quarta-feira, dezembro 10, 2014

Festa de Natal: desembrulhando responsabilidade, artigo de Márcia Pimenta

"Compramos uma blusa, por exemplo, que é embrulhada em um papel de seda, que é colocada em uma caixa de papelão e vai parar dentro de uma sacola plástica. "

O Natal está chegando, período de festas, encontros e consumo, muito consumo. O apelo consumista na mídia e no comércio reforça a ideia de que o Natal é apenas uma data para comprar e gastar, incentivado por cartões de crédito e um longo prazo para pagar. Enquanto você compra, não para satisfazer uma necessidade, mas apenas respondendo a um apelo comercial, você faz o link entre consumismo e degradação ambiental?

O que muitas pessoas não percebem é que os problemas ambientais não se restringem à preocupação com a fauna e flora. Na verdade, o cerne da questão ambiental está em nosso modelo de produção e consumo. Produzimos cada vez mais mercadorias que são supérfluas e que duram cada vez menos. É a tal da obsolescência programada, onde produtos são feitos para serem rapidamente substituídos por novos modelos.

Enquanto isso os aterros sanitários vão se entupindo de lixo, nossa atmosfera torna-se asfixiada pelos gases de efeito estufa, como aqueles derivados da queima do petróleo e do carvão que movimentam nossas fábricas ou transportam, de um lado para o outro, as mercadorias. A água, que está presente em todo o processo industrial, torna-se escassa e poluída por processos produtivos que não se preocupam com a destinação de seus resíduos.

Além de tudo isso, existem as embalagens. Compramos uma blusa, por exemplo, que é embrulhada em um papel de seda, que é colocada em uma caixa de papelão e vai parar dentro de uma sacola plástica. Ao final, partindo do princípio que o presenteado tenha ao menos gostado do mimo, temos um presente acrescido de três tipos de embalagem que irão parar em um lixão que, de preferência, seja bem longe de nossas casas! De todas as embalagens, as sacolas plásticas são as maiores vilãs. A produção anual estimada é de 210 mil toneladas de plástico-filme, a matéria-prima da fabricação dos saquinhos plásticos usados nos supermercados, por exemplo. Seu tempo de degradação no meio ambiente é de 100 a 300 anos!

E é assim, com essa falta de responsabilidade na hora de consumir, que vamos degradando o meio ambiente, mas jurando de pés juntos que amamos a natureza!

Na verdade, devemos pensar no meio ambiente como um quintal. Na medida em que tiramos algum elemento sem substituição, a tendência é de que, em breve, não tenhamos nada mais para colher. E é assim que hoje retiramos da natureza 50% a mais do que a sua capacidade de se recompor permite. O último relatório (2014) do Painel Intergovernamental de Mundanças Climáticas – IPCC afirma que “o período entre 1983 e 2012 foi “muito provavelmente” (90% de probabilidade) o mais quente dos últimos 800 anos”. A concentração maior de gases de efeito estufa em nossa atmosfera resulta em acidificação dos oceanos, fenômenos naturais extremos como secas, inundações, furacões e elevação do nível do mar. E toda essa poluição não é sinônimo de progresso; hoje quase um bilhão de pessoas passam fome, 768 milhões de pessoas não têm acesso à água limpa e segura e 1,4 bilhões de pessoas não têm acesso à fontes de energia confiáveis.

A grande dificuldade para reverter a crise ambiental que vivenciamos é fazer com que as pessoas entendam como seu estilo de vida está diretamente ligado à degradação ambiental. Com esse entendimento esperamos que as pessoas revejam seus hábitos de consumo. Recomendo que faça o teste da pegada ecológica e descubra quantos planetas seriam necessários caso todos os habitantes tivessem os mesmos hábitos que você: http://www.pegadaecologica.siteonline.com.br/.

Márcia Pimenta, Jornalista com especialização em gestão ambiental, é Articulista do Portal EcoDebate

Publicado no Portal EcoDebate,

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