Maria Brandão morreu após fazer aplicação de hidrogel
A gerente da empresa Rejuvene Medical, responsável pelo Aqualift no Brasil, disse ao G1que vai aguardar o laudo do Instituto Médico Legal (IML) para se pronunciar. No site do produto, há informação de que o hidrogel possui o “devido registro” na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A assessoria de imprensa da Anvisa informou que não tinha como confirmar a autorização para a comercialização do gel, pois o órgão não está funcionando nesta terça-feira (24) devido ao feriado dos servidores públicos.
Amiga da vítima, Aracyelly Santos explicou que Maria conheceu a biomédica, que mora em Catalão, no sudoeste goiano, pela internet, onde ela faz anúncios do trabalho dela. “É uma pessoa muito persuasiva, convence do trabalho dela”, disse.
Conforme a família, a biomédica sempre vem à capital para fazer aplicações do Aqualift. Para isso, de acordo com parentes da vítima, ela aluga salas em hotéis e clínicas de beleza.
A amiga disse que Maria não gostou do resultado da primeira sessão, feita em um hotel da capital, pois o bumbum ficou inchado. Por isso, 15 dias depois, ela resolveu fazer uma nova aplicação do produto para correção. Logo após passar pelo procedimento, na manhã do dia 24, Maria começou a passar mal quando já estava em casa. Segundo a família, ela estava com falta de ar e dor de cabeça.
Maria foi encaminhada ao Centro de Assistência Integral à Saúde (Cais) do Setor Vila Nova. Em seguida, a levaram para o Hospital Jardim América, onde foi internada, na sexta-feira, na Unidade de Terapia Intensiva. Segundo a família, Maria morreu por volta das 5h de sábado com quadro suspeito de embolia pulmonar, mas a causa da morte só será confirmada pelo laudo do IML, que deve ser concluído na próxima sexta-feira (31).
Aracyelly relatou que Maria era uma pessoa que frequentava academia e gostava de se cuidar. A amiga conta que a família está muito abalada. “Ninguém esperava que isso pudesse acontecer. Vamos tomar todas as providências cabíveis”.
Investigação
O boletim de ocorrência foi registrado por familiares da vítima ainda no sábado, no 8º Distrito Policial de Goiânia. Na segunda-feira (27), o caso foi transferido à Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH).
Segundo a delegada responsável por apurar a causa da morte, Tatiana Barbosa, ela deve ouvir familiares da vítima nesta semana e, posteriomente, a suposta biomédica. A polícia também aguarda o resultado de laudo do IML.
Tatiana explicou que vai investigar se a suspeita tinha autorização para fazer o procedimento. “Temos que averiguar se ela tem qualificação para realizar o ato, o que ocorreu durante o procedimento. Confirmando o erro, ela vai ser indiciada por homicídio culposo”, disse.
Ato exclusivo de médicos
Membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e conselheiro do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Luiz Humberto Garcia de Souza explicou ao G1 que o procedimento invasivo no glúteo é delicado e só pode ser realizado por médicos devidamente qualificados.
“Independente de qualquer coisa, é certo que o Ato Médico veta este tipo de procedimento feito por profissional não médico. Esse procedimento de natureza invasiva deve ser indicado e realizado apenas por médico. Essa senhora, ao fazer isso, exerceu um ato médico sem estar habilitada para tal. Portanto, é um caso de charlatanismo, de exercício ilegal de medicina”, informou.
Luiz Humberto disse ainda que não tinha conhecimento sobre o produto utilizado pela biomédica até o último domingo (26), quando soube da morte de Maria, por isso não sabe se o Aqualift já havia sido devidamente testado. “Toda vez que surge um produto novo, tem que ser submetido a um estudo científico, tem que ser verificada a biocompatibilidade, se não causa alergia, se não é oncogênico, ou seja, se não pode gerar câncer, se não migra para outros locais do corpo e reações de toda a natureza. Não é que não deva ser aplicado, mas desconheço esse produto”, afirma.
De acordo com o especialista em cirurgia plástica, há uma grande possibilidade de a paciente ter tido embolia pulmonar em virtude da aplicação no glúteo. “Esse produto é um gel muito articulado, são partículas muito pequenas que têm facilidade de penetração vascular e que podem ser levadas em um volume massivo para a árvore venosa do pulmão, gerando um caso gravíssimo de embolia pulmonar”, conclui.
Por Paula Resende
Do G1 GO
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