Empresas tem recorrido a caminhões-pipa para abastecer seus reservatórios
O diretor do departamento de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Nelson Pereira dos Reis, afirma que as empresas menores sofrem mais com o período de seca. "Há custo envolvido. Empresas menores estão dependendo de caminhões-pipa. A perfuração de poços também tem um custo.”
É o caso da Lucenaart, que fabrica tintas para impressoras, datadores industriais, entre outros produtos. Para evitar que a produção seja impactada pela falta d'água, a empresa tem recorrido a caminhões-pipa para abastecer seus reservatórios – três contêineres com capacidade para mil litros cada um e uma piscina montável que armazena 13 mil litros. Cada caminhão com mil litros tira R$ 250 do orçamento da empresa.
"Estamos comprando água. O governo não deu satisfação para ninguém, ficamos no escuro. No mês, gasto R$ 2,5 mil com caminhão pipa. Não estava no orçamento", relata Cássio Lucena, um dos diretores da companhia. "Água da rua eu já não vejo na minha empresa tem uns 5 ou 6 meses." Ele afirma que a produção não precisou ser paralisada porque não depende de água.
Já a Rhodia, que tem 22 unidades de diferentes produtos químicos na região de Paulínia, incluiu quatro delas em um esquema de "rodízio". As unidades que tiveram a produção congelada temporariamente, segundo a empresa, “são as que utilizam maior volume de água captada do rio Atibaia para resfriar seus equipamentos”. “A empresa tem adotado esse sistema de gerenciamento de produção de acordo com a disponibilidade de água desde o início do período de estiagem mais forte na região”, diz a Rhodia em comunicado.
A empresa não divulgou estimativa de prejuízo causado pelo rodízio. Na última quinta-feira (30), foi anunciada a retomada na produção das quatro unidades atingidas, “por conta do aumento da disponibilidade de água que capta do rio Atibaia”.
A Fiesp afirma que tem crescido o número de indústrias do estado que buscam autorização para obter água de fontes alternativas, mas Reis diz há "dificuldades para obter as licenças" necessárias com o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE). O DAEE diz em nota que “analisa caso a caso os pedidos de outorga, independentemente do atual período de estiagem”.
Entre as indústrias que realizaram pedidos estão empresas das regiões de Campinas, Alto Tietê, Turvo Grande e São José dos Dourados, segundo o Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).
A Fiesp ainda não possui estimativa de prejuízos às indústrias, mas Reis afirma que a preocupação do setor é perceptível. “Dia a dia a gente está recebendo mais ligações de empresas querendo saber como é que vão ficar. No qualitativo a gente percebe um grande estresse da indústria de uma maneira geral”, diz.
Segundo dados do Ciesp e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgados em julho, pesquisa com 413 indústrias do estado revelou que 54,5% delas não possuem fonte alternativa de água, enquanto 21,8% possuem. Outras 20,8% não dependem do sistema de abastecimento de água.
Outros setores
No setor de agronegócios, a seca já causou prejuízo de pelo menos R$ 30 milhões a produtores de grãos, segundo o presidente do Conselho de Logística e Infraestrutura da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Renato Pavan, por causa da paralisação da hidrovia Tietê-Paraná. Com a baixa vazão do rio em alguns trechos, cerca de 2 milhões de toneladas de grãos precisaram ser transportadas em rodovias, gerando um custo a mais de R$ 15 por tonelada ao produtor.
Há empresas de outros setores contabilizando prejuízos. A Irrigatec Paisagismo, de Osasco, viu o número de instalações de sistemas de irrigação em jardins residenciais cair de aproximadamente 80 em 2013 para apenas um em 2014. Esse tipo de serviço representa cerca de 15% do faturamento da empresa, que também instala sistemas em campos de futebol e golfe, além de prédios corporativos.
Para reverter o quadro, a Irrigatec está procurando reforçar o oferecimento de serviços que aumentem a economia de água na irrigação, Segundo o proprietário, Danny Braz. "A gente está indo nos sistemas antigos e oferecendo reprogramação, para ter menos tempo [de irrigação], ou oferecendo reformas para gente que queira trocar por um gotejamento mais eficiente."
Em Campinas, a Sóagua, que atua no segmento de distribuição de água potável e aluguéis de caminhões-pipa, não ficou sem o recurso porque possui poço artesiano. A empresa informou que a demanda doméstica aumentou durante os dias de racionamento na cidade, mas os pedidos da indústria e do comércio, por outro lado, diminuíram por desaquecimento do comércio e da indústria na região.
G1 SP
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