quarta-feira, novembro 26, 2014

Nova tecnologia, barata e rápida, identifica a presença do agrotóxico na água, terra e até no alimento

Metamidofós: uma gota pode matar um homem adulto

Seis milhões de litros. É o volume usado em 2010 do inseticida metamidofós em lavouras mato-grossenses. Ele está no topo de duas listas: o segundo mais utilizado no estado e na classe mais perigosa à saúde. Uma gota pode matar um homem adulto. O contato com o agrotóxico pode causar paralisias, convulsões, perda de memória e levar até ao desenvolvimento do Mal de Alzheimer.

Desde 2012 seu uso foi proibido, mas ele permanece no ambiente por 10, 20 anos, atingindo terra, água, plantas e animais. Incluindo o Homem. Além disso, muitos outros defensivos agrícolas ainda ajudam a sustentar a economia do maior produtor de soja do país.

E do centro deste problema de saúde pública começam a surgir soluções. Izabela Gutierrez, em seu mestrado na Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT], desenvolveu uma tecnologia barata e rápida para identificar a presença do agrotóxico na água, terra e até no alimento. Antes disso, os estudos precisavam ser feitos em laboratórios na região sudeste. Isso levava dez dias. Com a invenção da cacerense, o teste sai em 30 minutos.

O perigo deste agrotóxico é que ele bloqueia uma enzima no cérebro, atrapalhando as sinapses, que são os pulsos elétricos que fazem o cérebro controlar tudo. Normalmente, esta enzima quebra algumas moléculas, gerando íons. Mas o pesticida se gruda, segura a enzima e não a deixa trabalhar. As moléculas que deveriam ser quebradas acabam se acumulando, e começa o problema.

Mas foi justamente isto que o entregou. Utilizando a mesma enzima em uma fita, é possível ver a ação do metamidofós. Se ele estiver ali, a enzima não vai trabalhar. E se ela não trabalha, vai diminuir produção de íons do mesmo jeito que acontece no cérebro. Daí é só medir e… pimba! Teste feito.

Mas será que é fácil assim medir? Pior que sim. Os íons causam uma mudança de acidez, do pH. E medidor de pH já existe há um bom tempo. O objetivo agora é compactar os equipamentos de leitura de precisão para algo semelhante a um medidor de diabetes, barato e que caiba no bolso. Alguns estudos já estão sendo feitos nos laboratórios do campus de São Carlos da Universidade de São Paulo [USP-SC]. Segundo o orientador da dissertação e professor da UFMT, Romildo Ramos, isso é perfeitamente realizável. Só falta o investimento do setor público ou privado para alavancar o processo.


Fonte: EcoDebate

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