenso, sem nenhum aproveitamento, navegação incipiente e já coleando o próprio Semi-Árido. Fácil construir um canal por gravidade, sem pensar na topografia e nas diferenças de cotas, um verdadeiro Ovo de Colombo. O Governo Imperial não falava em açudes, nem poços tubulares, coisas lá do mundo oriental. Alguns fazendeiros, entretanto, premidos pelas necessidades, foram tentando juntar água, construindo barreiros e açudes aleatoriamente na base da pura imaginação e de acordo com as condições locais, sem nenhum plano executivo, mas os seus efeitos foram tão prodigiosos para as populações circundantes que estes foram se multiplicando e, ao alvorecer do século XX, houve uma verdadeira correria da sociedade sertaneja para construir açudes nas suas propriedades. Os grandes fazendeiros, representantes do feudalismo rural, com mão de obra fácil e disponível, começaram a aproveitar o rendilhado dos riachos intermitentes, tão comum em todo o relevo do Nordeste.
Escolhiam, por intuição, as ombreiras mais propícias para a construção artesanal dos reservatórios e transportavam os materiais para barrar a passagem do riacho, utilizando-se de 2, 3 ou 4 couros crus de boi, emendados uns aos outros e arrastados por uma junta, também, de boi, gradativamente, iam elevando o paramento da barragem com boa largura, geralmente superdimensionada. Região de pecuária, com o couro fazia-se tudo, portas, janelas, cadeiras, tamboretes, camas, etc, Foi a Civilização do Couro, de que nos fala Capistrano de Abreu. Os pequenos criadores procuravam imitar, nos seus sítios e fazendolas, as represas que viam nas grandes propriedades. Construíam barreiros, aguadas, algibes, tudo sem nenhum planejamento, mas que juntava água. Aprenderam também que o Sol era uma grande bomba de sucção, secando as aguadas com muita rapidez. O jeito era afundar mais a bacia do barreiro, isto é, dar mais profundidade à obra, uma maneira intuitiva de salvar um pouco de água sobre os danosos efeitos da evaporação.
Leia o artigo completo no Portal EcoDebate: Transposição: uma análise cartesiana, estudo de Manoel Bomfim Ribeiro ( 23/12/1930 e + 03/12/2012)
Fonte: Porta EcoDebate
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