Por um lado, significa que nossas crianças e jovens estudam num sistema educacional cheio de falhas e ineficaz. Não adianta explicar a violência na escola só em função do entorno em que os alunos vivem. Isso conta, mas o fato é que o país não atualizou o ensino e, em plena cibercultura, mantém um modelo educacional do século passado.
Nesse sistema, o magistério é tão mal remunerado que não atrai talentos. Os que ingressam na profissão não recebem a preparação adequada, começam a lecionar sem experiência e têm dificuldade para conquistar os estudantes. Os alunos não se interessam pelo que é ensinado e a didática não é atraente. Ficam desmotivados, hiperativos, indisciplinados.
Para controlar a turma, muitos professores tentam manter a ordem, o que, dependendo da forma, gera revolta. A sala de aula se converte num campo de batalha. Professores adoecem. Milhares abandonam a profissão. Prova Brasil e Enem mostram que, a cada ano, poucos alunos aprenderam o que deveriam.
Ao mesmo tempo, esse desonroso resultado também significa que muitos jovens não estão aprendendo, em casa, aspectos básicos para o convívio social, como urbanidade, respeito, cortesia, civilidade. E estão aprendendo pouco sobre o valor da educação.
Na Coreia do Sul, o índice de violência relatado pelos mestres é zero. Isso não acontece apenas porque o país valorizou a carreira docente, mas sobretudo porque em casa, desde cedo, as crianças aprendem a importância da escola e o respeito pelos que ensinam.
É verdade que esse fenômeno não ocorre só no Brasil. Por exemplo, no México, a Comissão Nacional de Direitos Humanos e o Sindicato de Trabalhadores da Educação acabam de lançar um documento que adverte sobre a violência que os professores vêm sofrendo por parte dos alunos, citando: ameaças, insultos, roubos, danos a seus carros, bullying pela internet, empurrões, socos. Fatos similares ocorrem na Argentina, Espanha, Uruguai, por citar alguns. Isso não deveria ser um consolo. Alguns estados brasileiros passaram a colocar policiais dentro das escolas. Essa não deveria e não pode ser a única solução possível.
Pobre do país que despreza seus próprios mestres. Serão os tablets a solução mágica? Recursos tecnológicos armazenam muitos conteúdos, mas não podem ensinar valores, promover posturas de vida, formar agentes de mudança social.
Se os pais brasileiros desejam uma educação de qualidade para seus filhos, não deveriam lidar com agressões contra professores como se fosse normal. A violência crescente contra os mestres é sinal de colapso iminente no sistema educacional. Os pais precisam se envolver nas discussões sobre as melhorias necessárias nas escolas. Acompanhar a implantação do Plano Nacional de Educação. Seja qual for o candidato eleito, cobrar uma gestão qualificada da rede escolar. A cobrança da sociedade pode conquistar políticas educacionais mais continuadas e efetivas.
Os pais que têm filhos em idade escolar deveriam ficar atentos ao exemplo que dão quando falam dos mestres. Não tirar a autoridade deles na frente das crianças. Isso não significa que os estudantes precisam obedecer cegamente, eles sempre devem expressar o que pensam. E os pais sempre podem apresentar queixas na escola. Mas precisam ensinar uma postura de colaboração na sala de aula. Dos gestores escolares, exigir que o professor seja bem preparado, competente e valorizado.
É nas crianças e nos jovens em formação que está o país que podemos ser. Mas não se enganem, é urgente: antes, há que cuidar de quem os forma.
Fonte: Andréa Ramal no G1 Educação
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