Atualmente, ela opera com apenas duas das sete turbinas. Com capacidade total de 396 megawatts/hora (MWh) e responsável por quase um terço de toda a geração de energia do São Francisco, Três Marias tem em sua barragem apenas 4,5% do seu volume de água. Trata-se do nível mais crítico desde a inauguração, em 1962.
A água da represa baixou tanto que hoje é possível caminhar em parte do fundo da barragem, onde o cenário é de árida desolação. Onde antes os turistas se reuniam para avistar o “mar doce”, como alguns chamam Três Marias, não há uma gota d’água. O pier flutuante que ficava na margem está encalhado na poeira, longe da costa, rumo ao que deveria ser o fundo da água. A longa cerca erguida para isolar a usina, antes oculta sob as águas, emergiu totalmente e agora tem fim.
Na última quinta-feira, a água liberada pela usina foi reduzida de 150m3/s para 140m3/s, com o objetivo de garantir o nível mínimo do Rio São Francisco e preservar o reservatório, que está com apenas 4,4% da capacidade máxima. A decisão foi tomada em reunião da Agência Nacional de Águas (ANA), com a participação de representantes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Cemig, da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) e de outros órgãos.
Alerta
O risco de paralisação da Usina de Três Marias foi mencionado em um documento divulgado pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, entidade que monitora toda a região influenciada pelo rio. De acordo com a entidade, Três Marias tende a atingir no final de outubro, mais tardar no início de novembro, o “volume zero”, ou “volume morto”, como se convencionou falar.
“A represa ainda terá água, mas numa quantidade insuficiente para gerar energia”, explica Márcio Tadeu Pedrosa, coordenador do comitê responsável pelo Alto São Francisco, o trecho que corta o estado a partir da nascente.
Segundo Tadeu, o problema ocorre porque hoje a barragem, que funciona como uma caixa d’água, despeja rio abaixo muito mais água do que recebe do rio acima. Como a seca castiga o São Francisco desde a nascente, pouco mais de 30 metros cúbicos por segundo entram em Três Marias atualmente, mas na outra ponta estão sendo liberados cerca de 150 metros cúbicos por segundo.
A Cemig, empresa que tem a concessão da usina de Três Marias até 2015, foi reduzindo a geração ao longo do ano, desligando uma turbina de cada vez, à medida que a seca restringia a água. A falta de Três Marias sobrecarrega o sistema elétrico e precisa ser coberta por outras usinas hidrelétricas, térmicas e eólicas.
No entanto, a produção hoje é tão pequena, que já não é considerada fundamental no atual estágio da seca. “A Cemig acredita que pode manter a geração com a água próxima de zero, mas deixou se ser relevante se Três Marias vai ou não gerar energia porque ela está produzindo muito pouco”, diz Hermes Chipp, diretor geral do Operador Nacional do Sistema, o ONS, responsável pela gestão da energia no Brasil. “Operamos a usina pensando nos demais usuários e usinas que dependem da água rio abaixo.”
Depois de Três Marias, o Rio São Francisco continua seu curso pelo Norte de Minas e por outros seis Estados, abastecendo a agropecuária e a população de mais de 400 municípios, bem como outras cinco hidrelétricas, incluindo as de Xingó, entre Alagoas e Sergipe, o complexo de Paulo Afonso e a usina de Sobradinho, na Bahia, essenciais ao abastecimento de energia do Brasil.
O ONS defende reter um volume maior de água na barragem neste momento para que possa ter instrumentos para manter o abastecimento rio abaixo nas próximas semanas. “Para o setor elétrico, o importante é monitorar a água de Três Marias para garantir que Sobradinho chegue a final de novembro com 15%”, diz Chipp. Hoje, o reservatório da usina baiana tem 27,5% de água.
Com informações da Agência Estado
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Blog de Assis Ramalho
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