sábado, outubro 25, 2014

Dilma e Aécio: Discutindo aparência e essência, artigo de Dion Monteiro


No plano ambiental, nenhum governo pós-ditadura (1964-1985) implementou políticas tão agressivas para a Amazônia e seus povos como os governos do ex-presidente Lula, intensificado pela presidente Dilma. A retomada do projeto desenvolvimentista, não mais nacional-desenvolvimentista, mas agora liberal-desenvolvimentista, pois mantém a essência econômica neoliberal do governo FHC (PSDB), submete hoje, novamente, as regiões ricas em bens naturais (vegetais, minerais e agora hídricos) a uma pressão incomensurável.

Marx é certamente um dos autores mais lembrados quando o tema em questão são os conceitos de aparência e essência. Abordando estes conceitos a partir dos aspectos econômicos, o criador de “O Capital” indica, nesta e em outras obras, que olhar para a aparência, pura matéria transformada, não revela o mistério da exploração humana e da acumulação de capital.

Sendo uma falsa verdade, a aparência conduz o ser para a alienação, outra categoria intensamente trabalhada pela teoria marxiana, deixando assim (homem e mulher) de ser e transformando-se naquilo que outros querem que eles sejam.

Enquanto conceitos, essência e aparência apresentam uma relação dialética, demandando, pois, uma visão do todo. Platão no livro VII de “A República”, apresentando passagem também conhecida como “O Mito da Caverna”, trabalha elementos pertinentes à dialética como caminho para que se possa chegar, através do conhecimento, a essência das coisas e dos seres.

Para Hegel, tanto na “Fenomenologia do Espírito”, quanto na “Ciência da Lógica”, o conceito de totalidade é essencial, sendo então a expressão da verdade. Dessa forma, não se conhece a essência sem conhecer e compreender o todo. A diferença entre Hegel e Marx é que para o primeiro a aparência é um momento da essência, sendo parte do caminho para que se chegue até a verdade. Marx afirmava que a aparência nada mais é que uma falsa consciência, levando o ser para uma permanente alienação.

Poucas vezes verificou-se no Brasil um processo eleitoral onde os conceitos de aparência, essência, dialética, alienação, totalidade, conhecimento, estivessem presentes de forma tão plena. O debate que não se faz, decodificando os candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves, tem limitado definitivamente a compreensão sobre estes e o que de fato cada um deles representa.

A insistência por parte de alguns setores que, de todas as formas, tenta caracteriza-los como representantes de projetos antagônicos, na maioria dos casos carece de aprofundamento e fundamento, de um debate que de fato considere a totalidade dos aspectos sociais, econômicos, ambientais, políticos, entre outros. Preferindo, deliberadamente, a forma da aparência que o conteúdo da essência.

No plano econômico, Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT, mantiveram as bases macroeconômicas implantadas pelo Plano Real no ano de 1994, por Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

A “Carta ao povo brasileiro”, lançada pelo PT durante a campanha de 2002, já naquele momento desvelava a essência que insiste oculta pela aparência forjada e forçada, apresentando praticamente os mesmos elementos que naquele momento caracterizavam o modelo econômico do governo de FHC: aumento das exportações; balança comercial superavitária; controle das contas públicas; respeito aos contratos e obrigações do país; aumento da competitividade econômica; preservação do superávit primário, entre outros. Estes elementos, somados a taxas de juros elevadas e controle de metas de inflação, completam esta caracterização. Aécio Neves (PSDB) já afirmou que, caso vença esta eleição, trabalhará em um tripé constituído de: superávit nas contas públicas, taxa de câmbio flutuante e metas de inflação. Alguma grande diferença?


Publicado no Portal EcoDebate

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